Com um maior debate em torno das questões raciais no meio artístico, já era esperado que em algum momento as diásporas asiáticas surgissem de forma concentrada na programação do Instituto Tomie Ohtake. Esse movimento tardou, mas chegou. A exposição Chen Kong Fang: O Refúgio faz parte de um ciclo composto ainda por duas outras mostras – uma com obras da artista coreana Hee Sub Ahn, e outra com cerâmicas, dentre elas as feitas pela japonesa radicada no Brasil Kimi Nii.
Nascido na China em 1931, Fang chegou ao país na década de 1950. Ainda que não seja um nome desconhecido no meio artístico, tampouco evoca familiaridade completa, daí a grande valia da exposição que traz um panorama da produção dele.
Há parcos retratos pintados pelo artista; naturezas-mortas, gênero que o levou à boca do meio; e paisagens de uma São Paulo tomada pelo desejo de afogar suas raízes caipiras na industrialização.
A expografia, com uma espécie de biombo em zigue-zague, ao mesmo tempo que sugere um percurso, abre a possibilidade de o olho caminhar por outros núcleos. O texto curatorial é certeiro, destacando o tratamento que Fang dá a objetos cotidianos e aproximando-o de uma família de artistas formada por Alfredo Volpi, Eleonore Koch (a única aluna de Volpi), Mira Schendel e Rubem Valentim. Um bichano de cor preta cercado por vegetação evoca também, mais sutilmente, Nilda Neves, artista da cidade de Botuporã (BA), nascida em 1961 – o que sugere um diálogo entre a liberdade compositiva de Fang e a pintura dita popular.
Vale muito ver a mostra durante o entardecer. A luz que entra muda de forma delicada o espaço expositivo. O único ponto um pouco na contramão da exposição são os textos de parede. O ritmo deles, ao congregar tantas informações, parece rápido demais, em desacordo com a pintura de Fang, que faz arranjos delicados. Fang não se entrega a categorias: nota-se a influência da sua origem, seu olhar atento ao destino brasileiro, mas ele não deglute nada disso a partir de estereótipos, nem sobre si nem sobre os outros.