Com menos de cinco minutos, Edmundo afirmou que o Uruguai estava jogando daquela forma para tentar esfriar o “âmbito brasileiro”. Oi?
Aos vinte, o lateral Marcelo lançou a bola na área uruguaia, jogada que Luciano do Valle descreveu como um “cruzamento de Moacir”. Que eu me lembre, não há Moacir na seleção brasileira desde 1958.
E, no segundo tempo, com um a um no placar, Neto expôs várias fórmulas para o Brasil ganhar o jogo. A mais simples delas era mais ou menos assim: põe o Lucas no lugar do Luiz Gustavo, traz o Hernanes para proteger a zaga e liberar o Daniel Alves, abre o Lucas na direita, desloca o Bernard da direita para a esquerda, puxa o Neymar da esquerda para o meio, faz o Paulinho encostar mais no Fred. Até que tudo isso acontecesse, já estaríamos às vésperas de estrear na Copa do Mundo de 2014.
Moral da história: qualquer que seja o canal escolhido, o estrago é certo. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Essa história já tem mais de 60 anos, mas ninguém esquece. Corrigindo: todo mundo faz questão de lembrar. Em 1950, o Brasil engalanado levava um choque de realidade e descobria que, felizmente, no futebol nem sempre o melhor vence. Razões para a derrota se multiplicaram. Comemorações antes da hora, apropriação política da conquista que estava no papo, covardia do Bigode – que afinara diante da valentia do capitão uruguaio Obdúlio Varela – e, por fim, a explicação que transformaria Barbosa no maior vilão brasileiro do século XX: foi frango. Por incrível que pareça, mesmo depois de cinco copas conquistadas – contra nenhuma dos uruguaios –, até hoje não engolimos aquele 16 de julho. Se entre uma reunião e outra do Mercosul, Dilma e Mujica marcarem um truco ou um biribinha, certamente nossos sites e jornais esportivos publicarão que será o jogo da vingança, que iremos enterrar de vez o fantasma de 50 e que chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Agora, em 2013, não poderia ser diferente. As mesmas matérias, as mesmas perguntas a jogadores e comissão técnica, a mesma foto de Barbosa desolado, com a bola no fundo do gol. Os uruguaios, que de bobos não têm nada, ajudam a alimentar o monstro, já que a tradição e a rivalidade histórica são as únicas armas de que dispõem hoje para nos enfrentar – a nós e aos argentinos. Na bola, há algum tempo eles são bem mais fracos.
Quanto à nossa seleção: no programa da última segunda-feira, os jornalistas da ESPN discutiam o exagero de Carlos Alberto Parreira, que dissera haver “uma diferença abissal” entre o Brasil que empatou com a Inglaterra no Maracanã e o que derrotou a Itália na Fonte Nova. Nenhum dos participantes concordava com Parreira e, bem-humorados, cada um escolhia a palavra que lhe parecia mais adequada para substituir “abissal”. Uma grande diferença, uma boa diferença, uma diferença razoável, até que Mauro Cezar Pereira encerrou a questão: há uma diferença. Ponto.
O time está mais treinado e mais compacto, Neymar está mais descansado e com menos compromissos fora do campo. Mas, se ganharmos a Copa das Confederações – o que, cá entre nós, não chega a ser tão importante assim –, tomara que o título não esconda essa verdade: ainda estamos longe demais da Espanha e da Alemanha.
E a Copa do Mundo está logo ali na esquina.
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