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“São particulares”, diz Exército sobre caminhões usados em campanha

Veículos flagrados com propaganda de Bolsonaro e que viralizaram nas redes foram vendidos pela União, mas continuam com aparência militar

Marcella Ramos | 24 set 2018_20h58
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O Exército não vê problemas no uso de seus veículos antigos em campanhas eleitorais, mesmo que tenham aparência militar e um brasão já usado pela instituição nas laterais. Em 22 de setembro, o desfile de caminhões militares numa carreata do PSL em Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul, viralizou nas redes sociais e confundiu internautas, que propagaram erradamente que o Exército estava num evento de apoio à candidatura de Jair Bolsonaro e do deputado estadual Tenente Coronel Zucco, ambos do mesmo partido. O Comprova desmentiu a informação e apurou que os veículos foram leiloados pelas Forças Armadas e hoje pertencem a uma empresa de turismo. Questionado pela piauí, o Exército afirmou que, por serem veículos de “colecionadores privados”, não vê irregularidade em seu uso em carreatas políticas.

Para a assessoria do Exército, um dos pontos que esclarecem que esse tipo de veículo não pertence à instituição é que eles têm placa. Se o órgão fosse o proprietário do carro, informou a instituição, ele não seria emplacado. Além disso, o brasão pintado nas portas dos caminhões – que mostra o Cruzeiro do Sul dentro de um círculo – foi aposentado em 1995 pela instituição, informou o Exército.

Conforme mostrou o Comprova, os veículos foram emprestados por Paulo Souza, proprietário da Carrossauro, que promove transporte turístico no litoral do Rio Grande do Sul. Ele comprou os caminhões de pessoas que fizeram a aquisição por meio de leilões promovidos pela União. Dois deles foram adquiridos em dezembro passado. Em março deste ano, Souza arrematou o terceiro. Os três foram usados na caravana de sábado. Os veículos foram produzidos no início da década de 80 pela Engesa, antiga indústria nacional de material bélico. Em sua agência, Souza comercializa um passeio “radical” a bordo dos veículos 6×6.

O vídeo que viralizou foi gravado de dentro de um carro que passa ao lado dos caminhões em uma avenida de Capão da Canoa. Nas imagens, é possível ver uma faixa de apoio aos dois candidatos pendurada num dos caminhões militares, com o antigo símbolo do Exército nas laterais. Causa estranheza em quem não sabe que o brasão foi trocado e que um caminhão oficial de uso militar não tem emplacamento.

Depois de responder à piauí, o Exército divulgou um comunicado sobre o caso, no qual afirma que “prima pela isenção e neutralidade em relação a campanhas eleitorais” e que os veículos foram comprados “legalmente”. O “critério de utilização é de responsabilidade exclusiva do proprietário, uma vez que os caminhões e demais viaturas deixaram de ser vinculados ao Exército”, prossegue a nota à imprensa. Em agosto, o órgão lançou uma campanha de combate a fake news no período eleitoral.

No Facebook e no Twitter, as imagens foram publicadas em diversas páginas e perfis. Só a publicação da página “Falando Verdades”, foi compartilhada mais de 3,6 mil vezes até a tarde desta segunda-feira. Não foi possível identificar quem fez a primeira postagem do vídeo, que tem origem em um “stories” de Instagram replicada milhares de vezes.

 

O candidato do dono da empresa de transporte turístico que alugou os caminhões para a carreata política é Jair Bolsonaro. Na manhã desta segunda-feira, Souza publicou em seu Facebook, cuja foto de capa é do presidenciável, o seguinte texto: “Eleitores da esquerda denunciaram no TRE e no Comando Militar Sul que a candidatura de Bolsonaro estava utilizando viaturas militares em carreatas. O PSL já está providenciando uma representação contra as pessoas que denunciaram. Os veículos são de minha propriedade e foram usados gratuitamente na campanha e continuarão a serem usados. Portanto parem de mimimi e trabalhem para seus candidatos, porque eu estou fazendo a minha parte para eleger Bolsonaro no primeiro turno.”

O Comprova solicitou os documentos dos veículos, mas o proprietário não os apresentou. Segundo o dono dos carros, o advogado do candidato Zucco vai entrar com uma representação no Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul contra internautas que compartilharam a informação.

Leia a íntegra do comunicado do Exército sobre o uso de seus antigos caminhões em carreatas:

O Exército Brasileiro, como instituição de Estado, prima pela isenção e neutralidade em relação a campanhas eleitorais. A instituição segue rigorosamente o estabelecido pela legislação eleitoral, destacando, neste contexto, seu caráter apartidário.

A notícia veiculada em algumas mídias foi superficial, atendo-se à aparência dos fatos, sem se preocupar em investigar a natureza verdadeira do ocorrido. Os veículos que ostentavam propaganda do Oficial do Exército Brasileiro temporariamente licenciado pertencem a colecionadores privados, que as adquiriram legalmente, cujo critério de utilização é de responsabilidade exclusiva do proprietário, uma vez que os caminhões e demais viaturas deixaram de ser vinculados ao Exército.

Os símbolos pintados na lateral não são de uso corrente, as placas são fornecidas pelo Detran e não há impedimento legal algum que restrinja o emprego desses veículos em campanhas eleitorais, uma vez que eles são propriedades particulares, cabendo a seus proprietários decidir pela atividade na qual serão utilizados.

 

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