O Brasil vive sua pior crise hídrica em 91 anos, diante de uma escassez de chuvas que se estende desde 2019 e se intensificou em fevereiro de 2021. Desde que o país começou a medir os níveis de chuva, em 1931, os registros de setembro a maio nunca foram tão baixos como neste último período. O resultado é que a estação mais seca começa com os reservatórios em nível crítico: o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o maior do país, está no patamar mais baixo desde 2015, com menos de 35% da capacidade preenchida. As consequências já chegam ao bolso: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai usar a bandeira vermelha 2, a mais cara, para as contas de junho, e diz que o baixo nível dos reservatórios “aponta para um horizonte com reduzida geração hidrelétrica e aumento da produção termelétricas”. Como 65% da matriz elétrica brasileira é composta pela energia produzida nas usinas hidrelétricas, a sombra do apagão se projeta. Para atender à demanda de Sudeste/Centro-Oeste, já é necessário “puxar energia” do Norte, onde os reservatórios estão mais abastecidos. Uma falha nessa transmissão, segundo o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, é a causa do apagão em algumas áreas do país na virada do mês. Veja mais detalhes no =igualdades, em parceria da piauí com o site de jornalismo de dados Pindograma.
Na série histórica registrada desde o ano 2000, os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste têm um volume útil mediano de 64% no mês de maio. O abastecimento de maio de 2021, 32,1%, só é maior que os volumes registrados em 2015 e 2001, 31,6% e 30,4%, respectivamente. 2020, um ano mais próximo do padrão histórico, teve volume de 54,6% no mês de maio, por exemplo.
Ao fim de maio de 2021, o subsistema Sudeste/Centro-Oeste operava com apenas 32,11% da capacidade, o menor nível do país. O Norte tinha a melhor situação entre as cinco regiões brasileiras: seus reservatórios estavam com 84,47% da capacidade. Já o subsistema do Nordeste, o segundo mais abastecido do Brasil, operava com 63,44% de sua capacidade, duas vezes o nível do Sudeste/Centro-Oeste. Os reservatórios do Sul estavam em 57,46%, o equivalente a 1,8 vezes o nível registrado no subsistema Sudeste/Centro-Oeste.
Nota: Os dados consideram a Energia Armazenada (EAR) disponível em cada subsistema. Ela corresponde à energia que pode ser produzida pelo volume de água armazenado nos reservatórios.
Em junho de 2020, o Brasil consumiu 35.630 GWh de energia elétrica. Considerando um consumo similar para o mesmo mês deste ano e a determinação da bandeira tarifária vermelha 2, que encarece o custo da energia em todo o país, a conta de luz do Brasil pode subir R$ 2,7 bilhões e junho de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado.
Em maio, o acumulado de chuva na Bacia do Paraná foi de 27 mm. Isso equivale a pouco mais de um quarto da média climatológica histórica do período, que é de 98 mm. A situação fez o Sistema Nacional de Meteorologia emitir, pela primeira vez na história, um alerta conjunto de emergência hídrica para a bacia, reiterado pela Agência Nacional das Águas (ANA) nesta terça (1). A bacia abrange, além do estado homônimo, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. A média climatológica considera os valores mensais disponíveis nas duas séries climatológicas de referência, 1931-1960 e 1961-1990, mantidas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
Dos 63,8 GWmed de energia elétrica produzidos no país em maio de 2021, as usinas térmicas brasileiras produziram 9,6 GWmed – 15% do total. Em 2020, as térmicas produziram 5,3 de 56,5 GWmed em maio, isto é, 9,4%. Além de mais caras para operar, esse tipo de usina também depende da queima de combustíveis, gerando mais poluição que outras fontes energéticas. Apesar do aumento, a proporção ainda está abaixo dos anos de 2014 e 2015, quando as térmicas representaram mais de 20% da energia produzida no mês de maio.
No Sudeste, o consumo médio de água é de 143 litros por dia para cada membro de uma família. Isso corresponde a um gasto 70% maior do que aquele verificado no Norte. Nessa região, cada pessoa usa, em média, 84 litros de água por dia. É a segunda região mais econômica do Brasil, superada apenas pelo Nordeste, onde a média é de 83 litros.
Em maio de 2021, a média do nível do Rio Negro foi de 29,63 metros, isto é, 1,81 metro mais alto que a média para todos os meses de maio desde 2000, ficando atrás apenas do mês de maio de 2012. Nos dias 30 e 31 de maio, o nível do rio atingiu 29,97 metros, igualando os recordes de maio de 2012.