Thomas Kistner abriu o Festival Piauí GloboNews de Jornalismo 2016. Fernando de Barros e Silva, editor da piauí, e Juca Kfouri mediaram a conversa. Kistner é jornalista do diário alemão Süddeutsche Zeitung. Há cerca de vinte anos, apura e revela histórias sobre os interesses econômicos e políticos que financiam e alimentam o mundo do futebol. No repertório das suas reportagens, corrupção, tráfico de influência e doping.
Sobre a corrupção na FIFA, Kistner afirmou: “Em 1974, quando João Havelange assumiu a entidade, deu início a um novo sistema”. O jornalista também é autor do livro Fifa Máfia – O Livro Negro dos Negócios do Futebol, em que conta, em detalhes, como e por que a maior entidade de futebol do planeta passou a ser investigada pelo FBI e pela Interpol. O livro ainda revela documentos até então inéditos que comprovariam casos de corrupção na federação.
No festival, Kistner salientou que o esporte é a única parte da sociedade que ainda desfruta de autonomia do Estado. “Não existe uma autoridade jurídica que é capaz de intervir quando surge uma denúncia. Só quando há um caso muito escandaloso de corrupção”. Isso abriu precedentes para a FIFA criar suas próprias regras: “Quando há uma Copa do Mundo – e isso aconteceu no Brasil – a lei é a da FIFA. Há isenção de impostos, a possibilidade de trazer todo o material sem verificação da alfândega, só é permitida a venda de produtos oficiais perto dos estádios.” E completou: “Na FIFA, as pessoas se tratam como uma família. O Joseph Blatter costuma dizer: ‘Não precisamos de tribunais, a gente resolve nossos problemas internamente’. É uma frase que poderia ser dita por Don Corleone”.
Kistner também falou sobre a resistência que os torcedores têm para lidar com denúncias de corrupção no esporte. “O público não está disposto a aceitar notícias ruins. O futebol faz parte da sociedade. Nós estamos falando aqui de uma religião. Para afetar uma religião, você precisa ter fatos comprovados. Senão, é melhor esperar”. E resumiu que o pode matar a paixão pelo esporte. “As pessoas podem conviver com notícias ruins da FIFA. Elas não sentem que o dinheiro desviado é delas. Mas quando elas sentirem que estão sendo enganadas no campo, teremos um problema. Vai acabar a religião em torno do esporte. Acho que o futebol não se recuperaria disso”.