Quem acessa o site da LA Sports, encontra uma curiosidade. Um dos textos informa que, no duelo entre dois jogadores pertencentes à empresa, João Paulo (do Atlético Paranaense) derrotou William (da Ponte Preta).
Dá o que pensar. Claro que precisamos partir do princípio de que os jogadores de futebol têm caráter e honra, ok, mas vamos supor uma situação bastante possível. Vai que, na última rodada do campeonato, uma das partidas seja entre Atlético Paranaense e Ponte Preta. Vai que o Atlético precise da vitória para ficar com uma das vagas da Libertadores e a Ponte esteja apenas cumprindo tabela. Por motivos óbvios, seria interessante para a LA Sports que seu jogador, João Paulo, disputasse a Libertadores, aumentando a visibilidade e as chances de um bom negócio internacional. Nessa hipótese, está longe de ser um absurdo pensar em pressões da empresa para que William não se esforce.
Antes das mudanças ocorridas na Lei do Passe, em 1998, os jogadores pertenciam ao Atlético Paranense, à Ponte Preta, ao Internacional. Hoje eles pertencem à LA Sports, do empresário Luiz Alberto, à Brazil Soccer, de Eduardo Uram, e à DIS, de Delcir Sonda. E temos o descalabro que começa este post: jogadores da mesma empresa espalhados por times diferentes. (Além de João Paulo no Atlético Paranaense e William na Ponte Preta, a LA Sports tem, entre muitos outros, Pierre no Atlético Mineiro, Luís Ricardo na Portuguesa de Desportos e Vanderlei, Gil, Júnior Urso e Robinho no Coritiba.)
Em 2006 a LA Sports alimentou o Paraná Clube, que fez um bom Brasileirão e se classificou para a Libertadores 2007. Mas, ainda em2007, a parceria azedou, o Paraná despencou, foi parar na segundona e está tendo que começar tudo de novo. O mesmo aconteceu com o Avaí. Apoiado pela LA Sports, ficou em terceiro na série B em 2008, fez um bom campeonato na série A em 2009, os jogadores se valorizaram, a empresa realizou os lucros, a amizade acabou e o Avaí se viu pendurado na brocha sem escada embaixo. Ameaçou voltar para a segundona em 2010 e caiu no ano seguinte.
Até pouco tempo, Delcir Sonda detinha 45% dos direitos econômicos do Ganso, 40% do Neymar, 22% do Dentinho, 10% do D’Alessandro e 100% do Kléber, lateral-esquerdo do Inter. O São Paulo tem no elenco cinco jogadores de Eduardo Uram: Édson Silva, Juan, Carleto, Maicon e Aloísio. Eram sete, antes de João Filipe ir para o Náutico e Cortez para o Benfica, e podem passar a ser seis, se o clube fechar com o zagueiro Roger Carvalho. Não há como olhar com ingenuidade para o volume de dinheiro que passou a girar junto com a bola, e como agentes e investidores o manuseiam. (Aqui, vale a dica: a matéria de Daniela Pinheiro sobre Wagner Ribeiro, publicada na edição 13 da Piauí e disponível neste link)
Só que há algo de perverso nessa história. Clubes grandes podem passar por períodos turbulentos, mas não deixam de ser grandes. E logo estão novamente levantando títulos. No entanto, imaginemos um garoto catarinense que tenha começado a se interessar por futebol em 2008, simpatizou com o Avaí, vibrou com a subida do time para a série A e ampliou seu entusiasmo com a boa campanha no ano seguinte. O que sente esse menino hoje, vendo seu time em queda livre e sem perspectivas? E o que sentirá ao descobrir que, na verdade, há cinco anos ele não ria ou chorava pelo time de futebol do Avaí, e sim pelos negócios do senhor Luiz Alberto?
As coisas eram mais fáceis no tempo em que a gente torcia para o Flamengo, o Fluminense, o Palmeiras e o São Paulo.