A supersimetria – teoria proposta para explicar fenômenos deixados em aberto pela física – sofreu um duro golpe esta semana. A observação de um tipo raríssimo de decaimento de partículas subatômicas feita por pesquisadores do LHC foi recebida como um balde de água fria pelos partidários dessa teoria. “A supersimetria pode não estar morta, mas esses resultados certamente a levaram para o hospital”, disse à BBC Chris Parkes, físico britânico que participou do experimento.
Também chamada informalmente de Susy, a supersimetria propõe a existência de uma série de partículas ainda não observadas experimentalmente. Cada partícula subatômica conhecida teria, segundo essa teoria, uma correspondente supersimétrica, mais pesada e instável. Algumas partículas previstas por esse modelo poderiam ser as componentes da matéria escura, substância que, embora seja quase seis vezes mais abundante no universo do que a matéria visível, ainda escapa à compreensão dos cientistas.
O anúncio que frustrou os adeptos dessa teoria foi feito em Kyoto, no Japão, onde acontece esta semana uma conferência de física de partículas. Os resultados foram apresentados pela equipe do LHCb, um dos quatro grandes detectores montados ao longo do LHC, acelerador subterrâneo construído nas dependências do CERN, nos arredores de Genebra. O grupo relatou uma forma muito rara de decaimento – nome dado ao processo em que uma partícula pesada se transforma em outras, mais leves e estáveis.
As medições do LHCb flagraram partículas chamadas mésons Bs se transformando em múons, que são primos mais pesados dos elétrons. Esse tipo de decaimento só deveria acontecer três vezes a cada bilhão de ocorrências, de acordo com o modelo padrão, como é chamada a teoria que descreve as partículas subatômicas e suas interações.
“O LHCb tem evidência de que [esse tipo de decaimento] está mesmo acontecendo, numa taxa consistente com o modelo padrão. Isso é um grande sucesso para um cálculo sofisticado. Mas é também um tanto decepcionante”, escreveu num blog do o físico Jon Butterworth, especialista em supersimetria que trabalha num outro experimento do LHC.
A frustração se explica porque, caso partículas supersimétricas existissem de fato, elas poderiam talvez ter sido detectadas nesse experimento. Que os resultados sejam exatamente os previstos pelo modelo padrão exclui alguns modelos supersimétricos. Dos muitos modelos desse tipo já propostos, boa parte já foi descartada. Mas ainda é possível que um deles venha a ser confirmado. “Restam poucos lugares onde [as partículas supersimétricas] podem estar escondidas”, resumiu Chris Parkes.
A busca da supersimetria e de outras formas de nova física no LHC é tema de uma reportagem na piauí de novembro, atualmente nas bancas, e disponível para assinantes.
Foto: DO’Neil / CC 3.0 (BY-SA)
Leia também:
Cidade do átomo
Sejamos pragmáticos: um bóson de Higgs serve para quê?
O bóson e as duas culturas