Governada por JosipTito desde o fim da Segunda Guerra Mundial até 1980, quando o marechal bateu os coturnos, a Iugoslávia se estilhaçou a partir da década seguinte, quebrando a unificação sempre mantida na marra e dando origem às repúblicas independentes da Sérvia, Macedônia, Croácia, Montenegro, Bósnia-Herzegóvina, Eslovênia e Kosovo, essa última ainda não reconhecida pela Sérvia.
No cinema, um belo filme pra gente começar a se interessar pela confusão étnica na região é , do diretor macedônio Milcho Manchevski. No futebol, o embrulho originou a curiosa situação do meia Stankovic – único jogador do mundo que disputou três copas por três seleções diferentes: a da Iugoslávia, a da Sérvia-Montenegro e a da Sérvia sem Montenegro.
Se a história dos povos dos Balcãs é fascinante, no futebol eles nunca foram grandes coisas. Juntos e misturados, a melhor colocação em copas foi o terceiro lugar da Iugoslávia em 1930. Separados e com o Marechal Tito se revirando no túmulo, a Croácia ficou em terceiro em 98, quando enfiou três a zero na sempre poderosa Alemanha nas quartas de final e chegou a abrir o placar contra a França na semi, mas tomou a virada.
Não há chance da história se repetir, porque o time hoje é bem mais fraco. Tem o ótimo meio-campista Modric, do Real Madrid, e o conhecido atacante Mandzukic, do Bayern, mas ele é o tipo de centroavante que não faz a cabeça deste blog. E, pelo visto, nem a do Bayern, que acaba de gastar uma grana preta para tirar Lewandowski do Borussia Dortmund.
Um dos titulares absolutos não virá à Copa: pego no flagra entoando cânticos nazistas depois do jogo em que os croatas garantiram sua classificação, o zagueiro Simunic foi suspenso por dez jogos. Não custa lembrar que a Croácia se classificou, na repescagem, com um empate e uma vitória sobra a Islândia, país que talvez não tenha onze caras que joguem bola e até a Bjork deve entrar em campo.
Se não vai ter Simunic, provavelmente a Croácia terá o atacante brasileiro Eduardo da Silva, o que não deve adiantar muita coisa. Não que seja mau jogador, mas é pouco. Nascido na zona oeste do Rio de Janeiro e descoberto por um empresário na Taça das Favelas, aos 16 anos Eduardo foi direto de Vila Kennedy para Zagreb. Uma história semelhante à de milhares de adolescentes brasileiros pobres e bons de bola, só que uma das poucas a dar certo.
Agora, duas ou três coisas que sei sobre a seleção da Bósnia-Herzegóvina. Primeira: fez uma excelente campanha nas eliminatórias, o que só tem importância se esquecermos que os adversários foram a Grécia de Demis Roussos, Eslováquia, Lituânia, Letônia e Liechtenstein. Segunda: o atacante Dzeko, do Manchester City, é bem bom. Terceira: o treinador Safet Susic anunciou que proibirá seus jogadores de fazer sexo durante a Copa do Mundo. Mas isso precisa ser relativizado, já que a proibição se limita a namoradas ou esposas e a Bósnia-Herzegóvina jogará no Rio e em Salvador. Duas cidades em que é mais fácil comprar sexo do que biscoito Globo e acarajé.
Na primeira rodada da Copa, é certo que a Bósnia-Herzegóvina será a seleção estrangeira com maior número de torcedores a seu favor, já que enfrenta a Argentina. Depois a vida fica menos dura: Nigéria em Cuiabá (se é que é mole para alguém jogar futebol em Cuiabá) e Irã na Fonte Nova. A coisa complica de verdade nas oitavas, pois deve pegar a França. Mas não sei não: em jogo único e mais uma vez com duzentos milhões em ação, dá para encarar.
De qualquer modo, quem vai torcer por Croácia ou Bósnia-Herzegóvina deve cruzar os dedos e rezar para que junho chegue depressa. Porque até lá há tempo de sobra para mais três ou quatro etnias declararem independência e as duas seleções entrarem em campo bastante desfalcadas.
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