Uma oferta de emprego em Fiji, na Oceania, onde a temperatura é sempre alta e as praias parecem extraídas do paraíso, seria para um amante de viagens a melhor oportunidade de trabalho do mundo. Para a norte-americana Heidi Larson foi uma das experiências mais dolorosas de sua vida. Ela viveu ali por seis anos e contraiu uma rara meningite eosinofílica, propagada pelo muco de lesmas e caramujos, que lhe causava dores na pele até quando tomava banho. Por meses a fio, precisou usar bengalas. Até a areia fina da praia soprada pelo vento era uma tortura quando batia em seu corpo.
Não foi a única doença que a afetou em seu trabalho. “Também tive malária cerebral, hepatite, dengue, tifo, amebas…”, conta Larson à piauí, sem fazer drama. Acostumada desde jovem a trabalhar em lugares pouco paradisíacos na África, na Índia e no Oriente Médio, as doenças são, para ela, parte do seu ofício como antropóloga a serviço do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Quando recebeu o convite para se mudar para a Oceania, Larson logo se perguntou o que a Unicef pretendia que ela fizesse lá. “Nos outros lugares onde trabalhei os problemas eram bem mais evidentes”, diz. O problema era que, por trás dos encantadores bangalôs dos resorts de luxo das ilhas, havia uma realidade bem diferente da estampada nas publicidades turísticas. O “ecossistema” formado pelas tradições machistas e patriarcais levava aqueles lugares idílicos a figurar entre os campeões mundiais de suicídios de jovens, violência contra mulheres, emigração e vício em drogas.
Larson chegou a se encontrar como o rei de Tonga, ilha a cerca de 800 km do arquipélago de Fiji, para alertá-lo sobre a necessidade de aliviar o peso da tradição sobre os mais jovens e incentivar o diálogo entre as gerações do país. Taufa’ahau Tupou iv, na época considerado o governante mais pesado do mundo (com 200 kg e 1,95 metro), estranhou bastante que tal assunto despertasse a atenção da Unicef. Mas o organismo internacional estava preocupado. “Os jovens precisavam quase que pedir desculpas para falar com os mais velhos”, diz a antropóloga de 65 anos, que mora em Bruxelas com o marido, o microbiologista belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus Ebola.
A experiência nas ilhas do Sul do Pacífico chamou a atenção da antropóloga para o peso que, não só as tradições transmitidas de geração em geração, mas também os rumores passados de boca em boca, têm no comportamento das populações com relação às doenças e ao temor das vacinas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já se atentara à questão antes mesmo do surgimento da Covid. Em 2019, apontou que a hesitação das pessoas em tomar vacinas estava entre as dez maiores ameaças à saúde global, ao lado da mudança climática. A pandemia só veio deixar mais visível o fenômeno, que já não se limitava a lugares com menor desenvolvimento econômico e educacional: havia se transformado em problema mundial, afetando desde os Estados Unidos até os países da Europa, sem esquecer o Brasil, onde a repulsa à vacinação contra Covid teve o incentivo do próprio presidente da República.
Após dedicar vários anos à questão, Larson publicou em 2020 o livro Stuck: How Vaccine Rumors Start and Why They Don’t Go Away (Como os rumores contra a vacina começam e porque não vão embora, Oxford University Press). Em inglês, stuck é um dos termos para designar “preso”, “bloqueado”, “travado”. Foi exatamente assim que a antropóloga se sentiu em engarrafamento em Nova Delhi, na Índia, quando avistou um cartaz de rua que dizia: “Você não está preso no engarrafamento, você é o engarrafamento.” Para ela, a sensação de imobilidade em relação à campanha de desinformação sobre as vacinas está tomando conta da própria comunidade científica e médica, que não sabe o que fazer para impedir que esses rumores, que podem abrir caminho para a doença e a morte, se espalhem na sociedade – sem prazo para ir embora.
Larson parte em seu livro de uma hipótese ousada: ela propõe que se abandone a ideia feita de que o rumor antivacina se espalha por causa da idiotice e da ignorância de alguns, ou das más intenções de outros. Ela explica a diferença entre estes fenômenos muito próximos: fofoca, fake news e rumor.
