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    Fernando Haddad (à esq.), provável candidato do PT, e Rodrigo Garcia, candidato do PSDB Intervenção de João Felipe Carvalho em fotos de Lula Marques/Agência PT e Avener Prado/Folhapress

anais da política

Reprise eleitoral em São Paulo

Com rejeição a Bolsonaro em alta e costuras no campo da esquerda, disputa pelo governo paulista volta a se afunilar entre petistas e tucanos

Thais Bilenky | 07 jan 2022_19h25
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PT e PSDB se preparam para reviver a polarização que marcou a política nacional desde a redemocratização, desta vez em São Paulo. Os dois partidos veem um no outro o principal adversário na disputa pelo governo paulista este ano. Ambos têm a necessidade de driblar a rejeição de seus principais cabos eleitorais e apostam na hipótese de que a população está cansada da estridência política atual.

No PSDB, o vice-governador Rodrigo Garcia tem diluído a participação do governador João Doria em suas aparições públicas. O objetivo é passar a imagem de um gestor experiente e moderno, sem as afetações de marketing que tornaram Doria conhecido, nem o ranço paroquial de seu padrinho anterior, o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido). No PT, enquanto isso, a fama de moderado do ex-prefeito Fernando Haddad, descrito como o mais tucano dos petistas, é vista como um ativo para a conquista de eleitores em São Paulo que têm tendência ao antipetismo e rejeitam o ex-presidente Lula.

Contudo, para que essa projeção se confirme, faltando ainda nove meses para a eleição, serão necessárias negociações. No chamado “campo azul”, à direita do espectro político, o candidato do presidente Jair Bolsonaro ao governo paulista deve ser o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas – um carioca que, como ressaltam os adversários, nunca morou nem pagou impostos em São Paulo. Os aliados de Rodrigo Garcia calculam que o ministro de Bolsonaro deve alcançar pouco menos de 20% dos votos. Os partidários de Haddad acham que Freitas não passa nem dos 10%. Tucanos e petistas acreditam que o desgaste do bolsonarismo e a rejeição ao governo federal terão peso na votação.

No “campo vermelho”, à esquerda do espectro político, a candidatura do ex-governador Márcio França pelo PSB precisará ser sacrificada para não dividir o eleitorado que recusa votar no PSDB, após quase trinta anos de tucanos no Palácio dos Bandeirantes. O PSB negocia a indicação do vice na chapa de Lula a presidente, com a possível filiação de Alckmin. Exige, em contrapartida, o apoio à cabeça de chapa do PSB em seis estados, entre eles São Paulo. No entanto, reservadamente, integrantes do partido admitem que a exigência é exagerada, tendo em vista o desempenho de Haddad nas pesquisas de intenção de voto. Esses membros do partido apostam que França, caso seja convidado a virar ministro num eventual governo Lula-Alckmin, aceitará a mudança de planos.

 

Em dezembro, o Datafolha aferiu as intenções de voto para o governo de São Paulo em um cenário sem Alckmin. Nessa situação, Haddad lidera com 28% das intenções, seguido por França, com 19%. Abaixo dos dois aparecem Guilherme Boulos (Psol), com 11%, Tarcísio de Freitas (7%) e Rodrigo Garcia (6%). Os votos brancos e nulos somam 21%. A pesquisa também revelou uma rejeição aos presidenciáveis que fazem o papel de cabo eleitoral na disputa. Bolsonaro tem o pior desempenho: 60% dos eleitores paulistas dizem que não votariam nele de jeito nenhum. Lula e Doria são rejeitados por 34% dos entrevistados.

Oficialmente, o ex-governador Márcio França – que assumiu o mandato por menos de um ano em 2018, quando Alckmin largou o cargo para se candidatar a presidente – rejeita qualquer possibilidade que não a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes. Mas a operação da Polícia Civil realizada esta semana em endereços de França para apurar supostos desvios de dinheiro da Saúde enfraqueceu – ao menos num primeiro momento – sua posição na disputa. Haddad, consequentemente, ganhou mais força.

A campanha do petista ainda está engatinhando. Não há uma equipe formada nem alianças costuradas. A de Rodrigo Garcia, nesse aspecto, está na dianteira. Para manter o protagonismo do PSDB em São Paulo, o vice de Doria foi convertido a tucano depois de passar 27 anos no DEM. Sua campanha já conta com um marqueteiro há meses – o publicitário Chico Mendez –, um arco de alianças bem amarrado e, mais importante de tudo, a máquina do governo estadual a seu favor. Nas contas de aliados tucanos, talvez muito otimistas, Garcia deverá ter o apoio de 600 dos 645 prefeitos paulistas. Há uma diferença importante aí: nas últimas eleições, o PSDB elegeu 172 prefeituras em São Paulo, enquanto o PT obteve apenas quatro.

Os apoiadores de Garcia argumentam que, além de ter traquejo político, o vice-governador tende a crescer no eleitorado bolsonarista por sua ligação com o agronegócio, já que é um pecuarista. E dessa vez, diferentemente do que aconteceu com Alckmin em 2018, Garcia não deve enfrentar o descrédito que levou o eleitor da direita a embarcar na candidatura de Bolsonaro. 

Para se afastar da figura de Alckmin, no entanto, será preciso disfarçar as semelhanças entre os dois: ambos são santistas, usam óculos, ostentam um sotaque caipira, e, como se não bastasse, suas esposas são conhecidas pelo mesmo apelido – Lu. A campanha do neotucano pretende passar a ideia de que, enquanto Doria se ocupa de sua projeção nacional, Garcia – um homem moderno – é o governador de fato. Com isso em mente, o candidato caminha para cima e para baixo carregando um tablet, com o qual acompanha, executa e coordena projetos e obras no estado.

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