A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores viu o desenrolar de boa parte da história do Rio de Janeiro. Foi construída por uma irmandade católica em meados do século XVIII, quando o Brasil ainda era uma colônia ultramar de Portugal. Já existia por mais de cem anos quando, em 1893, marinheiros se rebelaram contra o governo de Floriano Peixoto e atingiram acidentalmente a torre da igreja com uma bala de canhão, disparada pelo encouraçado Aquidabã. Reza a lenda que o impacto fez despencar uma estátua em tamanho real de Nossa Senhora da Fé, que, apesar da queda de mais de 20 metros, permaneceu praticamente intacta, perdendo apenas os dedos indicador e polegar de uma das mãos. O episódio ficou conhecido como “o milagre da Rua do Ouvidor”. A estátua é exibida na igreja até hoje.
Quem passa pelo pórtico da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores é transportado para os tempos do barroco. Mas, numa das paredes da igreja, há uma exceção contemporânea: uma placa de metal em agradecimento às benfeitorias da imobiliária Sérgio Castro e do jornal digital Diário do Rio. Por trás das duas empresas está Cláudio André de Castro, um empresário de 46 anos que, com aval da Arquidiocese do Rio, tem assumido a gestão de igrejas do Centro. Várias delas, embora tenham sido tombadas pelo Iphan, estavam em situação precária, fechadas há anos. Castro se apresenta como um católico diligente, disposto a recuperá-las.
Nos últimos anos, seu jornal fez uma cobertura obstinada do assunto. Em 2021, noticiou que a Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores vinha sofrendo “com o abandono e com a destruição” (de fato, naquele ano a igreja foi interditada pela Defesa Civil, porque pedaços da fachada perigavam cair em cima dos transeuntes). Em 2023, o jornal voltou à carga, descrevendo a igreja como “arruinada” e “despedaçada”. Poucos meses depois, Castro foi nomeado pela Arquidiocese como provedor da irmandade que administra a igreja, no intuito de reformá-la. Provedor é como se chama o diretor máximo desse tipo de associação.
A novidade foi celebrada pelo Diário do Rio, que em maio de 2023 noticiou o começo das reformas na igreja e o trabalho aguerrido dos “voluntários da fé” – entre eles, Castro, que aparece em uma foto ao lado da mulher, Bruna Castro. O que não é mencionado nessa reportagem – e em nenhuma das outras que o jornal publicou sobre o tema – é que, ao assumir o controle de irmandades católicas, Castro se torna o administrador não apenas das igrejas, mas de todos os imóveis que pertencem a essas associações. Não são poucos. A Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, por exemplo, é proprietária de um prédio na Rua Sete de Setembro, um endereço valorizado no Centro, bem próximo ao metrô da Carioca.
O tamanho desse patrimônio imobiliário ficou mais claro no começo de 2025, quando o arcebispo dom Orani Tempesta resolveu intervir sobre outras duas irmandades: a Venerável Irmandade do Glorioso Mártir São Braz, que detém um modesto altar no Mosteiro de São Bento, e a Venerável Ordem 3ª de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, responsável pela igreja de mesmo nome. O roteiro se repetiu. Primeiro, vieram as matérias do Diário do Rio denunciando o descaso das irmandades. Depois, a intervenção. O frei Ramon de Assis assumiu o comando das associações e nomeou Castro como seu procurador.
As duas irmandades têm, somadas, quase cem propriedades, incluindo sete andares do Edifício Big, na Rua Buenos Aires, lojas na Avenida Rio Branco e quatro apartamentos num prédio da Rua Carlos Góis, no Leblon. De um dia para o outro, os imóveis que estavam vagos receberam uma placa da Sérgio Castro Imóveis anunciando, em letras garrafais sobre um fundo vermelho: “ALUGA-SE.” A intervenção, no entanto, foi contestada na Justiça por Brígida Rachid, empresária que geria, até então, as duas irmandades e não queria abrir mão desse vasto patrimônio. O processo virou uma briga feia que se arrasta há nove meses, soma mais de mil páginas e, por ora, resultou em derrota para a Arquidiocese e Cláudio Castro.
