Não vou fazer a tradicional seleção do goleiro ao ponta-esquerda, como se dizia nos tempos em que havia ponta-esquerda. (Se algum leitor quiser escalar sua seleção, sinta-se à vontade para usar a caixa de comentários, e aí conversamos lá.) Vou, apenas, destacar jogadores, lances e fatos que me impressionaram – para o bem e para o mal – nos últimos 32 dias.
Começo pelos melhores. Começo por Neuer. O goleiro alemão não voa, não faz pontes eletrizantes, aposta na colocação e na seriedade. Que eu me lembre, Neuer fez apenas uma defesa decisiva, nos últimos minutos do jogo com a França, que Alemanha venceu por um a zero. Mas é um desespero, para qualquer atacante, enfrentar um goleiro como ele. O cara tem a sensação de que só a conclusão perfeita é capaz de vencê-lo, o que talvez explique os gols que Higuaín, Palácios e mesmo Messi perderam ontem.
A simplicidade e a eficiência da dupla de zaga Boateng e Hummels. A visão de jogo de Modric. A elegância de Pogba. O monstro chamado Schweinsteiger. Os contra-ataques de Robben.
O corta-luz de Pirlo no gol de Marchisio, contra a Inglaterra. O gol de cabeça de Van Persie contra a Espanha, o de Cahill contra a Holanda e os dois de James Rodrigues contra o Uruguai. A jogada de Schurrle – que é um atacante meio cabeçudo – e a perfeita conclusão de Mario Gotze no gol do título.
O sentido coletivo e o inabalável equilíbrio da seleção alemã. A consciência tática da nova seleção chilena. Santa Cruz de Cabrália. A dancinha pataxó dos jogadores alemães em torno da taça.
A segunda camisa mais bonita da Copa foi a da Argentina no jogo de ontem. (A primeira, claro, a que a seleção alemã usou no massacre de sete a um.)
As opiniões econômicas e precisas de Juninho Pernambucano, ótima revelação de comentarista. O clipe com a equipe da ESPN dançando , de Pharrell Williams, para celebrar a que foi, de longe, a melhor cobertura jornalística da Copa. E, por fim, Fernanda Gentil. Futebol não é tudo na vida.
Passemos ao que vi de pior.
Casillas. Falhou feio nas duas derrotas que eliminaram precocemente a seleção espanhola. Aliás, por justiça, toda a seleção espanhola.
As seleções da Itália, com exceção do Pirlo, e da Inglaterra, sem exceção.
Os gols perdidos por Higuaín e Palácios na decisão de ontem. O descontrole do zagueiro Pepe, da seleção portuguesa.
As arbitragens. Nossos narradores e comentaristas de arbitragem, que passam o tempo todo pedindo pênaltis e cartões amarelos.
A derrota do México para a Holanda nas oitavas de final, no jogo que vencia por um a zero até os 42 minutos do segundo tempo e conseguiu perder por dois a um. O vacilo da seleção holandesa na semifinal com a Argentina, quando tinha tudo para vencer na prorrogação, mas se conformou com a definição nos pênaltis e perdeu a chance de ir à final.
Nossa torcida de características nórdicas. Nossos jogadores entrando em campo feito prisioneiros levados para o banho de sol. E, desde o segundo tempo do jogo com a Colômbia até a falta de fair play após a derrota para a Holanda, a seleção brasileira de cabo a rabo, com destaque absoluto para o gaúcho de bigode. (Não conheci meu avô por parte de pai, mas sempre ouvi histórias curiosas sobre ele. Supersticioso ao extremo e antigetulista ferrenho, Vovô Jorge não falava o nome de Getulio Vargas. Referia-se ao presidente como “aquele baixinho que gosta de charuto”, “aquele baixinho que mora no Catete”, etc. É possível que ele tenha me deixado isso como herança, pois a vontade que tenho hoje é de não mais falar o nome do fabuloso treinador que não erra, não errou e não precisa se reciclar.)