O presidente interino, Hamilton Mourão, disse nesta quarta-feira, 26, que o militar da comitiva de Jair Bolsonaro preso em flagrante com 39 quilos de cocaína na Espanha é uma “mula qualificada”. Apesar da quantidade de droga, pouco comum para esse tipo de transporte, e do valor que o carregamento alcança no mercado europeu – 2 milhões de euros – há indícios de que o militar seja uma mula ocasional a serviço de um traficante, esse sim, qualificado.
Segundo-sargento da Aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues, 37 anos, é tocantinense radicado em Brasília – em 2014, ele ganhou uma casa popular do governo do Distrito Federal. Atua como comissário de bordo no Grupo de Transportes Especiais da Força Aérea, com salário de pouco mais de 7 mil reais por mês. A maior parte de seus deslocamentos a trabalho foi dentro do Brasil. Antes da viagem desta terça-feira, Rodrigues fez poucas rotas internacionais. Segundo o repórter Fábio Fabrini, da Folha de S.Paulo, em janeiro do ano passado o comissário acompanhou a comitiva do então presidente Michel Temer até a Suíça para o Fórum Econômico Mundial. Antes, em 2011, Rodrigues acompanhou representantes do Itamaraty na capital norte-americana e em Antígua e Barbuda, Caribe – rotas pouco usuais para narcotraficantes brasileiros.
Rodrigues foi preso durante um controle aduaneiro de rotina no aeroporto de Sevilha, sul da Espanha, onde o avião em que ele estava, um Embraer 190 da FAB, fez escala. A aeronave seguiria para o Japão, onde Bolsonaro participa de um encontro dos 20 países mais ricos do mundo, o chamado G20. O militar levava na bagagem 37 tabletes de cocaína, com um total de 39 quilos da droga. O setor de combate ao narcotráfico da Polícia Federal disse que o flagrante foi por acaso, já que o militar não era investigado no Brasil.
Rodrigues ficou detido na Espanha, enquanto o avião seguiu viagem para o Japão. Bolsonaro estava em outra aeronave, que, após o flagrante em Sevilha, mudou a escala do voo para Lisboa, Portugal.
A Aeronáutica já constatou que o militar burlou o aparelho de raio X da base aérea da FAB, na capital federal. Segundo agentes da PF ouvidos pela piauí, esse pode ser o motivo pelo qual ele levou grande quantidade de cocaína na bagagem – em voos comerciais, as “mulas” costumam levar bem menos droga, entre dois e três quilos.
Devido ao alto poder aquisitivo de sua população, o Distrito Federal é uma rota importante da cocaína que sai da Bolívia, com escala em Mato Grosso ou Goiás. “Tudo indica que ele estava a serviço de um traficante brasileiro com certo poder aquisitivo”, diz um agente antinarcóticos da Polícia Federal.