Meu nome é Major O…, brinca o deputado Major Olímpio, do PSL, sobre o que dirá no tempo de tevê que seu partido terá na campanha para a eleição de outubro. “Já tenho que chegar dizendo Olímpio. Se não, não dá tempo.”
Candidato a senador por São Paulo na chapa de Jair Bolsonaro, ele estima que a legenda terá apenas oito segundos na tevê por dia. Em razão disso, se diz obrigado a apostar todas as fichas na teoria que as redes sociais vencerão as eleições. E um dos principais trunfos do partido, ele acredita, está no WhatsApp. Só em seu celular pessoal, o Major Olímpio integra 897 grupos na rede de troca instantânea de mensagens.
Bolsonaristas de todas as partes do país, ativistas de direita, clubes de motociclistas, agentes penitenciários, policiais militares, parentes de vítimas de violência são alguns dos grupos de que ele faz parte. Qualquer mensagem que ele dispare por essa rede, tem o potencial de alcançar 220 mil pessoas. Além do perfil vinculado ao telefone pessoal, o major conta também com os celulares de dois assessores, que reúnem outras centenas de grupos de WhatsApp diferentes.
Ele afirma que, só de policiais militares, tem 60 mil números registrados – entre os cerca de 90 mil PMs da ativa no estado de São Paulo. “Este é meu Exército silencioso”, diz Olímpio. “A PM é a única instituição que está em todos os 645 municípios de São Paulo.”
O celular do Major Olímpio fica “pulando” todo tempo. “Quando saio do avião e ligo o celular, ele fica uns dois minutos pulsando com avisos de mensagens”, diz. Essa realidade não é diferente nos celulares do próprio Bolsonaro e de seus filhos, Eduardo e Flávio – que estão liderando a campanha do pai –, de acordo com Olímpio.
De acordo com seus cálculos, em poucos minutos eles conseguem atingir diretamente cerca de 1 milhão de pessoas. Se ampliarem a comunicação para as demais redes sociais, o potencial da distribuição de mensagens aumenta exponencialmente. Não é à toa, diz o major, que Bolsonaro consegue mobilizar tanta gente à sua espera nos aeroportos do país – que, aos gritos de “mito”, dão demonstrações da força de mobilização do candidato.
“Em São Paulo nunca avisamos a hora que Bolsonaro chega porque isso pararia o trânsito”, diz Olímpio. O deputado tem sido uma figura frequente ao lado de Bolsonaro nas transmissões que faz ao vivo pelo Facebook e um dos mais aguerridos cabos eleitorais do candidato do PSL.
Na página pessoal no Facebook, Major Olímpio tem 1 milhão de seguidores. A de Bolsonaro tem 5,3 milhões. O número e o engajamento de seguidores, no entanto, não têm crescido. Segundo o major, a razão disso é que o Facebook andou mudando o algoritmo – ele não vê nenhuma relação entre a estagnação na rede social e a possibilidade de o candidato ter estacionado nas intenções de voto. Segundo a última pesquisa Ibope, Bolsonaro tem 17% das intenções de voto, seguido de Marina com 13%, em um cenário que exclui o ex-presidente Lula como candidato.
Os dados do Ibope mostram que os eleitores de Bolsonaro se concentram em classes mais elevadas, sem conquistar uma quantidade de votos significativa nas classes D e E, justamente as que têm menos acesso ao WhatsApp e as demais redes. Mesmo assim, Olímpio garante que a tevê não faria diferença para conquistar esse eleitorado de menor poder aquisitivo. “Eles estão tomando banho no horário eleitoral.”
A maior parte dos especialistas e marqueteiros ainda acredita que é o tempo de televisão que determina quem será capaz de vencer uma eleição. Foi essa crença que levou Geraldo Alckmin, do PSDB, a esforçar-se para selar a coligação com os partidos do Centrão – PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade. Com isso, Alckmin deve ter o latifúndio midiático de 40% de todo o horário da tevê destinado à propaganda eleitoral.
O diretor de Comunicação e Marketing da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcos Facó, diz que a televisão ainda tem muita força porque a capacidade de absorção das pessoas é maior vendo um vídeo do que lendo um texto. Nas redes sociais, ele acredita que os candidatos acabam fazendo campanha somente para os “convertidos” – aqueles eleitores que já votariam neles, de todo modo.
Bolsonaro começou a pré-campanha dizendo que não participaria de debates na tevê. Ao mesmo tempo, tentava uma parceria com o PR para uma coligação tendo como vice Magno Malta, candidato a senador pelo Espírito Santo. A coligação daria quase um minuto na tevê para Bolsonaro, mas ela não vingou. Agora, Bolsonaro já admite participar de alguns debates. E não é só isso: nesta segunda-feira (30), por exemplo, participa do programa Roda Viva na TV Cultura, que tem entrevistado todos os pré-candidatos à Presidência e gerado bom retorno na internet para as campanhas – como mostra reportagem de Marcella Ramos, publicada na piauí.
Apesar do discurso de crença no poder das redes sociais, Major Olímpio reconhece a importância de estar no noticiário. Ele relata que antes atendia somente a imprensa paulista, muito focada em questões policiais. Desde que abraçou a campanha de Bolsonaro, porém, dá entrevistas todos os dias para jornalistas de todo país.
Mas reafirma a aposta na internet. “Eu nem tinha WhatsApp em 2014”, diz o major, lembrando que foi “o décimo quarto deputado federal mais votado” nas últimas eleições com cerca de 180 mil votos. Para chegar ao Senado agora, precisa dar um salto de milhões nas urnas.
Olímpio quer convencer Bolsonaro da importância de passar boa parte do tempo da campanha em São Paulo, que representa cerca de 20% do eleitorado brasileiro. Será também pelo estado que Eduardo Bolsonaro será candidato a deputado federal. A estimativa otimista do major é a de que o filho de Bolsonaro “puxe” 1 milhão de votos e, em todo o Brasil, o PSL consiga eleger uma bancada de quarenta deputados federais. Hoje, o partido tem oito deputados na Câmara.
Ele acredita também que Jair Bolsonaro tem potencial para ficar 10 pontos percentuais à frente de Alckmin em São Paulo. Se conseguir isso, estima, o candidato do PSL será eleito Presidente ainda no primeiro turno e, a reboque, o levará para o Senado. “Bolsonaro nem teve ainda a chance de dizer que o Major Olímpio está ao seu lado e já tenho 13% nas pesquisas. Imagine quando ele disser que sou o candidato dele”, diz.