Waltel Branco (1929-2018) foi um artista múltiplo. Como instrumentista, arranjador, intérprete ou diretor musical, transitou por praticamente todos os ritmos. Da música clássica às trilhas de novela; da Bossa Nova ao rock; do jazz ao samba; da soul music ao brega; da MPB aos regionais; entre tantas outras vertentes. Pelo caminho, trabalhou com alguns dos maiores artistas brasileiros.
No início dos anos 1980, já como diretor musical da Rede Globo, o maestro se reencontrou com um velho amigo, com quem havia dividido um quarto de pensão na década de 1950: João Gilberto. A relação trouxe muitos trabalhos e grandes histórias:
Assim que entrou na sala do homem forte da Rede Globo, José Bonifácio Sobrinho, o Boni, Waltel Branco farejou que algo não ia nada bem. Em torno da mesa, falavam alto e gesticulando bastante o diretor musical Guto Graça Mello e o produtor João Carlos Botezelli, o Pelão, além do próprio executivo. Pelos trejeitos e tons de voz, Waltel percebeu que Boni estava puto e Guto, muito nervoso, branco como cera. Para não interrompê-los, o maestro contornou a mesa e foi se acomodar em um sofá, ali perto. Ficou observando a conversa, em que, de quando em quando, Graça Mello exclamava: “Não vai dar, não vai dar!” Por seu turno, Boni soltava palavrões cabeludos, enquanto parecia pensar em uma saída. Com os fragmentos de informação que pegou no ar, Waltel supôs de que se tratava: “O que vocês estão aí gritando? É sobre o programa do João, de amanhã?”, perguntou. “É!”, respondeu Boni, com semblante grave.
O João, em questão, era João Gilberto. No dia seguinte – era agosto de 1980 –, a Rede Globo gravaria o especial João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, na série Grandes Nomes. O pai da Bossa Nova se apresentaria ao vivo, em noite de gala, acompanhado da orquestra da emissora. A expectativa era imensa, não tanto pelas exigências técnicas do ouvido absoluto do homem que revolucionou a música brasileira, mas porque João havia voltado a morar no Brasil no ano anterior e aquele seria o primeiro registro integral de uma apresentação sua após o regresso.
“Tá, mas e daí? O que é que tem?”, quis saber Waltel. Aos atropelos, Guto e Boni explicaram, quase ao mesmo tempo: a Globo havia encomendado os arranjos de orquestra a Claus Ogerman, famoso maestro alemão que já tinha sido arranjador, por exemplo, de alguns dos discos de Tom Jobim. Ocorre que, até aquele instante, às vésperas da gravação, o gringo ainda não tinha enviado as partituras, o que fazia com que Boni cogitasse adiar o programa. E adiar um especial de João Gilberto era um tiro no escuro e tanto. Podia ser que o baiano se negasse a aparecer nos estúdios em outra data e o programa fosse para as cucuias.
O que se seguiu a partir daí foi narrado por Pelão e referendado por Waltel. Segundo consta, o maestro se levantou com a maior naturalidade e disse: “Falem as músicas que eu faço os arranjos.” Em seguida, o arranjador só pediu a Pelão para que este arrumasse um bom copista para as partituras. Entre atônitos e aliviados, Boni e Guto passaram ao maestro a relação das músicas nas quais João Gilberto seria acompanhado da orquestra da Globo, entre as quais, Menino do Rio (Caetano Veloso), Wave (Tom Jobim), Tim Tim Por Tim Tim (Haroldo Barbosa/Geraldo Jacques), Estate (Bruno Martino/Bruno Brighetti), Joujoux e Balangandãs (Lamartine Babo) e Canta Brasil (Alcyr Pires Vermelho/ David Nasser). Waltel levou a pequena lista e deixou a promessa: “Amanhã, às duas horas [da tarde] os arranjos estarão aí.” Boni ficou com a sensação de “seja o que Deus quiser”.