As fofocas em geral se propagam em âmbito mais restrito, sem causar grandes prejuízos sociais no caso das vacinas. As fake news são produzidas de modo organizado e programático, a fim de que sejam difundidas em larga escala e alcancem resultados políticos. Os rumores, por sua vez, se espalham pela sociedade de modo imprevisível, sem terem sido programados para tanto, causando grave prejuízo à saúde pública e à economia. Em geral, eles se originam de causas não necessariamente ligadas à vacina. “Rumores são peças de informação não verificáveis, mas que podem ser plausíveis”, diz a antropóloga. “Rumores e ciência são igualmente importantes.”
Por isso mesmo, Larson evita o termo antivaxxers para designar as pessoas comuns que se opõem à vacinação, e prefere considerar os rumores como problemas que precisam de solução coletiva. Na sua análise, alguns “biomas” – como ela designa os núcleos propagadores de rumores – são tão ou mais cruéis e complexos do que as próprias doenças. Ela explica que todo rumor tem uma história para contar, e a pior coisa a fazer é ignorar essa história. “O rumor é um clamor público. Será que tem alguém escutando?”, questiona. “Isso deve ser estudado tal como qualquer hipótese científica.”
Larson defende que é importante entender o que as pessoas querem narrar ao propagar a repulsa à vacina, por que o rumor faz tanto sentido para elas, e também de onde surgem e quem são os principais disseminadores. “A nossa primeira reação diante de um discurso negacionista e inverossímil contra a ciência é desprezá-lo, negá-lo e se afastar dele, mas essa não é a melhor atitude”, afirma a antropóloga – que o jornal Boston Globe chamou de “doutora Rumores” e a BBC elegeu como uma das cem mulheres mais importantes do mundo em 2021. “Precisamos agarrar os rumores antes que espalhem enormes prejuízos financeiros, doença e morte.”
Um primeiro passo é ouvir o que as pessoas comuns têm a dizer, depois encontrar a origem do rumor, para em seguida descobrir suas ramificações e de onde vem sua energia de propagação. Ou seja, como a narrativa contra a vacina salta, hoje, das redes sociais e ganha tanta tração em determinados grupos. “É um fenômeno extremamente complexo e sofisticado. Os médicos, os cientistas, os pesquisadores estão despreparados para se aproximarem das pessoas e ouvirem as histórias delas”, diz ela, com a autoridade de quem chefiou o departamento de comunicações estratégicas da Unicef para novas vacinas.
Rumores contra a vacina acompanham a história dos imunizantes, desde que começaram a ser criados. Na capa do livro de Larson, uma seringa expelindo chamas remete às inflamadas polêmicas do passado. Na virada do século XVIII para o XIX, a Real Sociedade de Londres se recusou a ajudar o médico Edward Jenner (1749-1823), pioneiro da invenção da vacina. Ele havia inoculado um menino com a secreção extraída de uma ordenhadora de vacas que tivera contato com um tipo menos nocivo de varíola e não desenvolvera a doença. Por mais que Jenner repetisse o experimento para provar sua eficácia, a classe médica não aprovou o procedimento e ainda o ridicularizou – com a ajuda da imprensa, por onde se espalhou que as pessoas virariam vacas (quase dois séculos depois, no Brasil, a mutação escolhida pelos negacionistas foi na forma de jacaré).
Atualmente, com as mídias sociais globalizadas, os rumores ganharam ainda mais poder de combustão. Larson diz em seu livro que eles se espalham como “incêndios na floresta” e são tão devastadores quanto. As campanhas antivacina não escolhem nem os países nem os vírus que os imunizantes querem atingir: Sars-CoV-2, pólio, ebola ou HPV (papilomavírus). A antropóloga cita rumores que ela esquadrinhou, como os relacionados à vacinação de adolescentes contra o HPV – vírus sexualmente transmissível –, que provocou e ainda provoca reações fortes em várias partes do mundo.
