O novo ano trouxe uma nova explosão de casos de Covid-19. Na semana passada, o número de casos registrados em todo o mundo foi o maior desde o início da pandemia, graças à rápida disseminação da variante Ômicron. Para evitar que surjam novas variantes e que esse ciclo se repita de tempos em tempos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu que os países se esforcem para garantir que, até abril, 40% da população mundial já esteja vacinada. Até junho, a meta é alcançar 70%. No momento, contudo, esse é um cenário improvável. A imunização não chegou a todos os países da mesma forma. Os Estados Unidos, sozinhos, aplicaram mais doses da vacina do que todo o continente africano, onde a cobertura vacinal continua baixíssima. A Guiné-Bissau, por exemplo, se mantiver o atual ritmo, levará 43 anos para imunizar 70% de sua população. O Haiti, na América Central, só vacinou 0,6% de seus habitantes, enquanto do outro lado do mundo a Nova Zelândia já imunizou 78% de sua população. Esse desequilíbrio se repete inclusive entre regiões do mesmo país. No Brasil, o estado de São Paulo vacinou o dobro de Roraima, proporcionalmente à população. O =igualdades desta semana ilustra a desigualdade no acesso às vacinas.
Os Estados Unidos usaram, até a primeira semana de janeiro, 512 milhões de doses de vacina, incluindo doses de reforço, para vacinar seus habitantes. A África, que abriga 54 países e o triplo da população norte-americana, aplicou apenas 310 milhões – quase metade das doses utilizadas pelos EUA. O continente africano tem a menor cobertura vacinal do mundo, com 9,3% da população completamente imunizada. No fim do ano passado, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, afirmou que as baixas taxas de vacinação em alguns países criaram as “condições perfeitas” para o surgimento de novas variantes e que a desigualdade na distribuição de vacinas foi uma das “grandes falhas ocorridas no passado”. A falha, contudo, não foi corrigida.
A China, um dos países mais populosos do mundo, precisou de apenas nove meses para imunizar 70% da sua população. A Guiné-Bissau vacinou até a primeira semana de janeiro 1,2% dos seus habitantes. Se mantiver o ritmo atual de aplicação de doses, o país africano levará 516 meses para chegar à cobertura vacinal de 70% – ou seja, só atingirá essa marca em 2065, daqui a 43 anos.
Enquanto a Nova Zelândia imunizou 78% da população local até o início de janeiro deste ano, no Haiti apenas 0,6% dos habitantes completaram o esquema vacinal. O país caribenho de 11 milhões de habitantes foi o último da região da América Latina e Caribe a iniciar a imunização contra a Covid-19, em julho de 2021. A campanha só teve início depois que os Estados Unidos doaram 500 mil doses ao país. Com isso, o Haiti chegou ao ano de 2022 com uma das menores coberturas vacinais do mundo.
Em 2021, a Organização Mundial da Saúde se opôs ao uso de doses de reforço antes que a maioria da população mundial tivesse acesso às duas primeiras doses do imunizante (ou à vacina de dose única). Mesmo assim, países com doses sobrando começaram a aplicar o reforço vacinal. É o caso dos Estados Unidos. Só na cidade de Nova York, o número de doses booster aplicadas até janeiro deste ano é equivalente ao que foi utilizado no reforço vacinal das Filipinas, país que tem 14 vezes a população da cidade norte-americana. Isso significa que em Nova York a dose de reforço já chegou para 27,5% da população. Nas Filipinas, apenas para 2% dos habitantes.
Apesar de vizinhos, Israel e Palestina tiveram experiências distintas na imunização de seus povos. A cada nove israelenses imunizados até o início de janeiro, só quatro palestinos se encontram na mesma condição. Ou seja, o número de habitantes imunizados no território de Israel é, proporcionalmente à população, mais que o dobro do número de imunizados no território ocupado pela Palestina.
O desequilíbrio na cobertura vacinal se repete inclusive entre regiões do mesmo país. É o caso do Brasil, em que alguns estados estão muito à frente de outros na corrida pela imunização. Para cada grupo de 100 paulistas, 79 já foram imunizados; em Roraima, a proporção é de 40 a cada 100 habitantes. Ou seja, o estado de São Paulo vacinou, proporcionalmente, o dobro de Roraima.
Dentro dos estados também há desequilíbrio na cobertura vacinal. Até dezembro de 2021, apenas 11% da população de São Félix do Xingu, no Pará, completou o esquema vacinal, segundo dados da prefeitura. Já Belém, capital do mesmo estado, tinha 73% dos habitantes totalmente imunizados.
Fontes: Our World in Data; Organização Mundial da Saúde; Governo da China; Departamento de Sáude da cidade de Nova York; Governo do estado de São Paulo; Governo do estado de Roraima; Prefeitura de Belém; Prefeitura de São Félix do Xingu.