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Virada eleitoral: missão (im)possível?

Só uma em cada quatro disputas de segundo turno teve reviravolta em relação ao primeiro nas últimas seis eleições municipais

Hellen Guimarães | 26 nov 2020_09h24
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Das 95 cidades passíveis de segundo turno em 2020 (isto é, aquelas com mais de 200 mil eleitores), 57 elegem seus prefeitos neste domingo entre elas, 18 capitais. Para candidatos que chegaram ao segundo turno atrás do adversário, a estatística traz más notícias: segundo um levantamento do site Poder360, nas últimas seis eleições municipais, só um em cada quatro deles conseguiu virar o jogo.

Houve 242 disputas de segundo turno nas eleições municipais de 1996 a 2016 e apenas 57 viradas (23,6%). E, quanto maior a distância percentual no primeiro round, mais difícil é a missão no segundo: dessas 57 reviravoltas, só 14 (24,6%) ocorreram quando a diferença era superior a 10 pontos. É esse o caso de metade das capitais neste ano, incluindo São Paulo e Rio, as duas maiores do Brasil.

Prefeito de capital mais mal avaliado do país em 2020, com 66% de ruim/péssimo, Marcelo Crivella (Republicanos) passou todo o primeiro turno empatado tecnicamente com adversários mais fracos no Rio, ainda que a conjuntura deste ano favoreça ainda mais os candidatos à reeleição. No fim, conseguiu 22% dos votos, 15 pontos a menos que Eduardo Paes (DEM). Na primeira pesquisa do segundo turno, porém, viu a distância mais que dobrar: 54% para Paes contra 21% para o atual prefeito carioca segundo o Datafolha. Na consulta mais recente, do Ibope, a distância ainda é grande apesar da leve queda: 53% a 28% (25 pontos percentuais).

Em Boa Vista, Ottaci (Solidariedade) conquistou 10,59% do eleitorado e passou de raspão, com apenas 0,6 ponto percentual de frente contra o terceiro colocado. Enfrenta agora um adversário que quase se elegeu no primeiro turno com praticamente o quíntuplo de eleitores, o emedebista Arthur Henrique (49,64%), e que também aumentou a vantagem segundo o Ibope: 67% a 19%.

Quem já quebrou tabus no primeiro round, por outro lado, anima seus apoiadores na briga por mais um feito. É o caso de Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PCdoB), duas lideranças jovens de esquerda que apostaram em vices experientes e conquistaram bons resultados no primeiro turno. Boulos tem a seu lado Luiza Erundina (Psol), a primeira mulher prefeita de São Paulo, eleita por um partido de esquerda (o PT, em 1988) e deputada federal há seis mandatos. Já Manuela conta com Miguel Rossetto (PT), um dos fundadores do PT e da CUT, que já foi vice-governador gaúcho e ministro de Lula e Dilma. 

No primeiro turno, Manuela superou o candidato à reeleição e, agora, tenta se tornar a primeira mulher a comandar o Paço Municipal. A seu favor, ela tem uma das menores diferenças de votação para o campeão do turno, Sebastião Melo (MDB), de apenas 2 pontos percentuais. Mas, na largada do segundo turno, a distância aumentou: o Ibope divulgado também nesta terça mostra 49% das intenções de voto para Sebastião Melo e 42% para Manuela.

Boulos, por sua vez, ficou quase 13 pontos percentuais atrás do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), mas deixou para trás adversários como Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB). Levou seu partido à primeira disputa de segundo turno em São Paulo, desbancando o PT pela primeira vez em 35 anos. No segundo turno, de acordo com o Datafolha desta terça-feira (24), Boulos cresceu 5 pontos em relação à última consulta, publicada no dia 19. Covas, por sua vez, manteve-se estável. A diferença entre eles caiu para 8 pontos percentuais (48% x 40%). O Ibope do último dia 25, porém, mostra uma retomada de Covas com diferença de 11 pontos: 48% a 37%.

