No dia 14 de junho de 2015, Dalton Trevisan completa 90 anos. Notoriamente avesso a qualquer exposição publica, passará esse dia como todos os outros: no mais completo anonimato, preservado da curiosidade de seus leitores e na presença apenas de sua família e de alguns amigos muito próximos.
As duas peças mostradas aqui permitem evocar etapas menos arredias da vida de Dalton, quando a fama ainda não o havia obrigado a preservar-se do interesse invasivo do público. A primeira é uma foto de 1946. O escritor tinha 21 anos e não evitava ainda ser retratado. Vê-se um garoto descontraído, de cara comum, a quem os óculos dão um certo ar de . Esta foto parece não ter sido nunca publicada. Foi adquirida há oito anos num leilão de papéis velhos no Rio de Janeiro, quando foi dispersado o acervo de um escritor carioca amigo de Dalton.
A outra peça mostrada aqui é uma das pequenas publicações que Dalton fazia artesanalmente, no começo de sua carreira, às suas próprias custas, em sua Curitiba natal. Já na década de 1950 havia publicado vários desses folhetos com textos inéditos e nos anos seguintes chegou a fazer algumas reedições em nova roupagem. Essas tiragens modestas eram destinadas sobretudo aos amigos e os poucos livretos vendidos tinham um preço baixíssimo para facilitar sua circulação.
Este exemplar de O anel mágico de 1964, publicado na Gráfica Irmãos Requião, traz na capa um desenho que já havia sido usado em Os Domingos ou Armazém do Lucas que Dalton publicara em 1954. Será desenho dele ou de algum filho? Parece, em todo caso, um desenho infantil e deve ter agradado suficientemente ao escritor curitibano para que o usasse duas vezes em capas suas.
O pequeno livro traz uma dedicatória ao também escritor Renard Perez, seu contemporâneo, com bom trânsito nas redações de jornais do Rio de Janeiro, na década de 1960, quando a obra de Dalton começava a ser apreciada e admirada e o autor ainda se esforçava em mandar exemplares àqueles que podiam ajudar a divulgá-la.
Segundo a crítica acadêmica, Trevisan faz hoje parte, juntamente com Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca (com quem a imprensa não cansa de compará-lo) de uma tríade de maiores escritores brasileiros vivos, todos agora com mais de 90 anos.