Finalmente chegou ao Supremo Tribunal Federal a tão aguardada lista de Rodrigo Janot, elaborada com base nas delações dos executivos da Odebrecht. Em questão de semanas, quando o ministro Edson Fachin se pronunciar a respeito dos pedidos, o Brasil vai conhecer os nomes das autoridades com foro privilegiado que o Ministério Público considera passíveis de um processo criminal por corrupção, lavagem de dinheiro ou falsidade ideológica. Na estratégia inicial traçada pela Odebrecht, quando a empresa decidiu buscar um acordo, deveria ser um momento de alívio. Por esse plano, estaria começando agora uma nova etapa, em que a Odebrecht seria capaz de recuperar o crédito e iniciar uma lenta retomada financeira a partir do fechamento do acordo de leniência com os governos do Brasil, dos Estados Unidos e da Suíça. Na prática, porém, está ocorrendo justamente o contrário. Enquanto o mundo político treme nas bases com medo das revelações da Odebrecht, a empreiteira luta pela própria sobrevivência. E, nessa batalha, o inimigo é o próprio governo Michel Temer.
A situação é complexa. O acordo da empreiteira com o Ministério Público Federal inclui multas bilionárias e o cumprimento de penas por parte dos executivos, em troca da garantia de que a Odebrecht fique livre de novos processos e possa voltar a ser contratada por governos. Mas órgãos federais que fiscalizam o emprego do dinheiro público – a Advocacia-Geral da União, AGU, a Controladoria-Geral da União, CGU, e o Tribunal de Contas da União, TCU – não se consideram contemplados pelo acordo, e não descartam abrir novos processos contra a empresa. Com isso, a Odebrecht está com o crédito suspenso junto ao BNDES, não consegue atrair sócios e nem vender empresas do grupo. Nos bastidores, os executivos da empresa só se referem à presidente do banco de fomento, Maria Silvia Bastos Marques, como “aquela Maria Silvia”. Consideram que o banco é parte de uma estratégia do governo Temer para acabar com a Odebrecht, seja por vingança – já que seus principais integrantes foram implicados nas delações –, seja pelo medo de serem acusados de algum tipo de conluio com a empreiteira.
Estão suspensos, hoje, os desembolsos do BNDES a dezesseis projetos da empreiteira fora do Brasil, espalhados pela África e pela América Latina. São quase 9 bilhões de dólares em contratos fechados ao longo dos governos Lula e Dilma, agora em xeque. A própria Odebrecht afirma que tem 1,5 bilhão de reais retido no banco por serviços já prestados no exterior. O banco, por sua vez, agora só libera o dinheiro com a assinatura de um termo de compromisso que, entre outras coisas, ateste que contratos com os governos estrangeiros foram feitos de forma limpa. Não adiantou o procurador Deltan Dallagnol enviar cartas a todos os órgãos públicos atestando o fechamento do acordo com a empreiteira. Sem o tal termo, nada feito.
Em território nacional, o cenário é ainda mais arrasador. As dezenas de obras da Odebrecht espalhadas pelo Brasil hoje se resumem a cinco, das quais três – Aeroporto do Galeão, a Rota do Oeste e linha 6 do Metrô de São Paulo – dependem de financiamento do BNDES para serem concluídos. Um quarto projeto, o corredor de BRT que a prefeitura do Rio começou a construir na Avenida Brasil, está parado. Só a obra do submarino brasileiro continua, e mesmo assim a passos de cágado. Os 170 mil funcionários de outrora estão reduzidos a cerca de 90 mil, dos quais 90% atuando fora do Brasil.
No mercado, a opinião geral é a de que a empreiteira dificilmente sobreviverá a esse momento, e que há um risco real de a holding da família Odebrecht se tornar, no médio prazo, uma acionista minoritária em negócios comandados por outros grupos. Na Odebrecht, a ansiedade é tão grande quanto a revolta pelo fato de o sacrifício da expiação pública não ter dado os resultados esperados. “Pagamos, mas não levamos”, é a frase que resume a frustração geral. Pelo jeito, a primeira vítima da lista do Janot será a própria Odebrecht.