Aos 91 anos, o ex-presidente José Sarney está mais recluso, em razão da idade, mas ainda é consultado por lideranças políticas de todos os matizes ideológicos quando névoas de incerteza se acumulam sobre Brasília. Mas, quando se trata da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual é membro desde 1980, o cacique emedebista é discretíssimo, e passam despercebidos os dotes camaleônicos que o notabilizaram na vida pública. Na Casa de Machado de Assis, onde Sarney não faz política, há outros caciques atuando, e ocorre uma intensa articulação para preencher quatro das cinco cadeiras que vagaram nos últimos dois anos, em razão da morte de seus ocupantes.
A primeira das cinco vagas, deixada pelo diplomata e ensaísta Afonso Arinos de Mello Franco (falecido em 15 de março de 2020), será ocupada pela atriz Fernanda Montenegro, eleita no início deste mês num pleito inédito, em que pela primeira vez na história da ABL não houve concorrentes. “Não bastasse ser uma atriz excepcional, ela é uma figura exponencial da cultura brasileira. Sempre se buscou eleger pessoas com perfil assim. Ela vai enriquecer muito a Academia”, diz a escritora e imortal Rosiska Darcy de Oliveira. Fernanda só não ganhou por unanimidade porque dois imortais se abstiveram de votar, e uma se ausentou por estar doente.
A própria Fernanda, apesar da vitória certa, não foi poupada dos ritos que os candidatos são aconselhados a cumprir. A atriz enviou um telegrama a cada acadêmico, relatando em poucas linhas sua candidatura, fez ligações aos imortais mais chegados e os presenteou com seus dois livros: Prólogo, Ato e Epílogo: Memórias, e Fernanda Montenegro – Itinerário Fotográfico. Na discreta recepção dada por ela logo após a confirmação de sua entrada na ABL, em 4 de novembro, no Hotel Emiliano do Rio de Janeiro, a maior parte dos imortais residentes na cidade fez questão de marcar presença – até mesmo os que se locomoviam com maior dificuldade, como é o caso do historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva, que compareceu não só ao Petit Trianon para votar como também ao hotel.
A eleição de Fernanda foi o segundo encontro dos acadêmicos desde o início da pandemia. O primeiro havia sido em 28 de outubro, durante a votação do Prêmio Machado de Assis, dado ao escritor Ruy Castro. Em razão do distanciamento social, os votos dessa vez não precisaram ser presenciais: também poderiam ser enviados por carta ou pela internet, na hora da sessão. Mesmo assim, pelo menos 15 dos 34 votantes compareceram à sede da ABL, no Centro no Rio, para votar.
“Quem diria!”, exclamou a nova imortal, ao chegar ao Emiliano e deparar com o salão lotado de acadêmicos e alguns amigos mais próximos. A atriz deu um abraço coletivo nos primeiros a saudá-la – o jornalista Zuenir Ventura e o caricaturista Chico Caruso e suas mulheres –, mas rapidamente foi levada a um canto mais discreto pelo jornalista Merval Pereira, que desejava falar em particular com a nova colega, antes que ela terminasse de cumprimentar os presentes, entre os quais estavam seus filhos, Claudio e Fernanda Torres, os netos e o diretor de cinema Andrucha Waddington, seu genro.
Definida a primeira cadeira sem sobressaltos, as movimentações correram a todo o vapor para preencher as vagas seguintes, com um intenso trabalho dos acadêmicos nos bastidores. Tudo é feito dentro dos parâmetros da mais pura cordialidade, sem rasteiras à luz do dia, típicas do subterrâneo da política.
A segunda vaga, deixada pelo jornalista Murilo Melo Filho (que morreu em 27 de maio do ano passado), terá como ocupante o cantor e compositor Gilberto Gil, cuja eleição foi nesta quinta, 11 de novembro. O primeiro a aventar a hipótese de concorrer foi o poeta Salgado Maranhão, que é negro. Os imortais que não eram muito entusiastas de sua candidatura pensaram num contraponto e sondaram Gil, que levou um tempo até ser convencido pela mulher, Flora Gil, de que seria uma boa ideia virar imortal. O cantor e compositor Chico Buarque também já fora sondado em eleições passadas, mas nunca se interessou em concorrer.