Em 2014, na cidade de El Carmen de Bolívar, na Colômbia, quinze meninas entre 11 e 17 anos, todas da mesma escola e vacinadas havia dois meses contra o HPV, foram hospitalizadas com taquicardia, dificuldade para respirar e falta de sensibilidade nos braços e pernas. A suspeita da população recaiu sobre a vacina. Nas semanas seguintes, mais de seiscentos casos apareceram na cidade. As imagens das jovens tendo convulsões viralizaram no YouTube e se espalharam pelo mundo.
Uma equipe médica foi enviada à região onde se concentravam os casos e concluiu que se tratava de uma crise de origem psicológica, em decorrência do estresse causado pela vacinação, numa região com histórico de violência e abuso sexual contra as mulheres. A população não gostou do relatório dos médicos. Cercou o helicóptero do ministro da Saúde, em visita ao local, que precisou recorrer às Forças Armadas para não ser agredido.
Três anos depois, setecentas pessoas entraram com processo contra o governo colombiano, alegando danos provocados por aquela vacina. Um grupo musical lançou um vídeo com o refrão “Fue el Guardasil” (citando o nome comercial da vacina) e afirmando: “Diga à sua mãe, diga à sua irmã, quando Cara [nome de uma adolescente] foi vacinada, ela estava se sentindo bem. Ela foi enterrada ontem.” Um coro de adolescentes repete no vídeo: “Não deixem eles te vacinarem, isso pode te matar.”
“O contágio de emoções e sintomas físicos, acionado por medo, ansiedade e estresse, tem sido estudado há décadas”, escreve Larson em seu livro. Ela cita casos de sintomas de náusea, desmaios e outros problemas neurológicos que se espalharam entre crianças na Bélgica em 1999. A única coisa em comum entre elas é que haviam tomado Coca-Cola e relatavam sentir um cheiro estranho. As crianças foram hospitalizadas, mas os médicos não conseguiram relacionar o mal-estar com a bebida. Apesar do diagnóstico, Bélgica, França e Espanha proibiram a venda de Coca-Cola e outros refrigerantes. Em 2011, sintomas semelhantes foram registrados em uma escola em Nova York, e os neurologistas registraram que os jovens haviam mimetizado o comportamento de outros nas redes sociais. “Podemos estar testemunhando um momento histórico da transmissão das doenças em que o agente primário do contágio é a internet”, acrescenta ela no livro, citando o especialista em doenças psicossomáticas, Robert E. Bartholomew.
Ainda em 2014, o Brasil começou a vacinação contra o HPV de meninas entre 11 e 13 anos, logo depois da Colômbia. A primeira rodada teve 85% de adesão. Logo um grupo de oitenta adolescentes brasileiras começou a apresentar sintomas semelhantes aos das colombianas. Apesar de a maioria delas ter se recuperado, o estrago estava feito. A aceitação da vacina contra o HPV caiu para 45% no Brasil, segundo o livro de Larson. O contágio emocional via YouTube havia funcionado.
Em Melbourne, na Austrália, um grupo de adolescentes de uma escola católica também apresentou sintomas parecidos aos das colombianas, mas o governo conseguiu mostrar à população que elas haviam se recuperado rapidamente, e o programa de vacinação foi bem-sucedido. Na Romênia e no Cazaquistão, porém, as campanhas de vacinação contra o HPV foram suspensas, por causa da reação popular.
O medo da vacina foi um dos motivos do atraso da imunização contra a Covid no Japão, país com grande cobertura médica e os maiores índices de longevidade do mundo. Muitos japoneses ainda se lembravam de um episódio ocorrido em 2013, também relacionado ao HPV, quando um grupo de meninas foi hospitalizado com tiques nervosos, movimentos involuntários, dores de cabeça e fadiga depois de vacinadas contra o papilomavírus (que pode causar câncer no útero).
À época, um movimento nacional de mães culpou a vacina pelos problemas, e a imprensa seguiu o grupo, desencadeando uma campanha agressiva – até que o governo suspendesse sua recomendação da vacina. Em 2020, mesmo com a grave pandemia de Covid, o governo japonês relutou em promover uma campanha de vacinação em massa, que só foi realizada depois de grande pressão internacional por causa das Olimpíadas de Tóquio, realizadas em julho e agosto de 2021.
