Ontem foi um dia puxado na agência de propaganda em que trabalho. Precisávamos refazer, com absoluta urgência, um anúncio que o cliente não aprovara e, com a mídia comprada, precisava ficar pronto – e bom – de qualquer maneira. Passamos o dia com o pessoal do atendimento pressionando, até que, lá pelas sete da noite, veio o aperto final: o cliente só vai embora depois de aprovar o material. Conseguimos. O anúncio em questão estava entregue a mim – o que é sempre um risco – e, por sorte, a um diretor de arte extremamente talentoso. O trabalho ficou bonito, e o cliente satisfeito.
Saí tarde, mas, como moro a dez minutos a pé da agência, rapidamente estava em casa. Cansada e com frio, minha mulher disse que ia se enfiar embaixo das cobertas e foi para o quarto. Tomei um banho, peguei torradas, queijo e uma cerveja, liguei a tevê e sintonizei a ESPN Brasil, no exato instante em que uma moça vestida com a camisa do Grêmio – clube para o qual torcem três amigos muito queridos, o Beto, o Márcio e a Cláudia, três pessoas inteligentíssimas, doces e despidas de qualquer preconceito – punha uma das mãos ao lado da boca, para garantir que o som não se perdesse na balbúrdia do estádio, e ofendia o goleiro do Santos gritando a palavra ma-ca-co.
Desliguei a tevê no ato. Não quis ver quanto estava o jogo, não soube o resultado final. Acabei de mastigar as torradas, engoli a cerveja, escovei os dentes e fui deitar triste. Minha mulher sacou que algo não estava bem e perguntou, carinhosa: o que é que você tem? Nada. Só estou cansado.
PS2: O melhor time de futebol que eu já vi foi a seleção brasileira de 70. Tinha apenas um jogador do sul do país, que jogava no Grêmio. Chamava-se Everaldo. Era negro.