Entre os membros atuais da ABL há apenas um negro, Domício Proença filho, e os antecessores são raros: além de Machado de Assis, que fundou a instituição, houve José do Patrocínio, Silvério Pimenta, Evaristo de Moraes Filho e Octavio Mangabeira, muitos dos quais não se classificavam como negros, como o próprio Machado. Em 2018, quando a escritora Conceição Evaristo pleiteou a vaga deixada pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos por meio de um abaixo-assinado virtual, refutando o beija-mão tradicional regado a chá entre imortais, seu nome foi descartado. A atitude, considerada belicosa, fez com que a escritora recebesse apenas um voto, dado de forma simbólica para mostrar que sua candidatura havia sido apreciada – e não ignorada. Quem ganhou foi o cineasta Cacá Diegues, com 22 votos.
A Casa de Machado de Assis foi então tachada de racista, o que não incomodou os acadêmicos, que classificaram a atitude da escritora como indelicada. A escritora Nélida Piñon disse, em entrevista ao programa Roda Viva, que Evaristo não havia cumprido os protocolos de praxe da candidatura. “Ela teria que ter contatado, visitado os acadêmicos. Não se esqueça de que a relação que você vai estabelecer é para sempre, não há divórcio na Academia. Eu teria adorado receber a Conceição aqui em casa”, afirmou.
Gilberto Gil fez diferente. Confinado em sua casa em Itaipava, na região serrana do Rio de Janeiro, levou um tempo até que aceitasse conversar por telefone com o grupo de imortais que o convidara a se candidatar. Mas, depois de convencido, fez o que manda a liturgia. Antes de viajar para uma turnê de cinquenta dias na Europa, enviou aos membros da ABL o livro Gilberto Gil: Todas as Letras, um volume de 576 páginas contendo as letras de 470 canções de sua autoria e comentários do organizador Carlos Rennó sobre 200 delas. Também recebeu em sua casa para um almoço um grupo de acadêmicos, entre eles Merval Pereira, Zuenir Ventura, Nélida Piñon, o poeta e crítico Antônio Carlos Secchin e a médica e pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, que foi representando o marido imortal, Cândido Mendes. Em retribuição, Gil foi até a casa de Mendes visitá-lo.
Houve ainda um jantar na casa da cantora Adriana Calcanhotto, que acompanhou Gil na turnê europeia, para o qual foram convidados outros membros da ABL, como o poeta e compositor Antonio Cicero, Rosiska Darcy de Oliveira e Cacá Diegues. No dia 9, terça-feira, um dia depois de voltar de viagem e dois dias antes da eleição, Gil recebeu para o almoço em sua casa um indeciso.
Diplomático e sem revelar o voto, o imortal Antônio Carlos Secchin afirmou à piauí que tanto Gil quanto Salgado seriam bons representantes na Academia. “Gil representa não só a questão da etnia, mas a MPB, a alta qualidade das letras que escreveu. A arte está muito bem representada tanto nos poemas do Salgado ou nas letras do Gil”, disse o poeta. Em comemoração à vitória de Gil, todos os acadêmicos foram convidados a comparecer, no mesmo dia, à residência do arquiteto Miguel Pinto Guimarães e de sua esposa, Paula Marinho, na Avenida Vieira Souto, para celebrar o título de imortal.