Larson apresenta o caso japonês em seu livro. Em 2018, um grupo de médicos reuniu várias meninas que foram hospitalizadas e concluiu que elas sofreram de estresse psicossomático: queixavam-se não da vacina, mas do modo como o governo as tratava, causando sofrimento físico e emocional. Apesar do diagnóstico, o sentimento antivacina prevaleceu em parte da população japonesa.
Desde criança, Heidi Larson foi alertada sobre o poder das crenças. Filha de uma professora e de um pastor anglicano e professor de comunicação, a menina costumava assistir com o pai e o irmão, em sua casa nos arredores de Boston, a filmes que mostravam diferentes culturas do mundo, com variadas visões de mundo. “Meu pai uma vez me disse: ‘Não acredite em tudo que você lê, questione.’ De alguma maneira isso continuou comigo”, ela conta. Após se graduar em estudos ambientais e visuais na Universidade Harvard, aos 23 anos, Larson trabalhou na Faixa de Gaza, elaborando perfis de diferentes comunidades para a organização Save the Children. Depois, a Unicef a contratou para um projeto com crianças com limitações físicas e mentais. “Ver como os programas de desenvolvimento das agências da ONU caem de paraquedas nos lugares, como se não existissem seres humanos, com suas crenças e culturas, estruturas sociais, realmente me impactaram”, conta. Depois de três anos no Nepal, Larson voltou para a academia, a fim de fazer seu doutorado em antropologia, na Universidade da Califórnia em Berkeley.
A luta de Larson contra os rumores antivacina ganhou impulso entre 2004 e 2005, quando trabalhava na Nigéria e dirigia a Aliança Global pela Vacina e a Imunização (Gavi, na sigla em inglês). Ela testemunhou o contágio e a morte por poliomielite de dezenas de crianças porque os pais haviam resistido a vaciná-las. A indiferença das autoridades sanitárias locais deixou a antropóloga furiosa.
Larson e sua equipe pesquisaram e localizaram a origem dos rumores no Norte da Nigéria, região de maioria muçulmana e tradicionalmente oposta à população do Sul, onde predominam os cristãos. Um dos estados do Norte do país, Kano, chegou a proibir a vacina, alegando que ela causava Aids ou esterilidade. Um médico local, presidente do conselho muçulmano, disse que o Norte iria à guerra contra o Sul se o governo impusesse a vacinação de pólio, conta a antropóloga em seu livro. Os nigerianos daquela região também estavam revoltados com o governo, que se empenhava na vacinação das crianças, mas negligenciava as necessidades básicas da população, como água e eletricidade.
Da Nigéria, o vírus da poliomielite atravessou o mundo, diz Larson em seu livro, disseminando-se a partir de uma comemoração religiosa muçulmana em Meca, na Arábia Saudita. Foi parar na Indonésia, país com mais de 200 milhões de muçulmanos. Mas o persistente trabalho conjunto da Unicef, da Organização Mundial da Saúde, da União Africana, da Organização para a Cooperação Islâmica Internacional e do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos contornou a resistência à vacina no país. Em 2020, apesar de extremistas muçulmanos continuarem com o boicote, a Nigéria – que em 2012 chegou a registrar metade dos casos mundiais de pólio – foi declarada livre da doença.
A fúria e a letalidade dos rumores antivacina na nação africana, além do crescimento da oposição às vacinas em vários países do mundo, motivaram Larson a fazer uma pausa para reflexão. Ela deixou a Unicef e foi trabalhar no Centro para a População e Desenvolvimento da Universidade Harvard, onde iniciou as discussões que resultaram na fundação, em 2010, do projeto Vaccine Confidence (Confiança na Vacina). A iniciativa ganhou o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos principais centros de controle de doenças no mundo, inclusive da Fundação Oswaldo Cruz, além de universidades e laboratórios farmacêuticos.
