A partir de segunda-feira, 16 de julho, a piauí começa a publicar em seu site colunas diárias de convidados e jornalistas da revista sobre o processo eleitoral no país. De segunda a sábado, nove colunistas escreverão sobre a campanha deste ano.
“Os colunistas têm diferentes orientações políticas, o que é saudável”, diz o diretor de Redação da piauí, Fernando de Barros e Silva, “mas convergem no diagnóstico de que a democracia no país se debilitou e vai enfrentar em outubro uma prova de fogo.”
As colunas são parte do projeto de reformulação do site da revista, em curso desde o ano passado. “A piauí é uma publicação mensal, que tem nas reportagens longas e na preocupação narrativa o seu centro de gravidade. Passamos a dedicar uma energia nova ao site, que ganhou conteúdo específico, com ênfase na cobertura política”, afirmou Barros e Silva. “Estreamos em maio um podcast semanal dedicado ao assunto, o Foro de Teresina. Agora, reunimos um time de colunistas para acompanhar o processo eleitoral porque o momento brasileiro é dramático e pede reflexão.”
Os textos serão publicados até 3 de novembro, uma semana após o segundo turno das eleições. Alguns colunistas escreverão toda semana, outros vão se alternar a cada quinze dias.
Conheça os colunistas da piauí:
SEGUNDA-FEIRA
Carioca e botafoguense, Miguel Lago tem 30 anos. Formado em ciência política, com mestrado em administração pública, trabalha desde os 23 anos com mobilização cidadã e fiscalização de políticas públicas. Foi cofundador do Meu Rio e é o atual diretor do Nossas, uma organização sem fins lucrativos que funciona como laboratório de tecnologias para o engajamento cívico. É professor visitante na escola de governo da Sciences Po, em Paris.
“Não pretendo fazer análises estritas da campanha: alianças partidárias, performance ou estratégia eleitoral. Quero observar esse processo com uma lente maior. Acredito que o mundo ocidental atravessa uma transição política nebulosa do velho para o novo. A democracia é cada vez mais uma forma sem conteúdo: persiste formalmente, mas sua chama está se apagando. E o que seria esse ‘novo’ ainda não está claro. Quero analisar as eleições com esse olhar e entender quais movimentos são reveladores dessa transição. Além disso, este será o primeiro pleito em que a internet terá papel determinante no Brasil. Com um calendário eleitoral curto e financiamento restrito, a capilaridade das redes terá um papel maior. A questão é se a importância delas se aproxima dos tradicionais palanques eleitorais, tempo de tevê e máquinas partidárias.”
TERÇA-FEIRA
Rafael Cariello e Sergio Fausto se revezam às terças-feiras.
Repórter e editor da piauí entre 2012 e 2018, Rafael Cariello tem 41 anos. É formado em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coautor de Tempos Instáveis – O Mundo, o Brasil e o Jornalismo em 21 Reportagens da piauí (Companhia das Letras). Trabalhou na Folha de S.Paulo, jornal do qual foi correspondente em Nova York e Londres. Atualmente é roteirista do programa Conversa com Bial, da Rede Globo.
“Vou entrevistar cientistas políticos e tratar das pesquisas mais importantes da área, para ajudar a explicar como se organiza o nosso sistema político. O que é isso que chamamos de presidencialismo de coalizão? O que dizem os defensores e os críticos desse arranjo institucional? Qual o poder das assembleias legislativas nos estados? Por que os eleitores esquecem em quem votaram para os cargos legislativos? Por que temos a sensação de que há uma grande distância entre representantes e representados? Há relação entre o nosso sistema político e os problemas de adesão aos valores democráticos? Minha ideia é jogar luz sobre as regras do nosso jogo político e quais são as suas consequências para a democracia no Brasil.”
O cientista político Sergio Fausto tem 55 anos e é superintendente do Instituto FHC. Foi assessor dos ministérios do Planejamento e Orçamento, Desenvolvimento e Comércio Exterior e da Fazenda, entre 1995 e 2002, nos governos de Fernando Henrique Cardoso. Coordenou a edição de livros como Difícil Democracia, lançado pela Paz e Terra, e América Latina: Transformaciones Geopolíticas y Democracia, pela Siglo XXI.
“Estamos vivendo o fim de um ciclo aberto com a Constituição de 1988, com as condições fiscais e políticas da governabilidade próximas do ponto de exaustão. Será necessário estabelecer um acordo em torno de uma agenda mínima de recuperação dessas condições, sob pena de ingressarmos em território desconhecido, perigoso para a democracia. Se eu conseguir mostrar isso na coluna, ficarei satisfeito. Meu interesse sobre o processo eleitoral não se reduz ao resultado. Diz respeito também à qualidade do jogo. Em que medida esse processo facilitará ou não a governabilidade democrática no próximo mandato presidencial? Eis a questão. Espero que seja possível um mínimo de debate minimamente razoável sobre os reais desafios do país. Falo em mínimo e minimamente de propósito, por realismo.”
QUARTA-FEIRA
Marcos Nobre é professor de filosofia política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Cebrap. Tem 53 anos e escreveu, entre outros livros, Imobilismo em Movimento – da Abertura Democrática ao Governo Dilma (Companhia das Letras) e Como Nasce o Novo (Todavia), sobre Hegel.