O ensaio com João e orquestra estava marcado para as três da tarde. Desde o início da manhã, Boni e Guto estavam em um visível estado de nervos, aos atropelos pelos corredores. “Não vai dar tempo”, dizia Graça Mello, prevendo o pior. Contudo, na hora prometida, o copista apareceu com as partituras dos arranjos escritos por Waltel. O ensaio estava garantido. A partir daquele instante, só haveria algum problema se o astro principal torcesse o nariz a algum detalhe. Pouco depois das três, quando João Gilberto estava sentado ao seu banquinho, com o violão apoiado sobre as pernas, o maestro Alceo Bocchino – que regeria a orquestra da Globo no especial – baixou a mão, dando o comando para que os músicos entrassem, em Wave. No meio da passagem, João logo o interrompeu: “Para, para, para, para!” De seus cantos, Pelão e Guto suaram frio, pensando que a audição absoluta de João tivesse desaprovado o arranjo. Mas era o contrário: “Vocês viram como o Claus Ogerman está cada dia melhor?!”, disse o astro, pensando que o maestro alemão é quem tinha sido responsável pelo trabalho. João só viria a saber que os arranjos eram de Waltel tempos depois.
“Waltel sempre foi muito amigo do João, mas quem estava com o cu na mão era a gente (…). [Quando o João interrompeu o andamento da orquestra,] deu uma tremedeira na perna que eu quase caí”, contou Pelão, ao portal Gafieira.
O especial João Gilberto Prado Pereira de Oliveira foi gravado no Teatro Fênix, praticamente sem intercorrências – a exceção foi uma reclamação pontual do cantor em relação ao ar refrigerado. Na plateia, estavam em peso atores da Globo, como Marília Pêra, Betty Faria e Hugo Carvana, e nomes fortes da música, como Ivan e Lucinha Lins, Caetano Veloso, Moraes Moreira e o jovem Lulu Santos. A apresentação contaria com duas participações especiais. Em dueto com a filha Bebel Gilberto – então com 14 anos –, João cantou Chega de Saudade (Tom/Vinícius), acompanhando-se apenas de seu próprio violão. A outra convidada era Rita Lee, com quem o dono da noite cantaria Joujoux e Balangandãs, sob acompanhamento da orquestra, com arranjo de Waltel. O programa foi ao ar na noite de 5 de setembro de 1980. Detalhe: nos créditos do especial, os arranjos foram atribuídos a Claus Ogerman. Ainda naquele ano, o registro fonográfico da apresentação foi lançado em disco pela WEA. Mais uma vez, o nome de Waltel não constaria dos créditos. Branco nunca soube se o nome de Ogerman foi mantido propositalmente pela Globo e pela Som Livre, como se um maestro gringo pudesse trazer mais prestígio ao produto final. Apesar disso, Waltel não manifestava ressentimentos em relação ao episódio.
João Gilberto tinha voltado ao Rio de Janeiro em 1979, após uma década e meia quase totalmente fora do Brasil. Entre os trabalhos internacionais, havia lançado dois discos com o saxofonista norte-americano Stan Getz – por um deles, Getz/Gilberto, ganhou o Grammy de melhor álbum do ano – e um LP gravado ao vivo no México. Desde 1962, o homem da batida da Bossa Nova não se apresentava no Rio. Agora, voltava para uma série de shows na tradicional casa de espetáculos Canecão. Viria para ficar. Passou a morar, inicialmente, em um apartamento em Copacabana e só se sentiu em casa quando, logo aos primeiros dias depois do regresso, flagrou pela janela de seu quarto os movimentos malemolentes de um militar da guarda do Forte de Copacabana. “De repente, à luz daquela tarde ensolarada de quinta-feira, o soldado começou a dançar, gingando o corpo e sapateando. Juro que era samba. Então acreditei de vez; eu estava no Rio de Janeiro. No Brasil, afinal”, contaria João um pouco depois, ao repórter Carlos Alberto Silva, do jornal O Globo. A temporada no Canecão, no entanto, acabaria cancelada, em razão de problemas técnicos insolúveis. (Ah, o ouvido absoluto de João Gilberto!)
