Campo do Tenente é uma cidade pacata, localizada a cerca de 100 km de Curitiba. Tem 8 mil habitantes e abriga um dos mais belos palacetes do Paraná: o Casarão Villa Anna. Construído nos anos 1920, ele ficou desocupado durante anos e foi posto à venda em 2019. Havia, na ocasião, duas formas de comprá-lo: com todo o mobiliário incluso, ou sem nada. A prefeitura, interessada no palacete, optou pela segunda opção. Comprou o edifício sem a decoração, com o objetivo de convertê-lo em sede da Secretaria Municipal de Educação e Esportes.
Foi então que os funcionários da prefeitura encontraram certos pertences muito singulares deixados pelos ex-proprietários. Nas estantes, havia livros marcados com suásticas. Numa parede, um quadro de 1 metro de largura intitulado O dia de Potsdam. Assim ficou conhecida a data de 21 de março de 1933, quando Adolf Hitler, chanceler da Alemanha, encontrou-se na cidade de Potsdam, nos arredores de Berlim, com o então presidente do país, Paul von Hindenburg, herói da Primeira Guerra Mundial. O encontro foi planejado pelo recém-nomeado ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, como uma consagração do nascente regime nazista, ungido por um representante do velho establishment. A elite militar do país estava presente.
Hitler e Hindenburg aparecem no centro da pintura. Uma etiqueta atrás da tela documenta, em alemão, sua origem: Der Schule Campo do Tenente / vom Volksbund für das Deutschtum im Ausland über den ldl (À escola de Campo do Tenente, / da Associação Popular para Germanidade no Exterior, por intermédio da LDL). LDL é a sigla da Landesverband Deutsch-Brasilianischer Lehrer (Liga Nacional de Professores Teuto-Brasileiros). A data do envio da obra para “Curityba” foi 30 de abril de 1936.
O dia de Potsdam, quadro de autor desconhecido, encontrado no Casarão Villa Anna (Foto: Reprodução)
O palacete tem outros cômodos peculiares. No subsolo, há três túneis. Dois deles, malconservados, já não permitem circulação. O terceiro, com 200 metros de comprimento, conduz até os fundos da casa, onde passa um riacho. Com o teto côncavo, tem mais de 1 metro de largura, permitindo o trânsito de duas pessoas lado a lado. Ali, a prefeitura encontrou correntes e peças de madeira.
O homem que ergueu o palacete era natural de Hamburgo. Chamava-se Enrich Stahlke – ou, como ficou conhecido no país de adoção, Henrique. “Ele se casou com Anna Grein em 1906, aqui no Brasil”, conta o historiador e escritor Fábio Koifman, um dos maiores especialistas em imigração no Brasil. O nome do casarão é uma homenagem à esposa de Stahlke.
Quem vendeu o casarão à prefeitura foi Marga Stahlke Grein, descendente de Henrique e Anna. Ela hoje mora em uma propriedade rural. Seu filho, Guilherme, é presidente da cooperativa agrícola mais importante da região. Leia aqui a reportagem completa.