A comparação entre a lista de presença dos deputados do PT no primeiro e no segundo turno da eleição para presidente da Câmara mostra um racha no partido: dos 56 deputados presentes na primeira votação, 24 foram embora depois que Rodrigo Maia, do DEM, e Rogério Rosso, do PSD, passaram para o embate final.
Lula nunca gostou de Rodrigo Maia. Chegou a dizer, em 2010, que era preciso “extirpar o DEM da política brasileira”. Mas, esta semana, mudou o discurso em prol do pragmatismo: entre um candidato apoiado por Eduardo Cunha (Rogério Rosso) e um quadro orgânico da direita (Rodrigo Maia), o PT deveria votar para derrotar Cunha.
Ao longo da semana, Lula acenou sua preferência para alguns deputados, mas depois que a informação vazou e repercutiu mal nas redes sociais, a orientação do diretório foi de desmentir o endosso do ex-presidente ao deputado do DEM.
Na terça-feira pela manhã, porém, a piauí estava com uma liderança petista quando Lula telefonou: insistia no apoio à candidatura de Maia. O partido divergiu e anunciou apoio a Marcelo Castro, do PMDB, ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff que votou contra o impeachment.
Ontem à noite, durante a votação, Lula ficou sendo informado pari passu das negociações. Depois que Maia e Rosso passaram para o segundo turno, a bancada do PT se reuniu, mas não chegou a um acordo. Ficou acertado, então, que o líder, Afonso Florence, não iria orientar o voto em Rodrigo Maia. Cada um votaria como quisesse.
Os deputados das tendências mais à esquerda do partido, como a Mensagem ao Partido e a Democracia Socialista, preferiram abandonar a sessão. A votação é secreta e não é possível saber com certeza como cada um votou. Mas os deputados que faltaram à sessão acabaram fazendo com que os demais petistas, ao assinar sua presença, dessem uma espécie de atestado de apoio ao democrata.
Ao ser eleito, Rodrigo Maia agradeceu a Afonso Florence, líder do PT, e ao PDT e PCdoB, que também votaram nele. Dos partidos à esquerda, só o PSOL se absteve em bloco.
“Tomei a decisão de não votar porque ficamos prensados entre dois candidatos do governo golpista, um da direita tradicional e outro apoiado pelo Eduardo Cunha”, me disse a deputada Maria do Rosário (RS), uma das 24 a abandonar a sessão. Para Rosário, seria um contra-senso apoiar um candidato que defende uma agenda econômica que se choca com a agenda do partido.
O deputado Vicente Cândido (SP), por sua vez, rebate outro argumento usado pelos dissidentes, de que seria uma contradição acusar um golpe no processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff e depois apoiar um dos artífices desse movimento. “Alguns disseram que depois não daria para explicar por que votamos num golpista. Mas, também, como explicar que a gente iria deixar a Câmara nas mãos do Eduardo Cunha?”