Waltel, é claro, já tinha ouvido rumores de que João Gilberto estava para voltar, e que estavam previstas apresentações do amigo no Canecão. Mas, antes que pudesse procurá-lo para recebê-lo, João o encontrou. Tarde da noite, em pleno meio de semana, o telefone da casa do maestro tocou. Do outro lado da linha, Waltel ouviu um saudoso e afetuoso João Gilberto, com quem conversou por horas a fio. Ao longo da prosa, falaram sobre a abertura política que se avizinhava, sobre sambistas que João queria redescobrir – como Cartola e Nelson Cavaquinho – e sobre as impressões do cantor a respeito do Rio. João também se queixou do “mito” João Gilberto, tido como um homem tão genial quanto excêntrico. “Eu não sou nada disso, Waltel. Você sabe”, resumiu o violonista, quase em um muxoxo. O homem da Bossa Nova registraria a mesma reclamação ao jornal O Globo.
“O mito João Gilberto me assusta, me deixa com medo de falar das coisas e pessoas que amo. Com medo de feri-las e assustá-las. Queria ser assim como vocês, da imprensa: [que são] igual ao trabalho que produzem. Isso, aliás, é um grande trauma meu: não ser como é a minha música. Eu tento, mas não consigo”, disse.
Tidas como uma das esquisitices de João, as conversas sem fim ao telefone se tornaram frequentes com Waltel. Talvez porque o maestro – também considerado excêntrico – entendesse bem o amigo. Filha de Waltel, Jael Branco se lembra que, em certa época, as ligações telefônicas entre os dois eram semanais e quase varavam a madrugada. Vez ou outra, acontecia de ela acordar de manhã e encontrar o pai de pijama, com o telefone à orelha, conversando com João. Após passar parte da noite em divagações com o amigo, o arranjador dormia um pouco, acordava, tomava um café forte e lá se ia para a Globo, cumprir expediente.
Conversavam sobre tudo. Sobre antigos conjuntos vocais, sobre sambas que João desencavava de memória, sobre religiões orientais e meditação, sobre jogos de futebol e sobre poesia. De quando em quando, João Gilberto desatava a falar de boxe. Era capaz de discorrer com tintas de comentarista esportivo as qualidades técnicas de lutadores da atualidade, mas também podia descrever lutas memoráveis a que havia assistido anos antes, nos Estados Unidos ou no México. Em algumas ocasiões, o cantor gostava de falar das mulheres de sua vida, das novas namoradas. Em outras, relembrava passagens do passado, quando ambos ainda dividiam um quarto de pensão em Copacabana, lutando por seu espaço. Às vezes, João pedia para Waltel tocar violão – quase sempre, algum número de Bach – ou para detalhar “novidades” do mercado fonográfico que o maestro considerasse dignas de nota e de atenção. Em outras, João é quem tocava para que o amigo ouvisse. Não raramente, parava para comer e retornava a conversa quinze minutos depois, encontrando Waltel ainda do outro lado, com paciência monástica. O maestro aproveitava esse meio-tempo para (por incrível que pareça) revisar arranjos que tinha levado pra casa.
Em ocasiões que se contam nos dedos, João convencia Waltel a ir até ele. O maestro encontrava, então, o amigo de pijama, com a tevê ligada e sem som. Às vezes, tocando violão. Era daquela forma que o homem que revolucionou a música brasileira passava a maior parte de seu tempo: enclausurado em seu apartamento, com a televisão no mudo. Quando não era isso, era o telefone. “João gostava de ver algumas novelas – isso se o enredo o pegasse. Senão deixava a tevê muda. [Ele] era fanático pelo Fluminense. Não perdia um jogo. Mas gostava de assistir sem som e tocando violão. Ele falava que tinha a impressão que era a sua música que regia os jogadores. Coisas do João”, contou Waltel. “Talvez ele tenha dado sorte, mesmo. Por aqueles anos [em 1984], o Fluminense foi campeão [brasileiro]”, acrescentou.