A Sérgio Castro Imóveis foi fundada pelo empresário Sérgio Cláudio de Castro, que morreu em 2012 e deixou o comando da empresa para os dois filhos, Sérgio e Cláudio. É uma família com longa tradição no mercado imobiliário. O avô de Sérgio Cláudio de Castro era Antônio Eugênio Richard Júnior, fundador da Companhia Brasileira de Imóveis e Construções (CBIC), empresa que ajudou a acelerar a urbanização do Rio no começo do século XX. Antônio é creditado como o criador do Grajaú, bairro batizado em homenagem à sua cidade natal, no Maranhão. O neto, Sérgio, teve boas condições de vida. Construiu um império imobiliário, ganhando fama como um empresário que fez de tudo para revitalizar o Centro da cidade.
Cláudio Castro herdou do pai não apenas a imobiliária, mas o propósito. Como o Centro até hoje não superou suas mazelas crônicas, como a insegurança, antigos prédios públicos caindo aos pedaços e um grande número de imóveis ociosos, Castro abraçou a causa e com ela ganhou projeção. Foi um apoiador entusiasmado do projeto Porto Maravilha, criado pela Prefeitura nos idos de 2008 para revitalizar a região portuária do Rio. A Sérgio Castro investiu no projeto e chegou a abrir uma filial na região. Castro também é superintendente do shopping Paço do Ouvidor. O prédio fica a poucos metros da Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, que, graças aos seus esforços, foi reaberta em 2023 e hoje badala seu sino diariamente.
“Eu gastei 1,5 milhão de reais naquela reforma”, disse Castro à piauí. O empresário é uma figura que não passa batido. Está sempre trajando suspensórios e sapatos Louis Vuitton com a marca à mostra. No Instagram, rede em que é muito ativo, se apresenta como “casado, católico, pai de pet, viajante, colecionador, monarquista e conservador”. Publica fotos de suas atividades na Igreja e também de suas viagens por lugares como Cartagena das Índias, cidade histórica da Colômbia, e Waterloo, palco da derrota de Napoleão na Bélgica. Nesses passeios, está quase sempre acompanhado da mulher, Bruna. O marido retrata a esposa nas mais variadas situações turísticas: fazendo uma bola de neve em uma paisagem invernal no Arizona ou desfilando de biquíni nas praias de água azul de Zanzibar, por exemplo.
Castro conta que sua decisão de ajudar a Igreja Católica foi amadurecida quando caiu doente durante a pandemia. Fez então a promessa de que, se sobrevivesse à Covid, se dedicaria a recuperar igrejas históricas do Rio. Aproximou-se do arcebispo dom Orani, com quem já esteve em múltiplas ocasiões, e passou a atuar em várias frentes da Igreja. Hoje, além de provedor da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, Castro é mordomo da Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia e Santa Isabel, que administra o hospital Santa Casa de Misericórdia. O mordomo é a figura responsável por gerir os imóveis das irmandades.
Em 2023, em reconhecimento por seu trabalho à frente das igrejas, Castro recebeu a Medalha Pedro Ernesto, maior honraria concedida pela Câmara Municipal do Rio. No discurso, não escondeu que a intervenção nas irmandades o beneficia. Disse ter orgulho de promover “negócios imobiliários que são bons para a Sérgio Castro Imóveis e bons para a cidade”. Em nota enviada à piauí, no entanto, Castro afirmou que a renda obtida com o aluguel dos apartamentos da Rua Sete de Setembro é “aplicada integralmente na manutenção da igreja [de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores], com total transparência”. E continuou: “Essa renda é modesta e por vezes complementada por doações voluntárias – inclusive as minhas – como contribuição à minha cidade e à minha fé.” A piauí perguntou o valor dessa renda modesta. Castro alegou que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) o impede de responder.
