Vistos por acaso em seguida, no mesmo sábado chuvoso, Olmo e a gaivota e Órfãos de Eldorado revelam uma convergência talvez imprevista e diferenças quiçá indesejadas.
Depois de 3 semanas em cartaz, a sessão de Olmo e a gaivota estava quase lotada em uma sala digna de Botafogo. Em exibição há 10 dias, Órfãos de Eldorado, por sua vez, prejudicado pela projeção escura, dava impressão de já estar se despedindo do circuito na decadente sala de 43 lugares.
Petra Costa e Lea Glob, diretoras de Olmo e a gaivota, circunscrevem seu olhar, enquanto Guilherme Coelho, diretor de Órfãos de Eldorado, insere o drama íntimo na amplitude da paisagem amazônica, na tentativa talvez de ser fiel ao romance de Milton Hatoun que serviu de inspiração para o roteiro.
Costa e Glob delimitam a ação a espaços restritos – cômodos de um pequeno apartamento parisiense, o banheiro que mais parece um armário, o palco etc., enquanto Coelho procura incorporar à trama a vastidão da floresta e dos rios.
Os planos de Olmo e a gaivota são, quase sempre, próximos, fechados no rosto das personagens, em especial da atriz Olivia Corsini. As exceções são dois planos dela, um com a cidade, outro com o mar ao fundo. Órfãos de Eldorado evita definir seu ponto de vista com a mesma precisão, alternando distância e proximidade. Deixa, com isso, de ter um estilo visual definido. Um filme ganha consistência ao circunscrever o espaço da ação. O outro se dispersa e perde densidade na tentativa de articular exteriores grandiosos com o que ocorre entre quatro paredes.
Apesar do pano de fundo realista das locações, os personagens de Órfãos de Eldorado carecem de maior autenticidade. Crias da ficção literária de Milton Hatoun, ao serem transpostas para a tela se tornaram artificiais. Ao deixar de lado sua formação de documentarista em favor de um tratamento estritamente ficcional, Coelho perdeu a oportunidade de construir fundações sólidas para o filme.
O paralelo pode ser forçado, mas, conforme comentado no início deste post, o fato dos dois filmes terem sido vistos um seguida ao outro provocou essa aproximação. E o registro vale para destacar que Olmo e a gaivota ganha interesse por deixar em segundo plano a trama tchekhoviana, e Órfãos de Eldorado perde ao se enredar nela.