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    Ilustração de Carvall

questões do voto

PT reelege, mas não renova

Se não fosse pelos prefeitos com mandato renovado, partido de Lula definharia ainda mais; siglas de direita como o Democratas avançam sobre adversários

Thais Bilenky | 23 nov 2020_17h01
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Em 2008, o petista Washington Quaquá se elegeu prefeito de Maricá, no Rio. Foi um ano bom para o PT. A reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dois anos antes, a despeito do mensalão, se somaria à conquista de 549 prefeituras, um salto de 34% em relação ao pleito anterior. Seis delas eram capitais de estados.

Quatro anos depois, Quaquá se reelegeu. Com alta aprovação, deixaria sua marca no segundo mandato. Instituiu um projeto de renda mínima cidadã e uma rede de transporte público gratuito. Eram tempos de fartura para o PT. Lula havia feito a sucessora, Dilma Rousseff, e a sigla venceu em 630 municípios, seu recorde — uma conquista que, de resto, incluía a joia da coroa das disputas municipais, a maior cidade do país, São Paulo.

Depois vieram as manifestações de 2013, a Lava Jato, o acirramento do antipetismo e, por fim, o bolsonarismo. 

A curva ascendente se inverteu. Em 2016, Fernando Haddad amargou a pior votação da história do PT em São Paulo até então (Jilmar Tatto, agora, teve desempenho ainda pior) e não se reelegeu. Em todo o país, o partido viu reduzida sua presença nos Executivos locais a 254 prefeitos. Naquele mesmo ano, seria apeado da Presidência da República, com o impeachment de Dilma Rousseff.

Mas não em Maricá. Por lá, Quaquá conseguiu fazer o sucessor, Fabiano Horta (PT). A situação política do partido era delicada, mas com o controle da máquina – rica em royalties de petróleo –, tornou-se possível repetir o sucesso nas urnas. 

Mandachuva do PT no Rio de Janeiro, Quaquá havia articulado alianças locais que, com o tempo, se provaram danosas: em particular com os ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, do MDB, ambos presos por corrupção. Ele próprio acabou se tornando inelegível em 2013, por abuso de poder político, condenado por ter pago 300 reais a moradores que compareceram a uma solenidade do governo do estado. Seu relativo sucesso político era questionado mesmo dentro da sigla, por afinal não ter conseguido dar ao PT peso eleitoral no estado, terceiro maior colégio eleitoral do país.

Lula foi preso, o partido que fundou virou símbolo de corrupção para parcela expressiva da sociedade brasileira, e, ainda assim, Fabiano Horta se reelegeu com 88% dos votos válidos no último dia 15 de novembro, garantindo ao partido um quarto mandato consecutivo em Maricá. O segundo colocado não conquistou nem 6% dos eleitores. 

Não fossem casos como esse, de políticos locais que se mantiveram no poder apesar dos pesares petistas, a derrocada do 13 neste ano teria sido ainda maior. O partido conseguiu renovar o mandato de 49% de seus prefeitos, um índice semelhante ao de outros partidos médios e grandes — a média nacional é de 56%, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), compilados pela piauí. Em contrapartida, no domingo do primeiro turno, o PT emplacou apenas 12% dos candidatos que buscavam conquistar cidades administradas por outras legendas. 

Em termos absolutos, o partido lançou 1260 candidatos a prefeito, 59 deles à reeleição. No total, elegeu 179, dos quais 29 já estavam no cargo. Foram eleitos, portanto, 150 nomes novos do PT — de um universo de 1201 postulantes. Faltam os resultados de quinze cidades que foram para o segundo turno e têm candidatos petistas entre os concorrentes. Duas delas são capitais de estados, Recife e Vitória.

 

A taxa de renovação do PCdoB, sigla muitas vezes considerada acessória do PT, foi de 15%. A do PV, de 13%. Pior ainda ficou o PSL, que emplacou apenas 11% dos novos nomes lançados municipalmente. O desempenho do PT, de meros 12%, é pífio para uma legenda que levou a maior fatia do fundo eleitoral, recebendo 201 milhões de reais (o PSL foi o segundo maior beneficiário). 

A avaliação fica mais crítica quando comparada à de siglas de direita em franca expansão. Excluindo os postulantes à reeleição e considerando apenas os candidatos de renovação, o Progressistas (antigo PP), partido que mais cresceu na eleição, teve uma taxa de sucesso de 43%. Em seguida aparece o Democratas.

Diferentemente do Progressistas e quetais do Centrão, que estão com o governo seja ele qual for, o DEM permaneceu na oposição nos governos do PT e definhou na era Lula. Em 2000, o partido ainda era denominado PFL, uma costela da Arena, que havia dado sustentação à ditadura militar (1964-85). Naquele ano o PFL elegeu 1.028 prefeitos. Depois foi ladeira abaixo: 789 em 2004, 496 em 2008, 287 em 2012 e 270 em 2016.

 No primeiro turno de 2020, com os ventos da política nacional soprando para a direita, o DEM, rebatizado em 2007, conquistou 458 prefeituras, sendo três capitais: Salvador, Curitiba e Florianópolis. Em oito cidades o partido está no segundo turno, uma delas é o Rio de Janeiro – e ainda há Macapá, onde a eleição foi adiada e o candidato do partido se mostra competitivo. 

Para chegar a esse saldo, o DEM contou com taxa de reeleição similar à do PT, 50%, mas precisou ser mais efetivo nas candidaturas de renovação lançadas: 38% dos postulantes tiveram sucesso nas urnas. 

É o caso de Paracatu. A cidade era administrada pelo PSDB desde 2012, num cenário típico do interior de Minas Gerais. O prefeito lançou a sobrinha para sucedê-lo e estava em pé de guerra com o adversário do PSD. Até que um empreendedor de 23 anos, filiado ao DEM e membro do RenovaBR, uma escola de formação desses tempos de “nova política”, furou a polarização e desbancou o coronelato local. “A partir de hoje o nosso partido é o povo de Paracatu”, discursou o eleito, Igor Santos, repetindo um velho bordão.

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