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    ILUSTRAÇÃO: PAULA CARDOSO

questões eleitorais

Pedofilia, estupro, incesto: dois boatos de difamação desmentidos por dia no 2º turno

Haddad foi o principal alvo; no Twitter, notícia falsa sobre “kit gay” foi uma das mais mencionadas

Marcella Ramos | 28 out 2018_18h19
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No segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a produção de conteúdos falsos apostou em difamação. Desde o dia 7 de outubro, 39 boatos sobre a índole, as opiniões ou atos criminosos atribuídos aos candidatos foram desmentidos por agências e veículos de verificação do país – ou quase dois por dia. O principal alvo dentro desse universo foi o candidato do PT e sua vice, Manuela D’Ávila, que protagonizaram 25 histórias. A mais recente delas é sobre o petista ter estuprado uma menina de 11 anos, o que é falso. Um dos boatos que mais circularam foi sobre Hamilton Mourão, candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro. Haddad reproduziu a afirmação de que o general teria sido torturador na ditadura, o que é mentira, como aponta a Agência Lupa.

Boatos a respeito de Haddad se intensificaram no segundo turno, principalmente aqueles sobre “temas tabu”. Um banner enganoso que associa o presidenciável à defesa da pedofilia circulou no WhatsApp. A imagem traz um texto que leva a entender que a candidatura tem a proposta de legalizar a pedofilia, com um selo “Haddad é Lula”. O conteúdo foi desmentido pela equipe do Comprova em 15 de outubro. A montagem se baseia no Projeto de Lei 236/2012, o Novo Código Penal, que tramita no Senado, mas está parado desde 2017. Haddad não tem qualquer relação com a proposta. Além disso, não há qualquer menção a pedofilia no texto. Na mesma semana, foi divulgado que o candidato defendia o incesto num de seus livros, o que também é mentira. O boato surgiu quando Olavo de Carvalho disse isso em suas redes sociais. Ele se corrigiu horas depois e apagou a publicação, mas a mentira não deixou de circular. O Comprova também desmentiu o boato.

Manuela D’Ávila, que durante o primeiro turno também foi alvo de boatos, como, por exemplo, uma montagem que simulava tatuagens de Lenin e Che Guevara, não deixou de aparecer em histórias mentirosas nas últimas semanas. A candidata a vice foi acusada de defender o fim dos feriados cristãos, história desmentida pelo Fato ou Fake. Além desse, outro boato dizia que ela prometeu que a bandeira LGBT “tremulará junto com a brasileira”, algo que ela nunca defendeu desta forma.

Além de vítima, Haddad teve seu momento de espalhar inverdades. Foi numa sabatina do Grupo Globo que o petista declarou que Mourão teria sido torturador na ditadura. A afirmação do petista foi baseada numa declaração equivocada do cantor Geraldo Azevedo durante um show na Bahia.  A Agência Lupa apurou que o general entrou para o Exército em 1972, anos depois de Azevedo ter sido preso pelo regime. O cantor assumiu que se equivocou, assim como fez o candidato. O boato, no entanto, continuou circulando.

Logo na primeira semana do segundo turno, os boatos relacionando a figura de Bolsonaro ao preconceito contra nordestinos também se intensificaram. Posts nas redes sociais reproduziam imagens do candidato ao lado do filho, que teve escritos xenofóbicos feitos em sua camisa digitalmente. Outro boato foi espalhado por um vídeo que seria de outro filho do candidato incitando o ódio aos nordestinos. Os dois boatos foram desmentidos pelas equipes do Comprova e do Fato ou Fake. Mais recentemente, circulou um falso print da página do candidato, no qual ele defendia a junção do Sergipe com a Bahia. A história foi desmontada pelo Aos Fatos e o Fato ou Fake.

A desconfiança em relação ao processo eleitoral continua estimulando a divulgação de conteúdos falsos nas redes. Durante as três semanas de campanha no segundo turno, o projeto Comprova, a Agência Lupa, o Aos Fatos e o Fato ou Fake publicaram 36 desmentidos de histórias virais relacionadas ao Tribunal Superior Eleitoral, pesquisas eleitorais e urnas. Nas duas semanas que antecederam o primeiro turno, 32 notícias falsas ligadas às urnas eletrônicas foram desmascaradas pelas mesmas agências. O tema continua em alta, neste domingo de decisão das eleições 2018.

 

No Twitter, Facebook e YouTube, segundo um relatório divulgado neste domingo pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas, as notícias falsas que mais produziram engajamento, juntas, desde 22 de setembro, foram sobre o “kit gay”, o livro de Haddad – no qual ele teria defendido o incesto –, a suposta vontade de Bolsonaro de mudar a padroeira do Brasil e um boato da defesa da pedofilia. Ao todo, essas notícias que unem política a temas relacionados a costumes geraram mais de 1,1 milhão de menções no Twitter, superando o tema “urnas”, o assunto isolado mais comentado nas redes nesse período. No YouTube, vídeos sobre essas notícias falsas foram vistos mais de 1,5 milhão de vezes e receberam 3 milhões de interações no Facebook e no Twitter.

Nesse conjunto de notícias falsas que buscam atingir a índole dos candidatos, as que receberam maior número de menções foram sobre o “kit gay”, nome que opositores deram ao material “Escola sem Homofobia”. Foram feitas mais de 1 milhão de menções sobre o assunto desde 22 de setembro. O material foi proposto e vetado em 2011, depois que membros conservadores do Congresso fizeram campanha contra a circulação do kit. Nesta eleição, o assunto voltou, já que Bolsonaro foi um dos principais críticos da proposta sete anos atrás. Os boatos usam o suposto “kit gay” para atingir Haddad, como se ele fosse responsável pelo projeto, apresentado sempre de maneira deturpada. Recentemente, o Aos Fatos publicou um desmentido sobre essa relação. Links sobre o assunto no Facebook e no Twitter tiveram mais de 2,3 milhões de interações. No YouTube, vídeos sobre o assunto foram vistos mais de 1,4 milhão de vezes.

 

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