Depois do “por minha família”, do “por Deus” e do “por meus filhos”, a mensagem mais frequente nos discursos dos deputados no microfone do impeachment foi o ataque a Eduardo Cunha. “Cunha, a sua hora vai chegar”, disse o mineiro Júlio Delgado, do PSB, ao votar sim. Neste dia seguinte, o futuro de Cunha é uma das grandes interrogações da política, assim como a capacidade do vice-presidente Michel Temer de montar um governo de transição que seja, como ele mesmo sugere, de salvação nacional. Um dos observadores mais atentos e interessados do cenário, o senador Delcídio do Amaral, aposta que os próximos dias serão tumultuados. “O PT e o governo vão para cima de Cunha e Temer com todas as suas armas. Não vão sossegar enquanto não conseguir derrubá-los.”
Pesa sobre a dupla, ainda, a sombra da Lava-Jato. Não é só o impeachment que prossegue, mas também as delações premiadas continuam a toda. Cunha pode se enrolar ainda mais, e até mesmo os aliados ocasionais temem que o vice-presidente acabe alvejado por uma denúncia, e num futuro bastante próximo. Por isso, demonstram certa reticência em fazer parte de um eventual governo Temer. Os tucanos, cortejados diuturnamente pelo vice, estão divididos. Aécio Neves se faz de morto, enquanto Serra sinaliza boa vontade, por considerar que essa pode vir a ser sua chance de repetir a trajetória de Fernando Henrique Cardoso, eleito presidente depois de comandar o ministério da Fazenda de Itamar Franco no governo de transição. Ambos medem prós e contras enquanto esperam o desenrolar dos acontecimentos.
Recluso em sua licença e observando atentamente a tensão reinante, o senador Delcídio do Amaral calcula suas chances de escapar da cassação, que deve ser votada em algum momento entre maio e junho. Considera que o impeachment o favorece, mas sabe que será difícil manter o cargo. “Os pesos e as medidas em Brasília estão muito desiguais. Enquanto gente como Aloizio Mercadante tenta obstruir a Justiça e não acontece nada, Dilma deve ser impichada por um crime de pedaladas, e outros, como o Aécio, estão na berlinda por denúncias feitas na base de ouvir falar”, diz o delator-mor da República. Delcídio e Mercadante sempre tiveram diferenças, mas a coisa se transformou em inimizade figadal depois que o ministro tentou oferecer a Delcídio ajuda em troca de silêncio. Se há algo certo, portanto, é que no Planalto, no dia seguinte, todos jogam xadrez. E ninguém move uma palha sem antes buscar antecipar os movimentos dos adversários.