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Skunk

Evandro Mesquita | 24 nov 2011_10h12
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O ano dois mil foi um marco na vida de Edgar Rocha. Depois de quatro anos sem gravar disco nenhum, finalmente teria uma nova chance. Edgar tinha feito muito sucesso nos anos 90, na novela Sede de Viver, onde, além de atuar, ele cantava o tema de abertura. Era dele a canção Cavalo Interno. Edgar aceitou o convite para gravar um novo CD.

Novas tecnologias e um mundo mais fácil para todos. Gravar um disco, por exemplo, ficou simples. Simples só para alguns, porque Edgar era uma anta virtual… Nem videocassete sabia programar! Hoje em dia, qualquer quartinho de empregada com um computador vira um estúdio. E era o que estava rolando no oitavo andar do edifício dois oito oito da rua Visconde Silva, no Humaitá, Rio de Janeiro.

Foi a faxineira quem abriu a porta pra ele. Uma senhora de uns sessenta e nove anos. Edgar ficou meio decepcionado pelo estúdio ser no quarto da empregada, mas como não tinha saída nem plano B, calou-se. O que importava era o contrato assinado e os músicos trabalhando nas bases da sua nova música, a canção: Supera!.

No tal quartinho cabiam dois músicos de cada vez. Edgar ficou em pé na porta, esperando sua hora no revezamento. Eugênio, o produtor, tocava as guitarras, programava teclados e loops de bateria. O outro músico era o Dunga, que tocava contrabaixo. Os dois já estavam hibernados no quartinho desde as dez. Edgar chegou às três, atrasadérrimo. Para ser simpático, apertou um skunk e botou na roda. Achou que estava abafando, mas Eugênio e Dunga recusaram. Dunga falou que não gostava de colocar nada no cérebro e Eugênio disse que há vinte e dois anos não fumava nada. Mas por ele tudo bem, podia acender.

Quando Edgar ia acender o baseado, viu dona Luzia, a faxineira, que limpava a cozinha perto do quartinho de empregada. Apagou em sinal de respeito, embora Eugênio dissesse que não tinha importância. Esperou que ela fosse faxinar lá pra dentro e tacou fogo. A fumaça subia e o tempo passava à largas baforadas. Horas depois, no final da tarde, os três músicos estavam mergulhados nas entranhas da canção. Perdidos entre linhas de baixo, arranjos vocais, solos de guitarra e levadas absurdas. Junto com o celular e a carteira de Edgar, a bagana descansava em cima da máquina de lavar roupa.

Viajandão, Edgar estava na porta do quartinho quando ouviu o “psiu” de D.Luzia, que vinha já de roupa trocada para ir embora. Dona Luzia entrou na lavanderia iluminada pelos últimos raios de sol daquela tarde. Ela tomou coragem, uniu o dedo indicador ao polegar e balançou a mão num gesto entre o “OK” americano e o nosso “vai tomar no cu”, dizendo:

– Edgar… Será que dá pra dar unzinho… ?

Por cinco segundos, Edgar ficou em choque. Voltou a si e acendeu. Deu duas longas tragadas antes de liberar a bagana para a dona Luzia. Encheu o peito, prendeu a fumaça falou:

– Ô, tia… Cof… Por que a senhora não falou antes?!… Cof… Cof… Toma! Pode levar pra senhora… Cof…

Saía fumaça até pelo ouvido dele. Estendeu a mão passando a baga para a senhora sob a nuvem de maconha:

– Não… Né isso não… Será que dá pra dar um… autografozinho?

E repetiu o gesto do “OK”, mas agora talvez mais para o “vai tomar no cu” mesmo. Edgar quase engoliu a bagana e saiu abanando, tentando inutilmente purificar o ar. Eugênio e Dunga, que testemunharam a cagada, se mijaram de rir. Edgar procurava caneta e papel para tentar consertar a situação dando um autógrafo caprichado para dona Luzia, a faxineira evangélica do Eugênio. Enquanto assinava, sentia no fundo que tinha perdido uma fã e que estaria com o filme queimado pelos próximos anos na comunidade da dona Luzia da Conceição.
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Fuçando nessa infinita videoteca do YOUTUBE, garimpa-se coisas muito interessantes e distintas. Vou salpicar por aqui umas pistas para quem procurar… Achar e sentir a agradável sensação de bem estar!

Ai vai um hotlist quentinho e com veneno.

Top five da semana:

1- Banda de São Paulo, (se não me engano de Ribeirão Preto) chamada SAMBÔ, que fazem uma mistura bem interessante de rock e samba. Eles tem uma versão de ROCK AND ROLL do Led Zeppelin, que é sensacional! O percussionista canta muito e deixaria Robert Plant orgulhoso. O baterista é maravilhoso tb e banda faz a mixagem de samba com rock ficar verdadeira, orgânica e porrada como o samba e o rock são!

2- Outra banda de São Paulo que gosto bastante é o Funk Como Le Gusta. Especialmente “16 Toneladas” e a divina interpretação da convidada também divina Elza Soares, cantando “eU não Vou Ficar Aqui” do Arnaldo Antunes.

3- Minha terceira dica é do Mash Up, que DJ, músicos, nerds e merds estão fazendo, alguns com ótimos resultados, que é a mistura de artistas, sons, musicas e etc… Resultando em outras canções. Por aqui, uma muito interessante é o “System of Dilma”, criação do DJfaroff e Xandelay. Vale a conferida!

4- Falando em Mash Up, o cara que me surpreendeu muito foi o KUTIMAN, que faz um trabalho belíssimo vomitando em forma de arte essa tsunami de informações musicais e sonoras que o youtube disponibiliza. Ele cria músicas belíssimas canções com pedaços de clipes de pessoas de diferentes estilos. Criar a sonoridade encaixando andamento, tom, melodias, instrumentos já difícil… Com a imagem é dificílimo harmonizar tudo… Mas o resultado que ele consegue é genial.

Combinar uma menina cantando a capela num quarto, comuns acordes de uma senhora dando aulas de piano, com um negão cantando um hiphop na rua de NY, com uma quarteto de cordas tocando uma peça clássica, mais uma mulher tocando harpa, com um cara no bongo ou acertar o solo de bateria de um maluco em algum lugar do planeta e fazer tudo isso soar em harmonia, puro e verdadeiro é muito legal. Vale a conferida em todos os clipes que ele dá um nome e um número

Nesse último, o chef Kutiman dá parte da receita do bolo, mesmo COM a cara de arrasada, por ter varado várias madrugadas fazendo arte. Aqui ele dá os endereços na íntegra dos pedaços dos clipes que ele “tocou”nas suas “Mash upadas”

5- Quinta dica é que gosto desse 8 e 80. Com tecnologia e sensibilidade e também adoro os caras cantando sozinho com violão ou guitarra. Fica a dica de Seasick Steve, o homem baile, numa apresentação no programa do Jools Holand.

É isso! divirtam-se e boa semana!

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