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    O relator da Lava Jato no STF Edson Fachin, o doleiro Lúcio Funaro, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-assessor de Michel Temer (e homem da mala do caso JBS) Rodrigo Rocha Loures. Cada um deles representa um fio desencapado no emaranhado político em torno do presidente. FOTOS: IGO ESTRELA/LULA MARQUES/PEDRO LADEIRA/BRUNO POLETTI_FOLHAPRESS

questões pós-impeachment

Quatro ases contra Temer

O governo sobreviveu ao TSE, mas os próximos dias podem pôr na mesa cartas marcadas com potencial de acabar com o jogo

Malu Gaspar | 12 jun 2017_15h31
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Fachin, Funaro, Cunha e Loures. São essas as cartas que podem cair na mesa do jogo político nos próximos dias – todas elas com potencial para obliterar o já cambaleante governo de Michel Temer. O julgamento do Tribunal Superior Eleitoral que livrou a chapa Dilma-Temer da cassação por abuso de poder político e econômico já é parte de um passado remoto. A canastra fechada nas últimas rodadas com o voto de minerva de um dedicado Gilmar Mendes garantiu sobrevida ao governo, mas não selou a paz nem mesmo por 24 horas. O tom da abertura da semana que se inicia é de uma guerra em quatro atos: está nas mãos do relator da Lava Jato, o ministro Edson Fachin – que teria sido espionado a mando de Temer segundo a revista Veja –, aceitar ou rejeitar a denúncia contra o presidente; seu assessor de confiança e homem da mala Rodrigo Rocha Loures já manda recados desassossegados por meio de seu advogado (ele está preso e poderia abrir o bico); a delação do doleiro Lúcio Funaro, conhecedor profundo dos dutos de propina do PMDB, parece cada vez mais perto; e Eduardo Cunha, até então em pacto de silêncio a favor de Temer, está à procura de um advogado para armar sua delação premiada.

Entrincheirados no Jaburu, estão os “trôpegos estrategistas” de Temer – como definiu seu ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio em uma carta de despedida, publicada após sua exoneração no final de maio. Eles terão de se desdobrar em algumas linhas de ação distintas para segurar Temer no cargo. A primeira é garantir o apoio do PSDB, que oscila entre ficar no governo (e manter seu naco de poder) ou sair antes que seja tarde demais, garantindo que os candidatos tucanos mantenham um mínimo de credibilidade em 2018 e escapem de um vexame maior do que já foi imposto ao partido pelas estrepolias do senador afastado Aécio Neves, que responde a cinco investigações por conta dos desdobramentos da Lava Jato. Sem a mão dos tucanos na mesa, Temer jogaria sozinho uma rodada invencível.

A etapa seguinte será o corpo a corpo com parlamentares para impedir que a Câmara dos Deputados aceite a inevitável denúncia do Ministério Público contra Michel Temer, derivada das revelações dos executivos da JBS. Pela lei, o prazo para que os procuradores apresentem a denúncia é o próximo dia 19, dado que há um réu preso, o homem da mala e ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures.

Em tese, mesmo que considere o presidente da República passível de processo, não seria necessário incluir Temer nesta denúncia inicial – ele poderia, por exemplo, ser denunciado mais tarde –, a menos que um dos crimes de Rocha Loures tenha sido formação de quadrilha, o que faria necessário indicar os outros membros da organização. Como alguns membros do time do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmam que a denúncia contra o presidente não tarda, é fácil prever o tamanho do petardo que virá contra Temer. Em setembro, Janot deixa o cargo e, por isso, quer acelerar os trabalhos – ele não confia que seu sucessor possa continuar o ritmo intenso das denúncias.

Temer tem outro problema: antes de se transformar em processo, a denúncia será enviada a Edson Fachin. Ele dará a palavra final sobre a validade das provas coletadas. A relação de Temer e Fachin ficou estremecida diante das denúncias de que Temer teria mandado a Abin espionar o ministro. O caso motivou a presidente do Supremo, a ministra Cármen Lúcia, a se manifestar publicamente, dizendo que a possível “devassa” contra Fachin é “própria de ditaduras”.

É fervendo nesse caldo que Fachin decide se acata a denúncia do Ministério Público e a envia à Câmara dos Deputados, onde terá de ter o aval de pelo menos 342 parlamentares para se transformar em processo. A Casa é, ainda, a última fortaleza de Temer. Hoje, pouca gente duvida que ele teria os votos necessários para se livrar da denúncia. Mas, como já se viu tantas outras vezes durante a Lava Jato, tudo pode mudar – com perda de consenso, alguém pode abrir os portões do castelo e baixar a guarda.

Outro front a ser contrastado é a delação do operador Lúcio Funaro, homem de Eduardo Cunha que está há quase um ano encarcerado na Penitenciária da Papuda, no Distrito Federal. Nos tempos áureos, quando Cunha mandava nos desembolsos do fundo de investimentos do FGTS, Funaro era inseparável do dono da JBS, Joesley Batista, tinha na cabeça o mapa financeiro de todos os caciques do PMDB, e chamava o presidente da República de Michel, com a naturalidade reservada aos íntimos. Foi ele quem esteve no escritório do primeiro amigo de Temer, José Yunes, para entregar um envelope com dinheiro para a campanha, num episódio até hoje mal contado. Fazedor de dossiês reconhecido, obsessivo com documentos e números, o operador tem potencial para fazer um belo estrago na frágil governabilidade do presidente.

A cúpula em volta de Temer também volta os olhos para Curitiba. Na capital nacional da Lava Jato, as rodas jurídicas já dão por certa a delação do próprio Eduardo Cunha, movimento impensável até pouco tempo atrás. Com medo de ver sua possível colaboração perder força de barganha caso Funaro realmente fale, o ex-presidente da Câmara preso em Curitiba já está em busca de um advogado para negociar os termos de sua colaboração com os investigadores. A delação de Cunha é uma bomba com potencial devastador para o PMDB em geral, e Temer em particular. Os trechos mais comprometedores do grampo de Joesley Batista com o presidente tratam, justamente, de “pendências zeradas” com Cunha – para a Lava Jato, trata-se de pagamento de propina em troca do silêncio do ex-parlamentar.

E há ainda Rocha Loures, o ás mais radioativo do momento. Hoje, ele é defendido por Cezar Bitencourt, advogado que tem em seu cartão de visitas uma ligação próxima com o ministro Eliseu Padilha, fiel aliado de Temer. Mas Bitencourt foi o mesmo que anunciou sem nenhuma cerimônia que há mais gravações de conversas comprometedoras envolvendo o entorno do presidente, o que deixou a mesa de jogo em estado de tensão. Até outro dia, Bitencourt também defendia Lúcio Funaro. Ele foi destituído da defesa no início da semana que passou – foi o terceiro a ser dispensado pelo operador que, da cadeia, afirma aos mais próximos que só não conseguiu um habeas corpus porque estava nas mãos de defensores “espiões”, aliados de Temer que não desejam de fato a delação do doleiro. Não são poucos os que apostam que Rocha Loures é o Funaro de amanhã. Por ora, assim como o governo Temer, ele parece firme (e calado). A estabilidade do homem da mala, no entanto, é ameaçada sobretudo por sua vida pessoal: a mulher de Loures está grávida de oito meses, o que pode pressionar o ex-assessor de Temer a falar para sair logo da cadeia. Se Loures sucumbir, vai ser muito difícil o governo ficar de pé.

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