O século XIX assistiu à disseminação da prática de ilustrar cartas com pequenos desenhos, tanto para auxiliar a mensagem quanto apenas para homenagear o destinatário com uma gentileza adicional. Era lisonjeiro verificar que o amigo havia-se esforçado em enriquecer sua missiva com desenhos ou às vezes aquarelas, o que transformava a carta num objeto decorativo ou mesmo numa obra de arte. Há muitas cartas ilustradas de grandes escritores franceses como Victor Hugo, Verlaine ou George Sand, mas são naturalmente os próprios pintores aqueles que com mais frequência ornavam suas cartas com desenhos.
Algumas mensagens manuscritas de Manet vinham com belíssimas pequenas aquarelas de flores ou frutas, antes ou depois do texto. Estas estão hoje quase todas em museus ou são vendidas em leilões por preços astronômicos.
Outros artistas adornavam suas cartas com desenhos mais sucintos ou às vezes o faziam para ilustrar um trabalho em preparo. É o caso de Van Gogh, que nas célebres cartas para ao irmão Theo frequentemente esboçava a composição do quadro que estava terminando.
A carta de Renoir reproduzida nesta página é de teor íntimo, pois é dirigida à sua mulher, Aline, e trata sobretudo de assuntos familiares. Suas cartas assinadas com o primeiro nome, Auguste, são muito raras, pois assinava Renoir até mesmo quando escrevia aos filhos.
O que torna esta carta especialmente interessante é naturalmente o desenho de um trenzinho com a locomotiva fumegante puxando quatro vagões, que Renoir agrega no final.
O grande pintor impressionista transmite no texto certas reservas à respeito do médico da família, o doutor Latty, mas encoraja sua mulher a continuar a seguir seus conselhos. O pintor diz que está animado com o quadro no qual está trabalhando e menciona a esperança de poder ganhar um bom dinheiro com ele.
Cartas ilustradas de artistas da importância de Renoir ficam sempre na fronteira entre o manuscrito e a obra de arte, mas neste caso, como o desenho é sem pretensão, pode se considerar que trata-se sobretudo de um manuscrito enriquecido com um desenho.
A carta foi preservada pelos bisnetos de Renoir até o ano passado, quando foi oferecida em leilão nos Estados Unidos e adquirida pelo atual detentor.