Para a terceira vaga, deixada pelo professor Alfredo Bosi, morto em 7 de abril deste ano, vítima da Covid-19, a disputa se acirrou. O advogado e escritor Gabriel Chalita, que integra a Academia Paulista de Letras e havia conquistado promessas de voto da “bancada paulista” da ABL, composta por nomes como Fernando Henrique Cardoso, Lígia Fagundes Telles, Celso Lafer e Ignácio de Loyola Brandão, entre outros, começou a se movimentar nos bastidores para apresentar sua candidatura a uma vaga que poderia ser considerada “de São Paulo” na Academia Brasileira de Letras. Mas suas intenções iam de encontro às de um grupo de imortais do Rio de Janeiro, investido com força total na candidatura do neurocirurgião carioca Paulo Niemeyer Filho, que publicou recentemente seu primeiro livro, No Labirinto do Cérebro. A obra, lançada pela Companhia das Letras, está sempre em destaque na estante do imortal Merval Pereira, ao lado de uma estatueta do Prêmio Abril, quando ele grava seus comentários para a GloboNews.
Niemeyer é querido entre os acadêmicos, que o chamam carinhosamente de Paulinho. Por isso, Chalita foi aconselhado por alguns imortais, como Nélida Piñon e o jornalista Arnaldo Niskier, a tentar a quinta vaga, em vez da terceira. “Ele vai ser eleito sozinho na categoria de notáveis”, explica Niskier, referindo-se a Niemeyer. “Ele é não só um médico, mas uma pessoa extraordinária da cultura brasileira. E o Chalita desistiu porque, segundo ele, um nome como o do Paulo não merece concorrência.” Já o poeta gaúcho Carlos Nejar ressalta a tradição da ABL de eleger notáveis não necessariamente do mundo das letras, alegando que essa é também a essência da Academia Francesa, na qual os fundadores da ABL se inspiraram para criar a versão brasileira. “Há uma tradição na Casa de receber médicos, como foi o caso do Ivo Pitanguy”, diz Nejar, que relembrou uma brincadeira que fez ao conhecer Niemeyer. “Eu disse a ele que nós, acadêmicos, estamos sempre sujeitos a chuvas e trovoadas. Então é sempre bom ter um médico na Academia. E o Paulo não é um médico, é um hospital.”
O escritor indígena Daniel Munduruku também concorre à vaga, embora sem chances de vitória. No início do ano, um grupo de mais de cem escritores divulgou uma carta em apoio à sua candidatura, que também recebe a chancela da imortal Ana Maria Machado. Munduruku seguiu todo o protocolo exigido para se candidatar, visitando quem aceitou recebê-lo, mas não deve tirar o favoritismo do neurocirurgião.
Por causa do favoritismo de Niemeyer, Chalita migrou sua candidatura para a quinta vaga, que é a cadeira 2, deixada pelo professor de filosofia Tarcísio Padilha (que morreu em 9 de setembro deste ano), para a qual não há predileção majoritária. A quarta vaga, deixada pelo político Marco Maciel (falecido em 12 de julho passado), é reivindicada pelos literatos de seu estado, Pernambuco. O favorito é o advogado José Paulo Cavalcanti Filho, autor de uma biografia sobre Fernando Pessoa muito bem avaliada pelos acadêmicos. Ele concorre com o escritor catarinense Godofredo de Oliveira Neto, menos propenso a vencer.
Chalita não quis concorrer com Cavalcanti. “O José Paulo é amigo de longa data do Marco Maciel. Ambos vinculados à vida política, à academia pernambucana e à advocacia. Então, há vários argumentos a favor. Mas, por outro lado, a Academia não é uma monarquia, não é uma sucessão geográfica. Os dois são candidatos de bom nível e foram sondados para fazer parte da Academia”, explicou Secchin. Ele disse que o jogo para a quarta vaga está equilibrado, mas todos os acadêmicos ouvidos pela piauí apostam na vitória do pernambucano.
Na quinta vaga, por razões diversas, a disputa está mais acirrada do que as demais. Chalita, que era amigo de Tarcísio Padilha e foi encorajado por ele a postular uma cadeira na ABL, apresentou sua candidatura com o aval de pelo menos dez imortais. Logo que o fez, viu-se como adversário do advogado Sergio Bermudes, dono de um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil, mas que não tinha boas perspectivas de vitória.
