minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    ILUSTRAÇÃO: PAULA CARDOSO

questões da República

O debate traduzido para o mercado financeiro

Em pesquisa para bancos, Ciro foi apontado como o candidato mais simpático, e Bolsonaro, o mais alvejado; piauí acompanhou o programa em consultoria que monitora redes sociais para as instituições

Josette Goulart | 10 ago 2018_12h42
A+ A- A

Horas depois do fim do primeiro debate presidencial, na Band, instituições do mercado financeiro receberam em seus computadores uma análise das principais conclusões da noite. O tom moderado do confronto, segundo as informações repassadas aos bancos, ajudou pouco na definição de votos de eleitores indecisos, mas o programa serviu, pelo menos, para indicar as posições dos candidatos em relação aos outros.

A piauí acompanhou o debate na sede da Ideia Big Data, que monitora para oito bancos e consultorias financeiras o que acontece nas redes sociais sobre as eleições deste ano. Feito com base nas impressões de 900 eleitores indecisos e monitoramento de 5 milhões de postagens no Twitter, Facebook, blogs, Google Notícias e YouTube, o relatório final é sigiloso e em linhas gerais tenta traduzir aos bancos o desempenho dos candidatos na campanha, o que pode afetar o mercado financeiro do dia.

Nas telas de uma das salas da empresa – que um dos sócios chama de “sala de guerra” –, em São Paulo, rodava um app que perguntava aos indecisos as impressões sobre o desempenho dos candidatos, em tempo real. Quem é o mais simpático? Justamente o candidato que tem sido marcado como o mais temperamental ganhou o destaque: Ciro Gomes, do PDT. Ele foi poupado pelos oponentes e arrancou risos ao responder perguntas do candidato Cabo Daciolo, do Patriota. Daciolo era o mais desconhecido e ao terminar o debate passou a ser o mais rejeitado entre esses eleitores.

Jair Bolsonaro, do PSL, foi considerado o alvo preferencial dos ataques entre os postulantes. Geraldo Alckmin, apontado como o preferido do mercado financeiro, foi quem se saiu melhor no primeiro bloco, único momento em que esta pergunta foi feita enquanto a piauí pôde acompanhar. Álvaro Dias, do Podemos, também foi bem no começo do debate, para os participantes da pesquisa. Entre os candidatos que os eleitores nunca tinham visto em um debate, Guilherme Boulos, do PSOL, foi considerado o mais surpreendente. Marina Silva, da Rede, e o emedebista Henrique Meirelles se destacaram pouco, não foram nem os mais, nem os menos citados nas respostas.

As pesquisas feitas pela Ideia para os bancos são semanais e vão passar a ser diárias a partir de 15 de agosto, quando as candidaturas estarão registradas no Tribunal Superior Eleitoral. Cerca de 700 mil usuários compõem a base de dados do aplicativo desenvolvido pela empresa, o Alexandria. Durante o primeiro debate, o corte foi feito com 2 mil usuários de todo o país, escolhidos proporcionalmente ao colégio eleitoral brasileiro. Permaneceram na pesquisa os 900 que se disseram indecisos. “Queríamos tirar as torcidas da nossa amostra para termos um melhor conhecimento sobre como esses indecisos podem definir o voto”, disse Maurício Moura, fundador da consultoria.

 

Aos poucos, à medida que a hora avançava, o app Alexandria perdia eleitores para o sono. No fim do debate, só representantes das classes A e B ainda estavam plugados, em sua maioria jovens. “Este é um problema dos debates mais importantes”, disse Moura. “Eles são pouco democráticos porque não chegam às classes C, D e E, que dormem mais cedo porque acordam de madrugada.”

Ele tem experiência em eleições. Trabalhou na campanha de Dilma Rousseff em 2009 e na de Aécio Neves em 2013, e, mais recentemente, nas eleições presidenciais mexicanas. No México, “teve sangue”, segundo Moura, se referindo à divulgação intensa de notícias falsas. Ele afirma não haver estudos específicos sobre o impacto das redes nas eleições no país – o candidato eleito López Obrador foi um dos mais atacados. Para tentar avaliar o impacto em um dos candidatos populares nas redes, sua empresa criou o “Bolsonômetro”. Na semana passada, após as entrevistas no Roda Viva e na GloboNews, ele recebeu um impulso nas redes. “Quem não acredita que as redes sociais vão influenciar as eleições, não entendeu ainda como funcionam fenômenos como o de Bolsonaro”, disse, atribuindo os índices de intenção de votos ao desempenho nas redes.

O grau de interesse despertado também foi alto no primeiro debate. O Google informou que no horário do programa, entre 22 horas de quinta e 1 hora de sexta, as buscas por Bolsonaro chegaram a 69% em relação aos outros participantes do debate, seguido por Ciro Gomes, com 12%. No Twitter, as hashtags #debateband e #estoucomBolsonaro foram trending topics mundiais. Ciro gerou memes nas redes pela resposta de espanto a uma pergunta de Cabo Daciolo sobre a “Ursal, União das Repúblicas Socialistas da América Latina”, recebida com risos no estúdio.

No mapa da popularidade nas redes feito pela Ideia Big Data, o ex-presidente Lula, candidato pelo PT, aparece com o mesmo peso de Bolsonaro. Lula não participou do debate por estar preso e por isso não estava na pesquisa, mas seu desempenho nas redes foi monitorado. O debate paralelo feito por sua equipe teve audiência de cerca de 7,5 mil visualizações ao vivo – o debate da Band, por sua vez, teve um pico de 7,5 pontos de audiência, segundo a emissora, ou 1,5 milhão de telespectadores. No YouTube, a emissora registrou o recorde de uma transmissão ao vivo no Brasil, com 390 mil visualizações simultâneas.

A cobertura jornalística dos cinco principais candidatos à Presidência ganhará mais relevância a partir de agora, segundo Moura. Entre os cinco mais bem colocados nas pesquisas, dois candidatos, Marina Silva tem 16 segundos e Bolsonaro, 12 segundos de tempo na propaganda eleitoral. Por isso, ele acredita que o espaço que o Jornal Nacional dará aos candidatos será primordial e deverá afetar pesquisas, mais do que o próprio horário político.

Com base na relação entre eleitores com candidatos definidos e indecisos no aplicativo Alexandria, Moura estima que a eleição termine com 35% de votos nulos ou em branco. “Mas as redes sociais podem ajudar a mudar esse panorama, e personalidades da rede influenciarão nisso”, disse. No começo do debate, por volta das 23 horas, a cantora Anitta apareceu nos monitores do Idea Big Data. Com 7,3 milhões de seguidores no Twitter, ela convocava seus fãs. “Só vim pedir aos jovens que me seguem que assistam ao debate e com ele pesquisem bastante sobre nossas eleições, sobre os candidatos, para que façam um voto consciente”. Em poucos minutos, ela figurava ao lado de Ana Paula do vôlei e do BlogdoPim entre os autores das postagens mais retuitadas da noite, junto também dos filhos de Bolsonaro, Eduardo e Flávio.

 

Assine nossa newsletter

Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí