A pedido de Michel Temer, um emissário telefonou no último domingo (22) a um dos líderes dos protestos que culminaram com um acampamento em frente à casa do presidente interino, na Zona Oeste de São Paulo. “O que vocês querem pra sair daí?”, perguntou. O grupo acabou sendo dispersado pela polícia e, a pedido do Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, criou-se uma “área de segurança” no bairro, com barreiras nas ruas de acesso à residência.
A manifestação partiu do Largo da Batata e marchou por 3 quilômetros até o Alto de Pinheiros, onde mora a família de Temer. No final da tarde, um grupo de 150 pessoas chegou a montar barracas na praça em frente à casa do presidente interino. Ele havia embarcado para Brasília poucas horas antes. No dia seguinte, novo protesto. Desta vez, vizinhos fizeram uma serenata na rua contra Temer. Sua sogra apareceu na sacada e disse que o filho de Temer, Michelzinho, de 7 anos, estava doente e que ela precisava ir à farmácia. Ninguém saiu do lugar. Na terça-feira (24), ao bater na mesa durante reunião no Palácio do Planalto e afirmar que estava acostumado a lidar com bandidos, Temer mandava um recado aos manifestantes, segundo me disse um auxiliar seu.
Os movimentos sociais pretendem intensificar os protestos contra o governo. A Frente Brasil Popular – integrada por grupos de esquerda como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) – e a Frente Povo Sem Medo – liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) – marcaram uma mobilização nacional para o dia 10 de junho. A decisão foi tomada ontem. A expectativa, disse Carina Vital, presidente da UNE, é mobilizar pelo menos 100 mil pessoas na cidade de São Paulo.
Já na próxima semana, a Frente Povo Sem Medo quer colocar 30 mil pessoas nas ruas de São Paulo, Brasília e outras capitais ainda não confirmadas. Não se descartou nova marcha até o bairro do presidente interino.
Após a grita em frente a sua residência, Temer pediu ao deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, líder da Força Sindical, para entrar em campo e abrir interlocução tanto com o MTST como com a Frente Nacional de Luta no Campo e Cidade, FNL, responsável pela ocupação da fazenda de um amigo do presidente interino em Duartina, no interior paulista. “Estou conversando com o pessoal pra gente poder dar uma acalmada. Domingo fizeram protesto na casa do presidente. O problema maior é a vizinhança. O povo rico endoida”, disse Paulinho.
O deputado ouviu os manifestantes e procurou o ministro das Cidades, Bruno Araújo, do PSDB. O MTST quer que o governo garanta a autorização para a Caixa construir até 11 250 unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida, medida endossada por Dilma Rousseff na véspera de seu afastamento e suspensa com a posse do novo ministro. Segundo o parlamentar, Araújo iria discutir o assunto com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ainda esta semana.
“Como o dinheiro está curto, não tem condições de erguer as 11 mil. Teria que fazer um cronograma de construção, mostrar o compromisso de não parar o programa”, disse Paulinho da Força. Para o deputado, se os programas sociais tiverem continuidade, apenas os militantes partidarizados, do PT e do PCdoB, seguirão nas trincheiras contra Temer: “O povo, que vai ser contemplado, vai sair da rua.”
Desde que assumiu a Presidência, Temer e seus aliados têm sido alvo de manifestações. Roberto Freire, presidente do PPS, foi hostilizado no saguão de embarque do aeroporto de Brasília. O chanceler José Serra foi recebido em Buenos Aires com uma chuva de bolinhas de papel. No Salão Azul do Senado, Romero Jucá anunciou sua licença do Ministério do Planejamento em frente às câmeras de tevê, sob gritos de militantes petistas que o chamavam de “golpista”. O líder do PMDB, Eunício Oliveira, teve seu escritório em Fortaleza pichado.
Além de contar com manifestações espontâneas e apartidárias contra o governo interino, movimentos sociais ligados ao PT não pretendem sossegar enquanto durar a interinidade de Temer. A estratégia de dirigentes do partido é promover um corpo a corpo com os seis senadores que ainda poderiam voltar atrás e votar contra o impeachment de Dilma – além, claro, de seguir com as manifestações, que encaram como favoráveis à estratégia de chamar de golpe o afastamento da presidente.