A música leva a gente a lugares inesperados, e é incrivel ver que ainda surfo essa onda. Começo hoje, assumindo o lugar da minha querida Eliete Negreiros (não conheço pessoalmente mas é querida através da música), a falar sobre essa obsessão estranha que tenho desde pequeno .
Comecei a ouvir música cedo, através do meu irmão mais velho, Gilberto. Ele era discotecário, antes dessa profissao virar “DJ” e ser um conceito confuso como a bossa nova. Enfim, em casa quando eu era pequeno ouvíamos discos o dia todo, um atrás do outro. Mais tarde, aos 8, comecei a tocar junto com os discos. Mais tarde ainda comecei a tocar dentro deles, e depois a fazê-los e planejá-los do início – o que provavelmente me trouxe aqui a esse blog.
Dito isso, posso assegurar que não mudou nada: ainda passo todas as horas do meu dia ouvindo música, ainda toco com os discos. Mas só toco um instrumento se aquilo for junto com um disco, num show, ou dentro de um disco. Ouvir me levou a tocar, e sempre gostei mais dos discos que de tocar. Posso não ter nenhum instrumento por perto, mas quando a vitrola quebra a coisa fica feia. As pessoas vão, e ficam os discos.
Esses últimos dias foram difíceis pra música brasileira. Perdemos nosso grande cantor Emílio Santiago. Emilio era uma pessoa queridissima e, nas poucas vezes que estivemos juntos – não éramos amigos próximos, mas tínhamos muitos em comum – nos divertimos e conversamos muito. João Donato, um dos nossos amigos em comum, foi grande colaborador dele e esse primeiro disco do Emílio é um clássico dourado .
Sempre lembro da Áurea Martins, uma das nossas maiores cantoras, me contando que ela trabalhou como crooner numa casa noturna nos anos 70 ao lado do Emílio e do Djavan, ambos antes dos seus primeiros discos. Por que eu não vi isso? Esse programa do Diogo Nogueira dá um gosto do que isso devia ser.
Outra perda irreparável foi o Nenê, dos Incríveis. Que grande banda os Incriveis, realmente Incriveis, pioneiros na fusão de ritmos brasileiros. Nunca entendi não haver um culto maior a eles, talvez a coisa do “Eu te amo meu Brasil” tenha deixado eles sob a sombra militar aos olhos dos artistas. É o que me disseram, mas não entendo. Os Incriveis foram muito maiores que isso e realizaram coisas incriveis. Essa gravação deles de Estrada do sol de Tom Jobim e Dolores Duran é uma delas.
Dedico a eles essa canção dos meus amigos budistas do sul, Os The Darma Lovers.