Sustentabilidade fiscal, mas sem sacrificar os programas sociais. Foi assim que o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, explicou o projeto econômico do governo Lula ao participar do evento Encontros piauí, realizado nesta terça em Brasília. “Vamos tentar buscar uma sustentabilidade fiscal, zerar o déficit e depois ter superávit, mas isso não será feito às custas do Farmácia Popular, do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida ou de pessoas que recebem até dois salários mínimos”, afirmou o economista, agora indicado pelo presidente Lula para assumir a diretoria de Política Econômica do Banco Central.
Segundo Galípolo, a pasta está revendo outros gastos tributários que não sejam custos voltados para o bem-estar da população mais pobre. Ele citou como exemplo a redução de programas de subvenção para empresas. “Tinha um professor que dizia: ‘Nos planos econômicos do Brasil, os lombos são sempre os mesmos, os chicotes é que variam’”, afirmou Galípolo ao ser entrevistado pela repórter Ana Clara Costa, da piauí, e pelo jornalista Rafael Cariello. “Esse é um plano econômico que tenta mudar um pouco isso.” O evento Encontros piauí é uma parceria entre a revista e o YouTube.
Galípolo ressaltou que há alguns anos existe a narrativa generalizada de que o povo e a sociedade não cabem no orçamento. “De alguma maneira, se tratou em níveis diferentes, como se fossem coisas distintas, o gasto com programa de renda e aquilo que é um gasto tributário, que é algum tipo de isenção fiscal ou um programa de incentivo para um setor específico da economia. Os dois são gastos.”
O economista teve a primeira passagem pela máquina pública em 2007, no governo de José Serra em São Paulo. De 2017 a 2021, foi presidente do Banco Fator, instituição com expertise em parcerias público-privadas. Neste ano, voltou à máquina pública na gestão Haddad. “Desde o início eu vim com uma ideia de metas específicas que teria que alcançar nesse período. É menos sobre forçar uma imposição, como se costuma fazer em uma empresa, de cima para baixo, e mais sobre um processo sobre qual é o caminho mais eficiente para conseguir extrair os resultados com a máquina e com a equipe à disposição”, afirmou Galípolo.
O secretário executivo ressaltou que, para a Fazenda, a democracia é o valor maior. E disse que a intenção da atual gestão é fazer uma comunicação mais acessível. “Entendo o orçamento não como uma peça técnica para meia dúzia de economistas discutir, o orçamento é como decidimos cuidar um dos outros e viver em sociedade. O processo democratico não se completa sem uma clareza no Orçamento.”
Galípolo afirmou ainda que, diante da mudança nas relações de trabalho da atualidade, o Brasil tem o desafio de construir uma proteção social para a população que está no mercado de trabalho. “A discussão tributária e orçamentária está relacionada a isso. Muitas vezes é uma massa de pessoas que não pode ficar doente, não pode tirar férias e tem dificuldade para se aposentar. Como a gente vai financiar e cuidar dessas pessoas?”
Galípolo evitou responder se concorda com a política de juros do Banco Central. “Na condição de indicado para o conselho monetário, seria um desrespeito com a diretoria e com o Senado que não me aprovou e não me sabatinou. Seria atravessar um sinal e opinar onde não devo opinar. Em nenhum momento cabe a mim emitir opiniões pessoais.” Quando questionado qual é a probabilidade de se candidatar à Presidência da República, também preferiu não responder. “Hoje eu estou preocupado com a probabilidade de ser ou não aprovado pelo Senado para a diretoria que o presidente Lula me indicou.”
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