A Igreja Católica ceder imóveis para a iniciativa privada não é novidade, já que ela tem um patrimônio imobiliário vastíssimo e sempre fez disso uma fonte de arrecadação para suas atividades. Em 2013, por exemplo, endividada por causa da Jornada Mundial da Juventude que aconteceu naquele ano, a Arquidiocese do Rio – já sob o comando de dom Orani – vendeu um prédio no bairro de São Cristóvão para a Rede D’Or por 46 milhões de reais, em valores da época. O edifício, até então, era alugado pela mesma empresa, que instalou ali o hospital Quinta D’Or.
O que chama atenção, nos casos mais recentes, é o fato de que os imóveis não pertencem nem nunca pertenceram à Arquidiocese, já que as irmandades católicas têm caráter privado. Essas associações, muitas delas antiquíssimas, foram criadas em sua maioria por fiéis e sustentadas por doações de católicos afortunados, como os comerciantes que financiaram a Igreja da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. Com o passar das décadas, as irmandades perderam relevância e sua base comunitária se esvaziou, o que ajuda a explicar o ocaso das igrejas do Centro. Mas, embora estejam esvaziadas, elas ainda existem, com estatuto jurídico próprio.
No processo que corre no Tribunal de Justiça do Rio, os advogados da Arquidiocese alegaram que, como as irmandades gerem importantes bens religiosos, entre eles as igrejas históricas do Centro, elas devem ser submetidas às regras do direito canônico. E que, por estarem administrando mal esse patrimônio de grande valor religioso, a intervenção é justificada. Não é uma tese desvairada. “Se a irmandade recebeu aquele patrimônio com a finalidade de fazer a obra [isto é, cultivar e espalhar a fé em Cristo], e não faz, a Arquidiocese deve intervir”, disse à piauí Letícia Braga, advogada, teóloga e mestre em direito canônico.
O tribunal, no entanto, discordou da tese. Em primeira e em segunda instâncias, deu ganho de causa a Brígida Rachid, concluindo que as irmandades são instituições privadas e não estão sujeitas a intervenções da Igreja. A decisão mais recente, de 13 de agosto, foi aprovada com unanimidade na turma presidida pelo desembargador José Carlos Paes. A intervenção, com isso, foi suspensa. Os advogados da Arquidiocese dizem que vão recorrer da decisão.
O litígio, no entanto, revelou outras informações importantes que continuam sem resposta.
Brígida Rachid administra a Venerável Irmandade do Glorioso Mártir São Braz e a Venerável Ordem 3ª de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte desde 2011. Como Cláudio Castro, herdou a função dos pais. “Não é bem uma herança. Foi ela quem aprendeu o ofício e acabou como provedora e juíza, porque era boa no que fazia”, diz Taciana Marinho, que, além de advogada, é amiga de longa data de Brígida.
A empresária é brigada com o irmão Aloísio, que, no processo, depôs em favor da Arquidiocese. Ele afirmou que Brígida assumiu as irmandades “por debaixo dos panos”, excluindo membros antigos, e que faturou milhões graças aos imóveis que passou a administrar. Brígida preside as duas associações junto com sua esposa, Sílvia Helena Monteiro. O tesoureiro é um outro irmão seu, Alexandre, que é professor de música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Uma cunhada de Brígida, Eliana Lima Arruda, ocupa a função de secretária. Em uma reportagem venenosa de 2024, o Diário do Rio caracterizou as irmandades como “um verdadeiro negócio de famiglia”. Também disse que a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte ficou conhecida como “Nossa Senhora dos Rachid”.
A intervenção nas duas irmandades aconteceu em fevereiro deste ano, durante o Carnaval. Formalmente, isso é feito por meio de um Ato Declaratório expedido pela Arquidiocese. Com esse documento em mãos, o interventor – geralmente um padre – ganha autoridade para fazer as mais variadas mudanças, da troca de fechaduras dos imóveis a saques nas contas das associações. Tão logo foi informada do que estava acontecendo, Brígida acionou Marinho, que abriu o processo no Tribunal de Justiça do Rio com tutela de urgência. Antes de a ação ser julgada, no entanto, o interventor teve tempo de sobra para tomar algumas providências. De posse de documentos provisórios emitidos em cartório, o padre Ramon de Assis fez vários saques da conta das irmandades no banco Itaú, totalizando cerca de 1 milhão de reais. O comprovante foi anexado ao processo pela defesa de Brígida.