Boulos e Manuela têm outra estratégia em comum: uma campanha afiada nas redes sociais, buscando adesão num terreno em que a extrema direita cresceu nos últimos anos e que foi decisivo para a vitória do presidente Jair Bolsonaro em 2018. Em 2020, a esquerda contra-ataca, aproveitando ainda resquícios da visibilidade da campanha de 2018, no caso de Manuela, ou tirando dela seu ponto de partida para mudar de método, no caso de Boulos. Ao se posicionarem como vozes opostas à do presidente nas redes desde sua vitória nas urnas, os dois viram a popularidade crescer: no Twitter, por exemplo, cada um tem hoje 1,1 milhão de seguidores. Em novembro de 2018, Boulos tinha 218 mil e, Manuela, 418 mil.

 

No histórico brasileiro de viradas difíceis, outros candidatos também veem nas pesquisas razões para crer que possam ser a exceção: em Belém, o delegado Eguchi (Patriota) teve 23,06% dos votos, 11 pontos percentuais a menos que Edmilson Rodrigues (Psol), e estaria, portanto, no grupo das viradas mais improváveis. A primeira pesquisa do segundo turno, porém, divulgada pelo Ibope no último dia 21, mostra um empate técnico: 45% a 43% a favor do psolista, com margem de erro de 4 pontos percentuais.

Em três capitais, pelo menos na intenção de voto, o segundo colocado do primeiro turno já virou o jogo segundo as pesquisas. Em Maceió, onde ocorreu a disputa mais acirrada no último dia 15, o próximo dia 29 também promete: JHC (PSB) chegou ao segundo turno com apenas 0,31 ponto percentual a menos que Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). No Ibope de 23 de novembro, no entanto, ele atingiu 42% das intenções de voto, contra 38% do emedebista.

Já o Recife, outra capital com disputa voto a voto, viu a segunda colocada virar e abrir vantagem sobre o primeiro colocado, ao menos na primeira pesquisa. Marília Arraes (PT) teve cerca de 10 mil eleitores a menos que seu primo, João Campos (PSB). No Datafolha do último dia 20, porém, ela aparece com 41% das intenções de voto, contra 34% de Campos. A diferença, que era de 1 ponto percentual a favor de Campos, passou para 7 a favor de Arraes. Mas o Ibope divulgado nesta quarta (25) dá um alívio ao primeiro colocado nas urnas: 43% a 41% a favor de Campos.

Caso semelhante é o de Manaus, onde Amazonino Mendes (Podemos) teve apenas 1,5 ponto percentual de votos a mais que David Almeida (Avante). No Ibope do último dia 21, entretanto, não só Almeida virou como abriu uma vantagem 10 vezes maior que a de Mendes no primeiro turno: 15 pontos percentuais (47% x 32%). Resta saber se essas grandes viradas constatadas pelas pesquisas serão ratificadas ou retificadas nas urnas.

Neste segundo turno, nove capitais estão no grupo das viradas mais improváveis, aquelas em que a diferença de votação no primeiro turno entre os candidatos foi superior a 10 pontos percentuais. São elas: Boa Vista (39), Rio Branco (27), Aracaju (24), Porto Velho (20), São Luís (16), Rio de Janeiro (15), São Paulo (13), Belém (11) e Goiânia (11 p.p.). Em outras nove, a missão seria menos árdua: Maceió (0,3), Recife (1), Manaus (1,5), Porto Alegre (2), Fortaleza (2,4), Cuiabá (3), João Pessoa (4), Teresina (8) e Vitória (9 p.p.).

De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, em duas capitais os segundos colocados já viraram em intenção de voto: Manaus e Maceió, “convertendo”, respectivamente, 16,5 e 4,3 pontos percentuais. Ambas se encontram na prateleira das viradas mais prováveis. Além de Maceió, em outras quatro também há empate técnico: Belém, Cuiabá, Vitória e João Pessoa.

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