“Desmoronou o modo de funcionar da política nos últimos vinte anos, sem que um novo modelo tenha surgido. As instituições entraram em colapso, estão operando de maneira disfuncional, descoordenada, arbitrária. Desde junho de 2013, o divórcio entre a sociedade e o sistema político só se aprofundou. Nesse quadro de ausência de legitimidade, para saber o que de fato estará em jogo nessa eleição, é preciso estar atento a cada momento para a diferença entre o que o eleitorado espera e o que o sistema político terá a oferecer. Essa é uma eleição atípica. Analisar o xadrez político nessas condições significa destacar esses elementos atípicos.”
QUINTA-FEIRA
O jornalista José Roberto de Toledo é o editor do site da piauí. Com 52 anos, dedica-se há três décadas à cobertura da política brasileira. Foi repórter e colunista da Folha de S.Paulo e do Estado de S. Paulo. Criou o Estadão Dados, foi comentarista e entrevistador na TV Cultura e na RedeTV! É coautor de três livros.
“Pretendo demonstrar na coluna que, se política é nuvem, é possível desenvolver um tipo de meteorologia para mensurá-la. Usar pesquisas para medir o vento da opinião pública é um exemplo. Mas o leitor não precisa temer uma numeralha: ao escrever, tentarei converter cifras e estatísticas em ideias.”
SEXTA-FEIRA
A cientista política Ana Carolina Evangelista e o diretor de Redação da piauí, Fernando de Barros e Silva, se alternam nas colunas às sextas-feiras.
Paulistana convicta, Ana Carolina Evangelista é mestre em relações internacionais pela PUC-SP e em gestão pública pela FGV-SP. Tem 40 anos e mudou-se recentemente para o Rio de Janeiro, onde atua como jornalista no programa GregNews e como pesquisadora do Iser (Instituto de Estudos da Religião). Trabalhou na prefeitura da então petista Marta Suplicy em São Paulo e, mais recentemente, assessorou o deputado estadual paulista Carlos Bezerra Junior, do PSDB. Dedica-se a estudos sobre o sistema político brasileiro nos mais diferentes aspectos: regras eleitorais, partidos, participação e cultura política. Nos últimos anos, tem acompanhado especialmente iniciativas de renovação dos legislativos no Brasil e na América Latina. É uma das fundadoras do coletivo de feministas #AgoraÉQueSãoElas.
“Minha coluna vai olhar especialmente o Legislativo. Quem são os candidatos? Quais as novidades nessa frente? É só mais do mesmo? Também pretendo tratar do segmento evangélico e sua interface com a política institucional. Fala-se genericamente – e de forma negativa – dos ‘evangélicos na política’, porque as lideranças mais estridentes são de fato ultraconservadoras e fundamentalistas. Mas, numa sociedade de população evangélica expressiva e crescente, é importante entender as nuances. Quero discutir o que os evangélicos representam, como eles têm promovido mudanças na base da sociedade e como isso se reflete no sistema político.”
Fernando de Barros e Silva tem 52 anos e é diretor de Redação da piauí desde janeiro de 2012. Trabalhou na Folha de S.Paulo, onde exerceu os cargos de editor de política e colunista, entre outras funções. Escreveu o livro Chico Buarque (Publifolha) e organizou o volume Tempos Instáveis – o Mundo, o Brasil e o Jornalismo em 21 Reportagens da piauí (Companhia das Letras).
“O país se desmanchou. Não tenho muita dúvida de que este é o momento mais delicado – eu ia dizer terrível – da vida brasileira desde o fim do regime militar. Assunto não nos falta, infelizmente. Meus textos devem refletir um pouco esse estado de espírito – ou esse estado de coisas – e vão variar conforme o andamento da campanha, procurando sempre debater aspectos relevantes ou pouco observados da disputa. Se no meio de alguma coluna ocorrer uma epifania, sorte do leitor.”
SÁBADO
Os jornalistas Elvira Lobato, de 64 anos, e Lucas de Abreu Maia, de 32, se revezam na coluna aos sábados.
A repórter Elvira Lobato trabalhou durante quase trinta anos na Folha de S.Paulo, onde foi repórter especial. É autora dos livros Instinto de Repórter (Publifolha), em que reconstitui a apuração de onze reportagens relevantes de sua carreira, e Antenas da Floresta (Objetiva), sobre as microemissoras de televisão que se espalham pelo interior dos estados da Amazônia:
“As eleições vão aparecer nas minhas colunas através dos relatos e das observações dos meus personagens, que refletirão sobre a realidade que os cerca. Embora eu viva na Zona Sul do Rio de Janeiro, meu olhar estará voltado, principalmente, para os personagens da periferia das grandes cidades e do interior do país, que são os mais afetados pela crise.”
O jornalista Lucas de Abreu Maia, foi repórter do Estado de S. Paulo e da revista Exame e é doutorando em ciência política na Universidade da Califórnia, em San Diego, onde estuda a relação entre ideologia e voto. Em sua coluna, pretende apresentar pesquisas acadêmicas americanas e mostrar como elas podem ajudar a interpretar a campanha no Brasil.
“Até que ponto o eleitor tem uma visão consistente do que é ideologia? Muito pouco, eu argumento. Em vez disso, ele se sente ligado psicologicamente a um grupo, como liberais ou conservadores, e adota aquela identidade. Sempre que for relevante, me basearei nas minhas especialidades: política americana, opinião pública, comportamento do eleitor. Mas também trarei contribuições da ciência política brasileira.”