Assis alega que os saques serviram para a compra de um equipamento de som e para custear algumas reformas na igreja. Extratos bancários obtidos pela piauí, no entanto, mostram que as transferências não pararam por aí. Alguns depósitos foram feitos em contas de membros da igreja, como duas transferências de 50 mil reais para Assis, totalizando 100 mil, e uma de 50 mil para André Sampaio, chefe do vicariato que a Igreja havia criado, anos antes, para acompanhar de perto o trabalho das irmandades. Outros 12 mil reais foram destinados à própria Mitra, e 5 mil foram para a conta do advogado que defendeu a Arquidiocese do Rio no processo judicial, Matheus Miranda de Sá Campelo. Mais difícil de explicar é a transferência de 60 mil reais para a empresa Pedro Eyler Ltda, cujo único sócio é Cláudio Castro e que funciona no mesmo endereço da sede de sua imobiliária, em Laranjeiras.
Ainda há outras movimentações não explicadas: 39 mil reais tirados das irmandades foram gastos nas Casas Bahia. Já na iPlace, loja brasileira que vende eletrônicos da Apple, os interventores fizeram compras que totalizam 23 mil reais. Desembolsaram também 3 mil reais em compras na Sephora, loja de produtos de beleza. Em nota enviada à piauí, a Arquidiocese não explicou os gastos. Afirmou, no entanto, que todas as suas ações foram “em prol das irmandades e todas as despesas incorridas, ínsitas às atividades de auditá-las, recuperá-las e promover os seus fins religiosos e sociais, são objeto de prestação de contas”.
A defesa de Brígida também alega que os interventores avançaram de forma irresponsável sobre o patrimônio histórico da Igreja da Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, localizada na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Rio Branco. Acompanhados de trabalhadores que atuaram na reforma, Castro e Assis retiraram de lá uma série de itens. Entre eles, um ostensório (receptáculo que guarda a hóstia sagrada) feito de ouro, uma âmbula (recipiente para guardar óleos santos), dois cálices, um turíbulo (objeto usado para queimar incenso), um conjunto de galhetas (recipientes que guardam o vinho consagrado) e um gomil com uma bacia (objetos litúrgicos com que o sacerdote lava as mãos durante a missa).
No lote de peças retiradas, havia ainda dois vitrais da Anunciação – a visita do anjo Gabriel à Virgem Maria, para anunciar que ela seria a mãe de Cristo – que estavam instalados nas portas para-vento que dão acesso à sacristia. Uma nota técnica do Iphan, publicada em 22 de abril depois de técnicos do instituto visitarem a igreja, afirmou que a retirada dos vidros representa “um sério risco de danos durante a remoção e também durante a futura remontagem”. A nota também criticou a desmontagem do órgão de tubos da Boa Morte, feita por um profissional que, segundo o Iphan, não tinha competência técnica atestada. As peças do antigo instrumento, até então instalado no coro da igreja, foram guardadas nas tribunas da parte esquerda do templo. Estão em condições inadequadas de conservação, segundo a nota técnica, que também alertou para “sérios riscos de extravio de peças que pode impossibilitar a remontagem correta”.
Os interventores justificam o desmonte do órgão alegando que isso foi necessário em razão do risco iminente de desabamento do coro – que também foi desmantelado em seguida. Castro diz que a madeira do coro estava podre, devorada por cupins. Pareceristas do Iphan confirmaram que os insetos haviam atacado o madeirame. No momento da vistoria, porém, “não foram encontrados xilófagos [insetos que comem madeira] em atividade”, esclarece a nota técnica. Um “forte odor de veneno” indicava que os cupins já haviam sido exterminados. Castro diz que as peças sacras agora estão sob tutela do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, no subsolo da Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, no Centro.
