Milton e Augusto Nascimento: depois do diagnóstico de demência, uma das raras reações do cantor é chamar o filho para se sentar ao seu lado no sofá com almofadas estampadas com capas de álbuns dos Beatles CRÉDITO: JULIANO ROCHA_2025
Uma viagem de motorhome com Milton Nascimento
Depois de atravessar 4 mil km nos Estados Unidos, cantor recebe diagnóstico de demência
No primeiro semestre deste ano, Milton Nascimento, de 82 anos, viveu um período especialmente feliz de sua vida. Foi o primeiro artista vivo a ser homenageado pela escola de samba Portela, maior campeã do Carnaval carioca (com 22 títulos), nos desfiles da Marquês de Sapucaí no início de março. No mesmo mês, participou do lançamento do documentário Milton Bituca Nascimento, dirigido por Flávia Moraes. Além disso, estava de casa nova: alguns meses antes, ele havia se mudado de um imóvel de quatro andares para uma residência de apenas um piso térreo, com vista para a Pedra da Gávea.
Depois do desfile da Portela e do lançamento do documentário, seu filho, Augusto Nascimento, achou Milton um tanto esquecido, com pouco apetite e o olhar muitas vezes fixo em um único ponto, como contou a João Batista Jr., em reportagem na edição deste mês da piauí. O cantor também estava repetitivo, indo e voltando nas mesmas histórias em questão de minutos, o que era ainda mais estranho, porque Milton costumava passar horas contando passagens diferentes de sua vida.
Augusto achou melhor chamar o clínico geral Weverton Siqueira, que acompanha Milton há dez anos. Em abril, começaram a ser realizados testes clínicos no cantor, com perguntas para averiguar diferentes domínios cognitivos, como atenção, capacidade de cálculo, orientação de espaço e linguagem. O médico disse a Augusto que, pela primeira vez em uma década, tinha se assustado com o declínio cognitivo do músico. Em razão disso, pediu mais uma bateria de exames. “Quando vi que o meu pai apresentava uma piora brusca no quadro cognitivo, perguntei ao médico se seria uma loucura fazer uma viagem de motorhome com ele pelos Estados Unidos”, disse Augusto.
O médico respondeu que, se a ideia era cair na estrada, a hora seria aquela. Em 7 de maio, Milton e Augusto embarcaram para Dallas, no Texas. No dia seguinte, foram a um show de Paul Simon, que se encontrou com o brasileiro depois da apresentação. Em 9 de maio, pai e filho seguiram para Phoenix, capital do Arizona, onde alugaram um motorhome, que servia de casa para eles durante o dia (à noite, eles dois dormiam em residências alugadas por meio do Airbnb). Com Augusto na direção, a dupla percorreu 4 mil km durante dezesseis dias, atravessando os estados de Arizona, Utah, Idaho, Wyoming e Montana.
Na volta da viagem de motorhome pelos Estados Unidos, Milton falou muito da viagem. “Meu pai contava para todo mundo como se tivesse sido a melhor coisa da vida dele”, recorda Augusto. O filho achou que tinha valido a pena aquela aventura. Ele foi adotado oficialmente por Milton em 2017. “A nossa relação só se consagrou e se consolidou porque eu tinha a mesma lacuna de vida: eu não tinha um pai, ele não tinha um filho”, diz Augusto, de 32 anos. “Havia espaço para ele na minha vida, e na vida dele para mim.”
Algumas semanas depois do retorno dos Estados Unidos, Milton recebeu um novo diagnóstico médico. Augusto contou à piauí que ele está sofrendo de demência por corpos de Lewy (DCL). É o terceiro tipo mais comum de demência, resultado da degeneração e morte de células nervosas no cérebro, que se deterioram quando apresentam depósitos anormais de proteína alfa-sinucleína, chamados “corpos de Lewy”. A DCL tem sintomas parecidos com os do mal de Alzheimer e, no que diz respeito às questões motoras, ao Parkinson – por isso, o diagnóstico anterior de Milton era de Parkinson.
Leia a íntegra da reportagem neste link.
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