Bermudes há muito mirava uma vaga na Casa de Machado de Assis. Antes da pandemia, em dezembro de 2019, quando comemorou os cinquenta anos de seu escritório com uma festa no Copacabana Palace, convidou pelo menos dez acadêmicos para o evento, que ocupou todos os salões do hotel. Bermudes também já começara a advogar em causas envolvendo a Academia e mantinha relação próxima com alguns imortais. Mas, depois de ser acometido por um caso gravíssimo de Covid-19, logo no início da pandemia, ficar em coma por pelo menos quatro meses e acamado por mais de um ano, o advogado não conseguiu empreender as investidas necessárias para o trabalho de convencimento dos acadêmicos.
O advogado também teve sua audição afetada pela doença, o que o impediu de telefonar para pedir votos aos possíveis eleitores e sondar a adesão deles ao seu nome, antes de protocolar a candidatura. Segundo acadêmicos ouvidos pela reportagem, que pediram para falar em condição de anonimato para não se indispor com os colegas imortais, houve ainda o episódio de um artigo publicado por Bermudes na piauí (Eu Não Existi, ed. 180_setembro de 2021), em que ele conta sua trajetória de recuperação da doença e faz comentários sobre a ABL que não foram bem recebidos pelos imortais.
Esse contexto fortaleceu ainda mais a candidatura de Chalita, que havia costurado uma teia de apoio que transcendia o estado de São Paulo. Habilidoso, ou dono de uma “sabedoria levantina”, como classificou Carlos Nejar, referindo-se às origens árabes de Chalita, o escritor paulista passou a telefonar a todos os membros da Academia detalhando sua candidatura. Tinha como porta-vozes não só os acadêmicos de São Paulo como nomes de peso da República, em razão de suas conexões políticas no período em que foi secretário estadual de Educação de São Paulo, entre 2002 e 2006, no governo Geraldo Alckmin. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, seu amigo de longa data, telefonou para alguns imortais para detalhar os predicados do candidato. O mesmo fez o ex-presidente Michel Temer, hoje membro da Academia Paulista de Letras e interessado em integrar a ABL num futuro próximo.
Entre os acadêmicos, circularam informações dos feitos de Chalita: ele conseguira uma editora para publicar os livros do poeta paulistano Paulo Bomfim, ajudara a escritora carioca Ana Maria Machado (que é da ABL), reformara a sede da Academia Paulista de Letras, incluindo a biblioteca, quando fora presidente da entidade e, ainda por cima, renegociara o valor do aluguel de forma vantajosa. Quando Nélida Piñon viajou a Portugal, em outubro passado, e teve uma alteração na taxa de glicose que a levou ao hospital, Chalita imediatamente mobilizou equipes médicas que conhecia no país para que a tratassem da melhor forma possível. Antes de viajar, a escritora entregou seu voto para a quinta vaga. Quem conversou com ela garante que foi dado a Chalita.
Tanta propaganda positiva gerou desconfianças num grupo de imortais do Rio de Janeiro, que passou a buscar um nome capaz de concorrer com Chalita, diante das poucas chances da candidatura de Bermudes. O economista mineiro Eduardo Giannetti, autor de livros também sobre filosofia e ética, foi sondado, topou e esteve no Rio de Janeiro para se apresentar aos imortais. Foi convidado por Merval Pereira e o escritor Marcos Vilaça para um almoço no Copacabana Palace, esteve num jantar na casa de Secchin e encontrou-se pessoalmente com Antonio Cicero.
A entrada de Giannetti na disputa criou uma polarização com a candidatura de Chalita e complicou ainda mais as coisas para Bermudes, que já enfrentava dificuldades em angariar votos. Como a eleição será apenas em 16 de dezembro, Bermudes resolveu ir à luta. Pediu que sua secretária agendasse visitas às casas de alguns imortais para sentir a temperatura do placar e angariar mais apoiadores. Mas a oferta causou desconforto em alguns que ainda estão reclusos em razão da pandemia. O advogado Joaquim Falcão avisou que não poderia recebê-lo, por estar de partida para Portugal. Já Arnaldo Niskier apreciou a visita, embora vote em Chalita. “Bermudes é muito meu amigo. Ficou aqui quase duas horas conversando, tomou um chá caprichado. É muito respeitado e querido”, diz o imortal.
