“Com o presidente atormentado por escândalos, audiências no Congresso e até conversas sobre impeachment, a Fox tem sido ao mesmo tempo seu escudo e sua espada. A Casa Branca e a Fox interagem tão perfeitamente que é difícil determinar, em um determinado ciclo de notícias, quem está seguindo quem”, escreveu a jornalista Jane Mayer, em março passado. Sua reportagem em que esmiuçou em detalhes a relação de Donald Trump com o canal de TV de Rupert Murdoch teve grande repercussão – e agora, com o processo de impeachment de Trump em curso, pode ganhar um novo capítulo.
Mayer revelou que a Fox News tinha a informação sobre a compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels por advogados de Trump ainda durante a campanha eleitoral, mas optou por não divulgá-la. E que, uma vez no cargo, o presidente pressionou o Departamento de Justiça para impedir um negócio que podia prejudicar os interesses de Murdoch, dono da 21st Century Fox: a compra da Time Warner, dona da CNN, pela AT&T. Descobriu ainda que Trump tem um caderninho em que registra suas “notas por lealdade” aos âncoras da Fox, de quem toma conselhos e dicas. “Há uma coordenação de narrativa que eu nunca vi em nenhuma outra gestão na Casa Branca”, diz a repórter.
Mayer sabe do que está falando. Aos 64 anos, dos quais quase 40 dedicados à cobertura jornalística em Washington, ela testemunhou – e escreveu sobre – o escândalo dos Irã-Contras, na gestão de Ronald Reagan, a fabricação de manuais de tortura pela CIA, sob George Bush, e o papel crucial dos irmãos Koch na emergência da extrema direita americana. Em 2010, quando ninguém ainda falava do assunto, contou na New Yorker como alguns dos empresários mais ricos dos Estados Unidos investiam pesadamente na formação de lideranças de direita. Depois que a matéria foi publicada, Mayer foi investigada por detetives particulares e acusada de plágio por sites ligados ao movimento conservador. A investigação não descobriu nada, e a acusação de plágio se provou falsa. Dado o impacto de suas reportagens, uma das perguntas que Jane Mayer mais ouve é “o que você anda aprontando?”
A julgar pelo que ela mesma disse há alguns meses à revista Elle, pouca coisa não é. “Eu ando bastante obcecada com o que aconteceu com Trump. Como ele foi eleito em 2016? Ainda não parece muito certo. Como foi que tudo ficou tão feio e dividido?” No próximo sábado, Mayer vai responder a essa e outras perguntas no palco do Festival Piauí de Jornalismo, no auditório da Faap. A conversa será conduzida pela repórter Malu Gaspar, da Piauí, e pelo jornalista André Petry. Esperamos você lá.