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Relatório releva o lado B do Barão do Rio Branco

Documento até agora inédito examinou as notas feitas nas margens dos livros pelo chanceler que ajudou a definir as fronteiras do Brasil

17jan2025_12h25

L’Oyapoc et l’Amazone (1861), de Caetano da Silva: o Barão do Rio Branco anotou compulsivamente nas margens deste livro, que lhe serviu de apoio na defesa da anexação do Amapá ao Brasil

Um relatório de 45 páginas, redigido no início dos anos 1940 e até hoje inédito, traz uma preciosa apresentação da marginália (as anotações feitas na margem dos livros) do Barão do Rio Branco (1845-1912), o patrono da diplomacia brasileira. Na piauí deste mês, Cristiane Costa e Luís Cláudio Villafañe G. Santos escrevem sobre o relatório feito por João Guilherme Fisher, que trabalhou como auxiliar no gabinete de Rio Branco entre 1909 e 1911.

 

Homem de ampla cultura, o chanceler que ajudou a definir as fronteiras do Brasil possuía uma coleção privada de mais de 6 mil livros, muitos deles raros e de grande valor, além de relatórios e mapas históricos. Suas leituras e anotações foram essenciais para seu sucesso nas arbitragens sobre a região de Palmas – a Oeste dos estados de Santa Catarina e Paraná, disputado com a Argentina –  e sobre o Amapá – disputado com a França. As duas defesas feitas pelo barão são consideradas monumentos de erudição histórica, geográfica e jurídica. Nas negociações de limites com Uruguai, Bolívia, Peru, Colômbia e com as capitais europeias das até então Guianas – francesa, holandesa e inglesa, também foi decisivo o seu vasto conhecimento sobre os temas em disputa.

 

Fisher diz no relatório sobre a marginália ter consultado na biblioteca de Rio Branco 670 obras em 1 076 volumes, contendo 22 379 páginas anotadas, acrescidas de 470 notas coladas e 245 soltas. “É de lamentar que muitas das anotações [do barão] tenham sido mutiladas na encadernação ou estragadas pelos vermes, que continuarão a sua obra de destruição”, queixa-se.

 

 

 

O relatório traz o lado B do Barão do Rio Branco. A partir das notas de leitura  nas margens dos livros, Fischer traça um retrato saboroso de chanceler, descrevendo seus hábitos, manias, vícios e idiossincrasias. Conta ainda sobre as farpas lançadas pelo chanceler contra seus desafetos intelectuais, que às vezes ganhavam, além de comentários venenosos, caricaturas desenhadas a bico de pena nas páginas dos livros. Também não faltam indiscrições no relatório, o que leva a pensar que talvez seja esse o motivo de não ter ganhado uma edição até agora.

 

Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.

 

 

 

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