Quando o assunto é a emissão dos gases do efeito estufa que provocam o aquecimento global, o Brasil joga na primeira divisão mundial. Somos o quarto país que mais contribuiu para a mudança climática, conforme mostra uma análise realizada pelo Carbon Brief, um site jornalístico britânico dedicado à crise climática. O levantamento foi publicado pouco antes da COP26, a Conferência do Clima realizada em Glasgow, na Escócia, que terminou no último fim de semana. A análise contradiz o discurso de Jair Bolsonaro em abril deste ano a outros chefes de Estado durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima organizada pelos Estados Unidos. “O Brasil participou com menos de 1% das emissões históricas de gases do efeito estufa, mesmo sendo uma das maiores economias do mundo”, disse o presidente naquela ocasião. O =igualdades mostra que não é bem assim.
De acordo com o levantamento do site Carbon Brief, o Brasil só aparece atrás de Estados Unidos, China e Rússia no ranking acumulado de emissões de carbono. O país lançou na atmosfera mais gases-estufa do que a maior parte dos países que começaram a se industrializar no século XIX, inclusive o Reino Unido, berço da Revolução Industrial.
Bolsonaro disse que o Brasil é responsável por apenas 1% das emissões históricas provavelmente porque usou estatísticas que não levam em conta as emissões causadas pelo desmatamento. Só que essas são justamente as responsáveis por 86% das emissões brasileiras, de acordo com o levantamento do Carbon Brief. Elas foram causadas sobretudo pela devastação da Mata Atlântica e da Amazônia.
Ao contrário dos países que se industrializaram primeiro e emitiram gases-estufa principalmente queimando combustíveis fósseis, o Brasil não converteu as suas emissões em prosperidade e desenvolvimento. O mesmo aconteceu com a Indonésia, quinto lugar no ranking histórico, que também tem no desmatamento a sua maior fonte de emissões.
Cerca de dois quintos das emissões globais de gases do efeito estufa a partir da Revolução Industrial foram lançados na atmosfera desde 1992, quando foi assinada no Rio de Janeiro a Convenção-Quadro das Nações Unidas para a Mudança do Clima. Ali as nações do mundo reconheceram o problema do aquecimento global causado pela ação humana e se comprometeram a agir para combatê-lo (as COPs são reuniões anuais entre os quase 200 signatários dessa convenção).
O aquecimento global é causado pela ação humana, mas nem todos os humanos têm a mesma responsabilidade pelo problema. Os 10% mais ricos emitem quase vinte vezes mais do que os 50% mais pobres, conforme mostrou um levantamento do World Inequality Lab, que tem em seu quadro de diretores o economista francês Thomas Piketty.
O levantamento mostra ainda que os 10% mais ricos respondem por praticamente metade dos gases-estufa lançados na atmosfera. No entanto, os países e as populações de baixa renda são os que mais sofrem os impactos da crise climática.
A criação de gado é uma importante fonte de emissão de metano, um gás que também causa o efeito estufa e tem potencial 28 vezes maior que o do CO2 para aquecer a atmosfera. O metano lançado na atmosfera na forma de arroto pelos bois supera em oito vezes as emissões geradas por todos os aviões do mundo.
Os humanos emitiram cerca de 2,5 trilhões de toneladas de CO2 na atmosfera desde 1850, deixando menos de 300 bilhões de toneladas restantes para os países limitarem o aquecimento global a 1,5ºC até 2100, meta estabelecida pelo Acordo de Paris, assinado em 2015.
*Nota metodológica: o levantamento do World Inequality Lab utilizado como base para as comparações 4 e 5 não leva em conta as emissões decorrentes das mudanças no uso da terra, ou seja, do desmatamento.
Fontes: Carbon Brief, World Inequality Lab, Air Transport Action Group, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura