Os dois polos do acalorado debate político recente murcharam. Depois de elegerem as maiores bancadas federais e antagonizarem na tribuna, nas ruas e nas redes sociais, PT e PSL saem das urnas municipais com menor visibilidade e relevância questionada.
Os resultados do primeiro turno deste ano mostram que o encolhimento petista nas prefeituras, observado desde 2012, continua em marcha, ainda que o partido do ex-presidente Lula tenha capilaridade muito superior à do PSL, legenda com a qual passou a rivalizar a partir da eleição de Jair Bolsonaro ao Planalto. O capitão se desfiliou da sigla, mas pode retornar a ela para o pleito de 2022.
Na eleição municipal de 2016, o PT, que até então administrava 630 prefeituras, perdeu 374, inclusive a de São Paulo, maior cidade do país. O então prefeito paulistano, Fernando Haddad, foi derrotado já no primeiro turno por João Doria (PSDB). Agora, mais 78 municípios escoaram das mãos petistas. O prefeiturável Jilmar Tatto superou Haddad e registrou a pior marca da história do PT em São Paulo: acabou em sexto lugar na corrida eleitoral, com 8,65% dos votos válidos. Já o candidato Guilherme Boulos (PSOL) seguiu para o segundo turno contra o prefeito Bruno Covas (PSDB), conquistando boa parte do eleitorado que foi do PT.
No ano que vem, os petistas governarão pelo menos 2,8 milhões de pessoas em 176 cidades, nenhuma com mais de 500 mil habitantes até agora. Há quinze municípios cujas disputas foram para o segundo turno e em que o PT está no páreo. São duas capitais, Recife e Vitória, além de duas cidades com mais de 1 milhão de habitantes, Guarulhos (SP) e São Gonçalo (RJ). A capital pernambucana é o mais importante dos quinze municípios. Se Marília Arraes derrotar o primo, João Campos, o PT desbancará o PSB em sua principal trincheira.
O PSL, por sua vez, cresceu, mas não conquistou nenhuma vitrine nacional como se chegou a prenunciar em 2019. Talvez a maior promessa de todas, a candidatura da deputada federal Joice Hasselmann à prefeitura paulistana naufragou por completo. Ela somou menos votos na capital paulista do que quando se lançou ao Legislativo em 2018 (289 mil contra 98 mil). Em outras cidades importantes, o PSL tampouco encontrou um lugar ao sol. No Rio de Janeiro, reduto de Bolsonaro, o candidato do partido, Luiz Lima, ficou com 6,85% dos votos válidos, em quinto lugar.
Se a sigla levou trinta prefeituras em 2016, agora passou a controlar noventa. Apenas duas, no entanto, abarcam entre 200 e 500 mil habitantes. O PSL terá, assim, 1,9 milhão de pessoas sob sua gestão – talvez acrescidas dos moradores de Sorocaba e Praia Grande, ambas em São Paulo, cujos segundos turnos incluem um postulante da legenda.
No Norte e no Nordeste, o PT manteve sua prevalência em relação ao antigo partido de Bolsonaro. Conquistou doze e 89 prefeituras, respectivamente, já no primeiro turno. O PSL, em contrapartida, elegeu quatro e oito prefeitos nas duas regiões. No Sul e no Sudeste, a disputa se revelou mais acirrada. O PT obteve 42 e 23 prefeituras, respectivamente, enquanto o PSL ficou com 44 e 25. O Centro-Oeste é a única região do país em que o PSL bateu o PT com larga vantagem: elegeu nove prefeitos no primeiro turno, contra quatro do adversário.
A eleição de domingo deixou claro que, se o PSL tem alguma vocação, como demonstrou ter em 2018, é para o confronto legislativo. O partido recebeu mais votos nas eleições proporcionais (para vereadores) do que nas majoritárias (para prefeitos). Quase 3 milhões de brasileiros preferiram os candidatos a vereador do PSL –168 mil a mais do que aqueles que confiaram na legenda para assumir o Executivo de suas cidades. Foram eleitos cerca de 1,2 mil vereadores no país pela sigla. No PT, a correlação foi inversa. Quase 7 milhões de eleitores apertaram 13 na urna para prefeito, e 5,2 milhões se decidiram por postulantes do partido às Câmaras municipais. Aproximadamente 2,6 mil petistas se elegeram vereadores.