Em abril, uma reportagem do Diário do Rio citou um parecer do Iphan que denunciava a deterioração geral da igreja. Mas o jornal de que Castro é dono nada disse sobre o Auto de Infração que o mesmo Iphan emitiu contra a Arquidiocese por causa das mudanças feitas na Boa Morte. A parecerista do Iphan, Maria Lopes Moraes, não encontrou evidências de que o coro estivesse para desabar e condenou as alterações precipitadas que se fizeram no lugar: “As estruturas de madeira não devem sofrer intervenções sem avaliações prévias por profissionais com experiência em preservação e restauração de estruturas históricas.”
As trapalhadas da intervenção deram munição à causa de Brígida. Taciana Marinho e seu escritório defendem a tese de que as modificações no coro foram feitas apenas para justificar a intervenção e assim permitir que Castro e suas empresas se apoderassem dos imóveis da irmandade. Mas a irmandade dos Rachid tampouco demonstrou grande zelo pela Nossa Senhora da Boa Morte. Há indicativos de que, para além do descuido com o patrimônio histórico, a associação também negligenciou os ritos mais sagrados do catolicismo. Nos autos da ação, os advogados da Arquidiocese acusam a irmandade de deixar hóstias mofarem esquecidas dentro da sacristia. Já os advogados dos Rachid sugerem que o incidente foi plantado pela Arquidiocese. Trata-se de um desrespeito grave a um dos sete sacramentos da Igreja Católica: a Eucaristia, que recorda a Última Ceia, quando Jesus disse aos apóstolos que o pão é seu corpo e o vinho, seu sangue. “Significa que a irmandade deixou o corpo de Cristo apodrecer”, diz Braga, a advogada consultada pela piauí. “Isso, por si só, já justifica a intervenção.” A defesa de Rachid nega a acusação.
Questionada pela piauí sobre sua relação com Cláudio Castro e a imobiliária Sérgio Castro, a Arquidiocese não respondeu. O padre Allan Galvão, responsável pela assessoria de comunicação, disse que iria apurar os fatos internamente. Pouco depois disso, no entanto, foi Castro quem entrou em contato com a piauí sem ter sido provocado naquele momento. Ele enviou uma mensagem por WhatsApp que dizia o seguinte: “Ir por este lado vai transformar qualquer matéria numa piada.” Depois, por meio de nota, a Arquidiocese reforçou o argumento que tem empregado no processo judicial: “As irmandades são associações públicas de fiéis que, por essência, na forma da lei, estão sujeitas à fiscalização da Arquidiocese. A intervenção nessas entidades se destina a assegurar a administração proba e transparente de acordo com a finalidade para que foram criadas.” Os advogados Daniel Aguiar e Matheus Miranda, que representam a Arquidiocese no processo judicial, receberam a piauí para uma conversa, mas pediram que ela não fosse gravada e que seu conteúdo não fosse publicado.
Castro, por sua vez, afirmou por meio de nota que não recebe qualquer remuneração por seu trabalho na Igreja. Destacou a “administração profissional” que a Sérgio Castro tem feito com os imóveis das irmandades. Disse que, quando assumiu a irmandade da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, em 2023, o prédio que pertence a ela na Rua Sete de Setembro “tinha grande parte de suas unidades sem uso”, e que hoje o aluguel desses imóveis sustenta as atividades da igreja na Rua do Ouvidor. “No caso da Ordem da Boa Morte, minha atuação se limitou ao contrato de prestação de serviços imobiliários firmado pela instituição com a empresa. Fomos contratados para prestar serviços, o que é natural considerando que a Sérgio Castro Imóveis é a maior administradora imobiliária da região do Grande Centro, com o maior número de imóveis anunciados, forte presença no mercado e três escritórios no próprio bairro.” O empresário não esclareceu, contudo, o repasse de 60 mil reais da irmandade à empresa da qual é sócio. Disse apenas o seguinte: “Toda a movimentação financeira ocorreu exclusivamente em nome e por conta da instituição, de forma documentada e auditável. Não há qualquer relação entre essas operações e minhas atividades religiosas ou voluntárias.”