Aécio dizia sentir-se vitorioso. Tinha o rosto descansado e mostrava-se animado quando começou a discursar para a plateia, na frente de uma imagem gigante dele mesmo, que ocupava toda a tela do cinema. A foto trazia em segundo plano um símbolo turístico de São Paulo, o estado que se consolidava como o bastião do antipetismo e onde ele ganhara a eleição. Apesar da vitória dada pelos paulistas, Aécio perdeu a cadeira do Palácio do Planalto por pouco mais de 3 milhões de votos, na disputa mais acirrada desde a redemocratização do país.
“Na vida, o mais importante não é a largada. Tampouco a chegada. É a caminhada. A luta continua”, gritou, sob aplausos, ao citar o conterrâneo Guimarães Rosa. O recém-reeleito governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que, à época, perdera espaço no partido para o mineiro, ficou como papagaio de pirata do senador, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Aécio foi ovacionado e teve dificuldade de deixar o local. Na saída, precisou de seguranças para avançar alguns metros até o carro, cercado por pessoas que gritavam seu nome e tentavam se aproximar. Apesar da derrota, ele emanava poder.
Dois anos e meio depois, Aécio tornou-se um cadáver político. A aura daquele encontro na Paulista foi-se esvaindo, e ele não conseguiu deixar a “chama acesa”, mencionada durante aquele discurso. Nos meses seguintes, Aécio, presidente do PSDB, lideraria uma oposição titubeante, que inicialmente teve receio de apostar no impeachment de Dilma Rousseff, preferindo a cassação da chapa presidencial no Tribunal Superior Eleitoral. Seu partido impetrou os processos de cassação Dilma Temer dias depois da derrota e eles tramitam até hoje – ironicamente, as ações estão agora prestes a ser julgadas e, em tese, podem cassar também o presidente Michel Temer, apoiado, agora, pelo próprio Aécio. A avenida Paulista, que o recebeu tão bem em 2014, vaiou o tucano em 2016. Aécio foi chamado de “bundão” durante as manifestações pela deposição de Dilma.
Mas foram as delações da Odebrecht, que citavam caixa dois e propina para Aécio e levaram à abertura de inquéritos pelo Supremo Tribunal Federal, que complicaram os planos do tucano. Aécio abateu-se e viu sua intenção de voto nas pesquisas eleitorais derreter. O tiro de misericórdia, no entanto, veio nesta quarta com a divulgação, pelo jornal O Globo, da delação do empresário Joesley Batista da JBS, segundo a qual Aécio teria pedido 2 milhões de reais para, supostamente, pagar um advogado. Nesta quinta, pela manhã, ele foi afastado do cargo de senador pelo ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal; sua irmã, Andrea Neves, que sempre cuidou dos negócios da família, foi presa em casa, em Belo Horizonte; e a prisão de Aécio será definida pelos demais ministros da Corte.
Aécio Neves foi para a lona, e agora os próprios tucanos, focados na sobrevivência do partido, falam na sua saída da presidência do PSDB, que oficialmente iria até 2018. Os disparos vêm de São Paulo, justamente o estado que o acolheu tão bem em 2014. “Chegou a hora de você sair da presidência nacional do PSDB”, disse nessa quarta o vereador paulistano Mario Covas Neto. “Precisamos de uma liderança. Estamos como um barco à deriva”, comentou um líder do partido no Congresso.
Com a derrocada de Aécio, Geraldo Alckmin e o prefeito paulistano João Doria Jr passam a representar o novo o eixo da disputa pelo Palácio do Planalto no PSDB. O mineiro ainda tem o controle da cúpula partidária, mas isso é uma questão de tempo. Nos próximos meses, Aécio estará às voltas com sua defesa, e o partido começará a se aglutinar em torno de quem representa perspectiva de poder. Diferentemente de 2014, essa perspectiva não é mais representada por ele.
Aécio costumava dizer que “a Presidência da República não é desejo, mas destino”. Aos interlocutores dava a entender que era ele o predestinado. Não contava com a Lava Jato no meio do seu caminho. Aécio perdeu a sua vez.