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    FOTO: Leticia Moreira/Folhapress

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Pivô do escândalo Fifa, J. Hawilla morre em São Paulo

Em acordo de delação em 2013, o empresário confessou crimes e teve de pagar 151 milhões de dólares ao governo norte-americano

Allan de Abreu | 25 maio 2018_11h39
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Oempresário José Hawilla, 74 anos, pivô do escândalo Fifa, morreu na manhã desta sexta-feira, 25 de maio, em São Paulo, em decorrência de problemas pulmonares. Ele estava internado desde a última segunda-feira no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista.

J. Hawilla, como era conhecido, retornara ao Brasil em fevereiro deste ano, após quase cinco anos de exílio forçado nos Estados Unidos, onde foi preso em maio de 2013 pelo FBI, acusado pelo crime de obstrução de Justiça. Desde então, tornou-se delator a serviço da polícia norte-americana, implodindo um grande esquema de corrupção no futebol das Américas.

A volta ao Brasil ocorreu antes mesmo da sentença contra o empresário, marcada para outubro deste ano. “Voltei de vez”, disse à piauí na ocasião. “Estava [proibido de voltar], mas acabou o processo.”

No acordo de delação, denominado “plea bargain”, Hawilla confessou a prática dos crimes de formação de quadrilha, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça, e teve de pagar 151 milhões de dólares de multa ao governo norte-americano.

Nascido em São José do Rio Preto, Hawilla começou ainda adolescente a trabalhar no rádio. Tornou-se repórter de campo em transmissões de partidas de futebol em emissoras do interior paulista e, a partir de 1968, em São Paulo, primeiro na rádio Bandeirantes, e, depois, na Rede Globo.

Demitido durante a greve dos jornalistas em 1979, comprou no ano seguinte a Traffic, empresa de marketing em pontos de ônibus da capital. Mudou o foco de atuação da firma e passou a instalar placas de publicidade na beira do gramado. Nos fim dos anos 90, ampliou o ramo de atuação e começou a negociar com a Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, e a Confederação Sul-Americana de Futebol, a Conmebol, a compra de direitos de transmissão no rádio e na tevê de partidas das seleções do Brasil e da América do Sul. Quase sempre à base de propinas milionárias.

Em 1996, ele e o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, assinaram um contrato de 160 milhões de reais com a Nike para o fornecimento de material esportivo para a Seleção. O acordo foi alvo de duas CPIs no Congresso em 2000, das quais Hawilla foi inocentado. Somente na delação ao FBI ele confessou ter dividido propina da Nike com Teixeira.

Em 2003, o empresário anunciou a compra de quatro afiliadas da Rede Globo no interior paulista, formando a rede TV TEM. Hawilla também era proprietário de uma construtora, de uma produtora de tevê e de fazendas no interior de São Paulo e em Mato Grosso. Seu patrimônio é estimado em 500 milhões de dólares. Entre 2005 e 2013, foi dono da rede de jornais Bom Dia, no interior paulista.

Em dezembro de 2014, ao oficializar a sua delação à Justiça norte-americana, Hawilla havia sido curado recentemente de um câncer na garganta e sofria com os sintomas iniciais de uma doença grave nos pulmões, denominada DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), decorrente do cigarro – Hawilla foi fumante nas décadas de 70 e 80.

A doença evoluiu ao ponto de, no fim de 2017, o empresário prestar depoimento com o uso de um balão de oxigênio como testemunha no julgamento de José Maria Marin, ex-presidente da CBF que sucedeu Teixeira. Durante muitos momentos, diante da juíza e dos jurados, aparentou extremo cansaço.

No retorno ao Brasil em fevereiro, Hawilla passou mal no voo entre Miami e São Paulo. Desde então, levava uma vida reclusa, entre São Paulo e São José do Rio Preto. Ele deixa a mulher Eliani, os filhos Stefano, Renata e Rafael e netos. O sepultamento está marcado para esta sexta-feira, às 17 horas, no cemitério Gethsêmani, em São Paulo.

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