Telegramas costumam ser considerados documentos menos "próximos" de seu autor que cartas escritas a mão (ou datilografadas e assinadas). Talvez por isso os telegramas não tenham sido nunca colecionados com a mesma paixão que as cartas, pois eram na época equivalentes ao que é hoje um e-mail impresso: uma mensagem cujo conteúdo pertence a quem o escreveu, mas cuja materialidade física lhe é alheia, (ao contrário da carta, que passa pelas mãos do autor pelo menos pelo tempo em que a escreve).
Em certos casos, porém, telegramas podem ter um extraordinário impacto e representam documentos tão ou mais significativos do que muitas cartas manuscritas.
É sem dúvida o caso do papel mostrado nesta página.
O Barão de Penedo era um dos servidores mais destacados da monarquia. Havia sido embaixador em Londres durante décadas e atingira um prestígio extraordinário na capital britânica e até mesmo junto à família Real. Acabava de ser transferido a contragosto para Paris, posto de igual prestígio, mas que o obrigava a abandonar sua querida Londres.
É em Paris que recebe a comunicação de Ruy Barbosa, nomeado naquele mesmo dia Ministro da Fazenda do Governo Provisório, que proclamara a República na véspera, em 15 de novembro de 1889.
“SSS Paris de Rio Janeiro 2646 60/64 16/11 7 40 soir Via Eastern
O governo acha se constituído em Republica dos Estados Unidos do Brazil – Monarchia deposta – Família Imperial deixou o paíz – Províncias aderem – Tranquillidade e satisfação geral – Poder Executivo confiado a Governo Provisorio de que e chefe Marechal Deodoro e eu Ministro da Fazenda – A Republica respeita rigorosamente todos compromissos obrigações e contractos do Estado – Ruy Barbosa – Ministro Fazenda”.
Poucas mensagens foram tão densas e sucintas ao mesmo tempo.
Ruy Barbosa transmitiu todo o essencial em poucas palavras e Penedo, ao ler o telegrama, compreendeu imediatamente que aquele papel significava o fim de sua carreira e o começo de uma nova era.