Robert Stroud certamente faz parte dos mais famosos criminosos americanos do século XX. Não é o número de seus assassinatos que o destaca, pois matou “apenas” dois homens ? enquanto “serial killers” matam dezenas ?, mas as circunstâncias excepcionais de sua detenção, ao longo de 50 anos. Após ter assassinado, aos 19 anos, um homem que supostamente queria violentar sua namorada, Stroud foi condenado à morte em 1910, conseguiu apelar, ganhou perpétua, apelou de novo e voltaram a condená-lo à morte.
Uma petição ao presidente dos Estados Unidos o salvou, mas o assassinato de um guarda na prisão voltou a colocá-lo no corredor da morte. Um novo imbróglio judicial envolvendo a Suprema Corte dos Estados Unidos acabou por condená-lo definitivamente à prisão perpétua. Prisioneiro turbulento e tido como psicopata irrecuperável, Stroud encontrou por acaso, perto de sua cela, um ninho de pardais e curou as aves. Mais tarde, foi autorizado a ter canários na cela e tornou-se especialista em suas doenças. Chegou a ter 300 canários, para desespero da administração carcerária, já incomodada pela publicidade que a paixão de Stroud suscitava nos jornais (e que impedia que fosse simplesmente eliminado o privilégio de um prisioneiro que se tornava famoso).
Em 1933, Stroud chegou a publicar uma obra científica respeitada, , e sua reputação como ornitólogo foi crescendo. Em 1942, decidiu-se transferi-lo para a famosa prisão de Alcatraz, de segurança máxima, aquela da qual se dizia que “ninguém escapava”, e Stroud foi temporariamente proibido de manter seus pássaros.
É de sete anos mais tarde a carta reproduzida nesta página, dirigida à sua irmã Mamie e assinada “Bob – Robert Stroud, número 594”. Nela Stroud preocupa-se com uma conta de poupança que fora aberta para ele quando criança e que pode ter agora uma quantia apreciável, da qual sua irmã pode se beneficiar.
A carta faz parte da imensa correspondência que Stroud manteve a partir da prisão, com uma letrinha meticulosa que fascinou gerações de grafólogos.
A história de Stroud resultou em 1955 no livro Birdman of Alcatraz (O homem dos pássaros de Alcatraz) que deu origem, em 1962, a um filme bem sucedido, chamado no Brasil de O homem de Alcatraz, estrelado por Burt Lancaster.
Stroud não foi autorizado a ver o filme e morreu, aos 73 anos, pouco após sua estreia, sem nunca ter conseguido convencer o sistema judiciário americano a libertá-lo.