Apesar de queda na desigualdade, rendimento médio do 1% melhor remunerado dos brasileiros era 32,5 vezes o de quem está entre os 50% que ganham menos
22maio2023_10h05
Lara Machado e Renata Buono
Os dados da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) sobre os rendimentos de 2022 mostram a volta de uma massa de trabalhadores para o mercado e a injeção de rendimento nas camadas mais pobres com o Auxílio Brasil. A desigualdade teve uma leve queda – mas persiste em níveis altos. O pequeno aumento de renda e a baixa redução da desigualdade compõem um conjunto de dados que mostram o país recuperando, em 2022, as condições de vida de 2012, quando a pesquisa começou a ser feita. De 2021 a 2022, o rendimento médio subiu 2% – mas o novo valor, R$ 2.533, é 7,6% menor que os R$ 2.726 recorde da série, em 2014. O =igualdades desta semana investiga as nuances das perdas e dos ganhos dos brasileiros em 2022.
Em 2022, o rendimento médio dos 1% que melhor ganham no Brasil foi 32,5 vezes maior que o rendimento médio dos 50% que recebem menos. A disparidade vai além dos dados percentuais: são cerca de R$ 17,5 mil contra R$ 540 mensais. Apesar da alta desigualdade, os dados apontam uma melhora. Em 2021, a razão era de 38,4 vezes, cerca de R$ 17,5 mil contra R$ 455. Antes da pandemia, em 2019, o rendimento médio mensal real do trabalho do 1% da população com os rendimentos mais elevados era de R$ 20,6 mil, o que corresponde a 39,8 vezes o rendimento dos 50% da população com os menores rendimentos, uma média de R$ 517.
A volta dos brasileiros ao mercado de trabalho gerou um aumento de 5,4 vezes no percentual de pessoas com algum tipo de rendimento. Em 2021, 59,8% dos brasileiros tiveram algum tipo de rendimento, cerca de 127 milhões de pessoas; em 2022 foram 134 milhões, 62,6% – maior proporção da série histórica iniciada em 2012. Considerando os números brutos, o aumento é de cerca de 7 milhões de pessoas, superior à população da cidade do Rio de Janeiro, que tem 6,6 milhões de habitantes. O incremento mais significativo foi na população com rendimento recebido em trabalhos, cerca de 7,7 milhões. A população que recebe aposentadorias e pensões diminuiu cerca de 1,7 milhões, e os que contam com rendimentos diversos caíram em 3,4 milhões. Rendimento médio mensal real da população com rendimento de todas as fontes foi de R$ 2.533, 2% maior que em 2021 – R$ 2.483 – e 7% menor que no recorde da série, em 2014, quando o rendimento médio era de R$ 2.726. Apesar da queda do rendimento médio de todas as fontes somadas, entre 2014 e 2022, houve um crescimento nos ganhos de outros rendimentos, categoria que inclui valores vindos de bolsas de estudo, caderneta de poupança, aplicações financeiras, programa social privado, direitos autorais, entre outros. Em 2014, eram R$ 692 contra os R$ 814 de 2022. Entre 2021 e 2022, aumentou de 8,6% para 16,9%, a proporção de domicílios com algum beneficiário do Auxílio Brasil/Bolsa Família. Ao mesmo tempo, caiu, de 15,4% para 1,5%, a proporção de domicílios com algum beneficiário de outros programas sociais, o que inclui o auxílio emergencial. Apesar do aumento, os dados mostram que houve apenas a recuperação do cenário de 2012, quando 16,6% dos lares brasileiros contavam com o Bolsa Família. O percentual dos domicílios contemplados com o auxílio vinha caindo desde 2012, mas vale ressaltar que nos anos com as menores proporções – 2020 e 2021 – os outros programas sociais ocuparam o protagonismo: antes da pandemia eram apenas 0,7% de lares contemplados. Em 2020 e 2021 foram 23,7% e 15,4% respectivamente. O auxílio emergencial oferecido durante a pandemia foi encaixado nessa categoria. Considerando o ganho médio domiciliar per capita dos 5% que ganham menos, uma família precisaria ter 8 pessoas para comprar uma cesta básica em 2022. Entre 2021 e 2022 o rendimento dos 5% mais pobres mais que dobrou: saiu de R$ 43 para R$ 87. Segundo dados do Dieese, em 2022 a cesta básica custou R$675 em média. A desigualdade também tem dimensão regional: levando em conta a variação de renda entre os 5% mais pobres de cada estado, os de Roraima têm a menor renda, R$ 37, e os de Santa Catarina, a maior, R$ 236. Uma diferença maior que 6 vezes. De acordo com o índice de Gini, a Paraíba foi o estado mais desigual do Brasil em 2022. Lá, o rendimento per capita levando em consideração a média domiciliar do 1% mais rico chega a R$ 23 mil, enquanto os 5% mais pobres recebem R$ 67 mensais. No país, a média é de R$ 17 mil para os 1% mais ricos e R$ 87 para os 5% mais pobres, uma diferença de 200 vezes. Tomando os 1% mais ricos do país, a Paraíba lidera com o maior rendimento médio mensal. Já considerando os 5% mais pobres, o Acre lidera com a menor renda média, R$ 34 mensais. Em 2020, ano com a maior desigualdade de rendimento entre brancos e pretos desde o começo da série, para cada R$ 100 que uma pessoa branca recebia, uma pessoa preta recebia R$ 56. Em 2022, o valor subiu para R$ 60, uma diferença de 6%. A diferença é mais acentuada no estado do Rio de Janeiro, onde o valor ficou em R$ 51. O Ceará foi o estado com menor desigualdade de renda entre pretos e brancos em 2022: para cada R$ 100 recebidos por um branco, R$ 84 eram recebidos por um preto.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), Data.Rio