A Vaccine Confidence é, atualmente, a atividade que absorve a maior parte do tempo e da energia da antropóloga. Como diretora do projeto, ela montou uma equipe multidisciplinar, que reúne desde médicos até especialistas em inteligência artificial, para fazer pesquisas sobre a confiança nos imunizantes e investigar os rumores antivacina em todo o planeta. Os pesquisadores monitoram pelas redes sociais as conversas sobre vacinas e procuram localizar os centros propagadores dos rumores, investigando quem são os responsáveis por sua disseminação.
Esses rumores se espalham indiferentes ao nível econômico, educacional e cultural do país, o que evidencia a complexidade do fenômeno. A propagação de mensagens contra vacinas pode ter origem na pregação tanto de certos líderes religiosos muçulmanos quanto de rabinos ortodoxos de Israel ou de pastores evangélicos no Brasil. Seus efeitos podem ser devastadores, como se comprovou durante a pandemia.
Em 2020 , o projeto mediu o nível de confiança das pessoas em relação à vacina em 27 países da União Europeia mais o Reino Unido. Constatou que os índices mais altos se encontravam em Portugal (70% da população), Espanha (70%), Lituânia (69%) e Finlândia (68%). Os índices mais baixos foram constatados na Croácia (42%), Eslováquia (42%), Chipre (41%), Malta (39%) e Hungria (36%). As consequências da aceitação foram benéficas para Portugal durante a pandemia. O país foi o líder europeu em vacinação contra a Covid e tem um dos menores números de óbitos em relação a 1 milhão de habitantes (2.168 mortes). A Hungria, por sua vez, governada há doze anos pelo líder de extrema direita Viktor Orbán, está entre os dez países com maior número de mortes causadas pela Covid, por 1 milhão de habitantes (4.780 mortes).
No Brasil, segundo um mapeamento feito em fevereiro de 2022 pela equipe do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, onde Larson é professora, mostra que a confiança nas vacinas no Brasil continua alta, apesar da postura negacionista do presidente da República e outras autoridades governamentais. A pesquisa investigou a porcentagem da população dos estados com mais de 12 anos que já foi ou se mostra disposta a ser vacinada. Pará, Roraima, Amapá, Acre, Tocantins e Sergipe têm os índices mais baixos, com 70% da população. Os mais altos (95%) foram registrados em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo. “O índice de aceitação da vacina não caiu de forma significativa no Brasil. O problema agora são os bolsões de resistência”, diz a antropóloga.
No prólogo para a nova edição de seu livro, prevista para julho próximo, Larson trata especificamente dos rumores antivacina durante a pandemia. “Este tsunami de teorias conspiratórias encontra solo fértil na pandemia volátil de Covid-19, com sua trajetória incerta, a constante evolução científica, as orientações políticas em constante mudança, e as pessoas desesperadas por uma história simples que ajudasse a entender tudo que está acontecendo. A teoria conspiratória faz exatamente isso”, escreve a antropóloga no texto, ao qual a piauí teve acesso antes da publicação.
Larson ressalta que alguns líderes políticos tiveram um papel crucial no enfrentamento da Covid, por terem convencido grande parte da população da necessidade de medidas restritivas, controle sanitário e vacina. O sentimento de que estavam sendo tratados de maneira justa e previdente foi essencial para que os cidadãos aceitassem os pedidos difíceis feitos por seus governantes. “Mas, quando os próprios líderes políticos traem as restrições impostas à população, a confiança se quebra”, avisa.
Esta é uma das razões para que os Estados Unidos e o Brasil ocupem o primeiro e o segundo lugar no ranking mundial do número de mortes pelo novo coronavírus. Logo no início da pandemia, tanto Donald Trump quanto Jair Bolsonaro resistiram às medidas de prevenção da Covid, desafiando as recomendações científicas, o que abalou a confiança de muita gente na prevenção, no tratamento e até mesmo na vacina. Larson ressalta a dimensão retrógrada de Bolsonaro, como evitar o uso de máscaras. “Lembra o auge da epidemia de Aids, quando os negacionistas combatiam o uso de preservativos.”