Na abertura do segundo dia do Festival piauí de Jornalismo, o diretor de parcerias de jornalismo e entidades cívicas do YouTube, Brandon Feldman, foi sabatinado sobre um tema delicado: a decisão de desmonetizar canais da plataforma, entre eles os da emissora brasileira Jovem Pan. “Para monetizarmos e recomendarmos conteúdos de notícia, os critérios são altos, o sarrafo tem que estar lá em cima. Somos uma plataforma aberta para todo mundo usar, mas o canal precisa provar que tem qualidade para ser monetizado. Temos anunciantes que esperam conteúdo saudável, sem desinformação. Quando observamos essa violação a gente interfere. E uma dessas interferências é remover a monetização. Foi isso o que aconteceu com a Jovem Pan. Não estavam cumprindo nossas politicas”, disse Feldman.
O YouTube é patrocinador do festival. Feldman conversou com Ana Clara Costa, da revista piauí, e Pedro Doria, editor do Meio. E explicou como o YouTube faz para conciliar diferentes legislações e conceitos de liberdade de expressão nos mais de cem países onde a plataforma está presente. “Somos uma empresa global, temos padrão de regras globais. Não temos abordagens específicas para cada país. Quando a gente cria uma forma de lidar com desinformação, serve para todos os países. A gente tem diferentes sistemas de revisão que nos auxiliam.”
Esses sistemas de revisão, explicou Feldman, passam por análises humanas, com a consulta de pesquisadores e acadêmicos, mas também por sistemas eletrônicos treinados para identificar violação das regras de uso. E um dos maiores desafios que a empresa enfrenta é a disseminação de fake news. Ele destacou que os critérios não incluem a orientação política dos canais, mas sim o recurso a expedientes como desinformação e discurso de ódio. Reportagens da piauí mostraram como a Jovem Pan se engajou no discurso golpista em defesa de Bolsonaro, com o recurso a fakenews, e como acabou punida pelo YouTube.
“O aumento de desinformação reflete o que acontece nas sociedades hoje. Fazemos nossa parte para ser uma plataforma responsável. Durante as eleições no Brasil , removemos dez mil vídeos, e 80% deles tinham menos de 100 visualizações. Ou seja, nosso sistema remove esses conteúdos no YouTube antes que o dano da desinformação se espalhe. A gente identifica e remove rápido. Em diversos países e idiomas”, disse o executivo do YouTube.
Uma pergunta da plateia questionou se Feldman não considera demorada a decisão de retirar a monetização da Jovem Pan. “Quando decidimos restringir a monetização, fazemos caso a caso especificamente. Os critérios que aplicamos para a monetizar ou retirar a monetização são claros e justos.
Pedro Doria quis saber como a plataforma faz para combater os canais que dão um jeito de burlar as regras de violação do YouTube.
“Esse é um dos itens mais desafiadores na área de moderação de conteúdo. As mensagens codificadas dos conteúdos que desinformam e furam nossas regras. Nas duas primeiras violações, restringimos o canal. Com três strikes, são banidos do YouTube. Essa é a consequência mais séria. Já suspendemos 2.500 canais por violações relacionadas às eleições brasileiras de 2022.”
Esses conteúdos que driblam as normas do YouTube para se manter “no limite da desinformação” geralmente disseminam teorias da conspiração. Durante a eleição presidencial no Brasil, foram identificados canais que espalhavam dúvidas sobre o resultado da eleição e a confiabilidade das urnas. “Mostramos um painel de informações com dados do TSE ao lado desses vídeos, para que o usuário esclareça as dúvidas. Além disso, nossos algoritmos de recomendação limitam a visibilidade desses conteúdos”, disse Feldman.