Chalita é visto como favorito à quinta vaga por seus eleitores. Entre aqueles que preferem Giannetti, circula que ele ganhará. São necessários dezoito votos para a vitória, o equivalente à metade dos imortais votantes mais um. Ambos os lados reconhecem, no entanto, que o economista mineiro tem se movimentado menos que o professor paulistano. “O Giannetti é um economista respeitado, mas chegou muito tarde na disputa e não se aproximou tanto quanto o Chalita”, diz Nejar. Se nenhum dos candidatos alcançar os votos necessários no primeiro escrutínio, os imortais têm chances de votar mais três vezes, podendo dessa forma mudar de favorito, caso seu candidato não tenha emplacado um bom número de votos nas primeiras rodadas.
Figuras de liderança dentro da Academia sempre tendem a conquistar votos para seu candidato. Em 1975, a liderança foi exercida em forma de tapetão pelo então presidente da ABL, Austregésilo de Athayde, que manipulou a eleição para evitar a entrada de Juscelino Kubitschek em uma das vagas, o que não era visto com bons olhos pela ditadura militar. Depois, foi a vez do intelectual baiano Eduardo Portella (1932-2017), ministro da Educação, Cultura e Desportos no governo João Figueiredo, desempenhar a função: ninguém entrava na ABL sem o seu aval. Portella foi quem recebeu o jornalista Merval Pereira na Academia, tido hoje pelos colegas como a principal liderança na entidade, responsável por apresentar candidatos aos imortais e angariar votos.
No início da disputa pela quinta vaga, quando só havia Chalita e Bermudes no páreo, Merval Pereira chegou a pedir votos para o advogado. Numa ligação feita para um imortal que disse preferir Chalita, o jornalista ouviu uma negativa e um sutil puxão de orelhas. O acadêmico estranhou o fato de o colega pedir votos para Bermudes, que havia feito comentários tidos como desabonadores pela ABL. Foi a partir de então que o nome de Giannetti surgiu na disputa.
Em meio a toda a articulação política pela vitória de uns e a derrota de outros, o atual presidente da Academia Brasileira de Letras, o poeta e escritor carioca Marco Lucchesi, tem agido de forma imparcial. Não revela seu voto nem faz incursões pedindo apoio para seus favoritos. Nos pleitos, sua função se resume a queimar os votos impressos após a eleição – um rito que remonta aos tempos de fundação da Casa.
A eleição de um presidente é quase consensual na Academia. Forma-se uma chapa com os nomes para presidente, secretário-geral, primeiro e segundo secretários e tesoureiro. A votação consiste em acatá-la ou não. O próximo presidente da entidade, a tomar posse em 2 de dezembro, antes da eleição da quinta vaga, deverá ser Merval Pereira.
Em seu livro As Excelências ou Como Entrar para a Academia, publicado em 1964, o dramaturgo e escritor Guilherme Figueiredo relata o seu périplo para tentar uma vaga na ABL. Como foi derrotado, os relatos têm certo viés. Mas um diálogo de Figueiredo com o poeta e imortal Manuel Bandeira resume bem como são as coisas – até hoje. “Como é que você fez [para entrar na ABL]?”, perguntou Figueiredo a Bandeira. “Eu não tive trabalho. Múcio Leão, Ribeiro Couto e Cassiano Ricardo me convidaram a entrar para a Academia e prepararam tudo para mim. Nem mesmo visitei todos os acadêmicos”, respondeu o poeta. “Então como é que você pedia votos?”, espantou-se Figueiredo. “Voto não se pede. Faz-se a visita e pronto”, concluiu Bandeira.