Ocasionalmente, grandes artistas podem também utilizar seu talento no desenho para fins práticos, ou mesmo prosaicos, muito distantes do exercício habitual de sua arte.
Alexander Calder, o maior escultor americano do século XX, foi também um desenhista notável. Ainda que sua fama se deva em grande parte aos famosos móbiles (e stábiles) de diversos tamanhos que fazem parte hoje dos acervos dos mais importantes museus e coleções particulares do mundo, suas obras sobre papel tem sido reavaliadas nas últimas décadas e também gozam hoje de estima considerável.
Nesse contexto, a carta de 1960 reproduzida nesta página é duplamente curiosa. Permite admirar a poderosa grafia do artista, cuja letra assume uma dimensão ampliada pelo uso de canetas de ponta grossa, mas é também uma carta "ilustrada", pois exige de Calder um desenho preciso do local de sua casa onde quer que seu encanador francês instale um novo aquecedor. Sempre preocupado com a execução esmerada, mesmo para um desenho de objetivo concreto e imediato, Calder escolhe usar canetas preta e vermelha, e adiciona o lápis para inserir na carta um desenho, teoricamente apenas utilitário, ao qual o artista confere um valor estético.
O aspecto final é de uma página extremamente bem resolvida. É como se não se tratasse apenas de uma indicação precisa para seu encanador, mas sim de uma obra de arte acabada, aliando o traço à escrita.