Nunca um líder da corrida eleitoral teve tanta dificuldade de fazer alianças. Jair Bolsonaro lidera em intenção de voto nas pesquisas dos institutos que adora esculachar, provoca mais engajamento no Facebook do que todos os candidatos a governador somados, mas não consegue fechar o apoio nem com o PRP. Ofereceu a vaga de vice a um general da legenda, mas o presidente do partido nanico disse “não, obrigado”. Não só ele: Valdemar Costa Neto, do PR, já havia lhe dado com a porta na cara. Por quê?
Como Bolsonaro pode ter uma bancada invisível de cem deputados federais – como diz o coordenador de sua campanha à Presidência – e não conseguir um mísero partido para coligar-se? Se um quinto do eleitorado declara, repete e insiste que votará nele em 7 de outubro, como é possível que outros candidatos não façam fila para entrar em sua chapa e pegar carona nesses votos? Tem mais político batendo na porta da cela de Lula para fazer alianças do que entrando em formação com o capitão da reserva.
Não é que Bolsonaro não esteja se esforçando. Colocou um deputado do DEM, partido conhecido por sua alfaiataria política, para costurar apoios. Correu atrás do senador Magno Malta, do PR do Espírito Santo, para que ele fosse seu vice. Conversou com deputados de inúmeras legendas. Mas nada de coligação. Nenhum segundo a mais para seu irrisório tempo de propaganda na tevê. Até o irascível Fernando Collor conseguiu aglutinar três outros partidos mínimos (PSC, PST e PTR) ao seu impúbere PRN em 1989.
Por que o establishment político se recusa a fazer par na urna com Bolsonaro mesmo ele tendo tanto capital eleitoral?
Porque ninguém consegue prever o rumo da eleição. Diante da incerteza, os mais experientes caciques partidários preferem jogar parados – quando não se estapeiam discordando sobre a direção do vento.
De fato, quase nenhum candidato a presidente tem conseguido fechar alianças por enquanto. Seja por falta de votos, por falta de vontade ou por dificuldades de locomoção, não está fácil para ninguém amarrar outros partidos ao seu projeto presidencial.
Ciro Gomes, do PDT, apostou todas as fichas no PSB e nos 45 segundos a mais de propaganda que a aliança lhe daria. Seus rivais alienaram dois dos principais governadores da legenda. O de Pernambuco declarou apoio a Lula; o de São Paulo prefere Geraldo Alckmin, mesmo sabendo que uma aliança do PSB com o PSDB é impossível. O casamento de Ciro com o PSB não foi anulado, mas a noiva está tão longe do altar que o cearense sairá solteiro e solitário da convenção pedetista que vai homologá-lo.
Candidatos a vice estão em falta no mercado. Lula gostaria muito de reeditar a chapa que fez com José Alencar em 2002 e juntar-se a seu filho, o empresário Josué Gomes, do PR. Mas o padre dessa união precisa não apenas acertar um dote grande o suficiente para seduzir Valdemar, o dono do PR, como convencer o PT a abrir mão da cabeça de chapa no caso de a Justiça barrar o titular. Ou seja, além de padre precisa ser milagreiro – para soltar Lula ou fazer os petistas abdicarem da titularidade na urna.
Alckmin conseguiu laçar o probo PTB. Não basta. Enredou o PSD de Gilberto Kassab, mas ainda está apertando o nó para ele não escapar. Ainda é insuficiente. Para resgatar sua candidatura do estado criogênico em que se encontra, o tucano necessita de uma dose de adrenalina que só encontrará se conseguir amarrar os principais partidos do Centrão: PP e DEM. Haja corda.
Os dirigentes do Centrão não se entendem. Já promoveram tantos almoços e jantares para tentar chegar à concórdia que precisarão entrar numa dieta depois das eleições. Estão rachados até dentro dos próprios partidos. O DEM tem uma ala bolsonarista, outra alckminsta, e uma cirista. Só falta uma petista.
O resultado da divisão interna do bloco que dá as cartas na Câmara é que Valdemar com seu PR tomou do Centrão o papel de noiva mais cobiçada da eleição. Para onde ele se mexer há risco de o tabuleiro se inclinar. Se for para Ciro, inviabiliza Alckmin. Se pender para o PT, ressuscita os tempos da “carta aos brasileiros” de 2002. Se se deixar seduzir por Alckmin, fará até os tucanos se entusiasmarem com seu candidato. E se for para Henrique Meirelles, do MDB, ressuscitará os mortos.
Ninguém consegue prever, porém, os movimentos do dono do PR. Até que Valdemar e outros detentores de tempo de tevê para aluguel se definam e escolham um presidenciável para se amarrar, seguirá incerta a eleição mais imprevisível desde o fim da ditadura.
Se analisada dentro desse tabuleiro instável, a dificuldade inédita do líder das pesquisas de fazer coligações até que não é tão extraordinária assim. O grau de incerteza é tamanho que permite a Bolsonaro vir a conseguir alianças mais adiante, se e quando o cenário eleitoral ficar mais claro. Isso pode acontecer amanhã ou apenas em setembro, ninguém sabe. Quer dizer, com exceção de Valdemar.