Por essa época, também se estabeleceu outra mania, embora com frequência menor: os passeios noturnos de carro. Com seu jeito sedutor ao telefone, João convencia Waltel a se desabalar de sua casa, em Jacarepaguá, até Copacabana. A partir dali, ambos rodavam pela cidade, em um dos carros do maestro – em regra, o Dodge Dart ou o Corcel. Com o violão no banco de trás, seguiam a alguma praia afastada e vazia, onde se sentavam à areia e se alternavam em acordes e canções e escutavam as ondas quebrando. Em outras ocasiões, João preferia trafegar por alguma estrada de pouco movimento, a fim de “ouvir as estrelas”. Os papos pareciam os mesmos desde os tempos em que dividiram um quarto de pensão, quando ainda tentavam se estabelecer no Rio. Encontravam-se, é claro, em um estágio completamente diferente daquela época. João era um fenômeno. Waltel, prestigiado maestro e supervisor musical da maior emissora da América Latina. Apesar disso, ainda tinham a mesma obsessão em relação à perfeição e pareciam ter a música como única preocupação. Embora não lhes faltasse, então, dinheiro, é como se não tivessem que se ocupar de atribulações prosaicas dos meros mortais, como pagar o aluguel ou o que comer no dia seguinte. Talvez por isso se dessem tão bem.
“Muita gente falava que o João era maluco, que era esquisito. Que era isso, que era aquilo. Não tinha nada disso. Ele sempre foi gente muito boa, uma pessoa especial. Mais que um amigo”, me disse Waltel, em entrevista. “O João é [era] inteligentíssimo, tem [tinha] um papo bom paca. Ele só não gosta [gostava] desse negócio, de as pessoas ficarem em cima dele. Ele não entendia bem a fama. Se sentia invadido. E eu entendo bem ele nisso, também”, completou. “Esse negócio de ligar de noite, de madrugada, tinha muito. Mas e daí? É só um horário, oras”, acrescentou.
Após o especial da Globo, outros cantos do país estavam ávidos por ver João Gilberto de pertinho. No início de 1981, o empresário do músico, Krikor Tcherkesian, acertou uma curtíssima temporada de três apresentações no Theatro Municipal de São Paulo, mas os espetáculos tiveram que ser adiados. Isso porque, paralelamente, o cantor estava em estúdio para seu novo LP, Brasil – João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, mas a gravação se arrastou por longos meses. Com o álbum lançado, marcaram-se as apresentações de João na capital paulista para agosto.
Nas gravações em estúdio, João era reconhecido por suas exigências técnicas e pelo embate incessante com engenheiros e técnicos de som em busca da perfeição absoluta. Se algo não estivesse de acordo com suas aspirações, parava a sessão e batia boca com quem quer que fosse – de Tom Jobim a Stan Getz. Não por ser temperamental, mas por querer extrair o melhor de cada composição, a cada nota, e entregar uma música perfeita ao público. Nas apresentações ao vivo, no entanto, não havia essa margem de segurança. Uma vez no palco, não poderia interromper uma música para pedir que o técnico de som lhe aumentasse os graves do violão, nem ralhar com os músicos da orquestra, caso houvesse algum deslize. Por isso, João precisava se cercar de profissionais também aficionados aos detalhes. Como maestro, escolheu o velho amigo Waltel Branco. “Ele [João Gilberto] dizia que eu entendia ele por intuição. Não tinha isso, de intuição. É que a gente pensava igual sobre a música. Por isso dava certo”, sintetizou o maestro.
Em São Paulo, hospedaram-se no luxuoso Maksoud Plaza, que no fim de semana anterior havia recebido três apresentações de Frank Sinatra. Waltel conhecia o dono do hotel, Henry Maksoud, havia dois anos e sempre que ia à capital paulista o empresário fazia questão de que o maestro se hospedasse ali, nas requintadas instalações, no bairro Bela Vista. Maksoud nunca aceitou que Waltel pagasse pela estadia. O músico, em contrapartida, agraciava o empresário tocando violão para ele – a maioria das vezes, no hall do hotel mesmo, para surpresa e deleite dos hóspedes. João, por sua vez, se sentiu bem recebido. Quis saber da história do Maksoud Plaza e foi, então, informado de que o prédio fora erguido onde, antes, havia um mosteiro de freiras beneditinas. Atribuiu a isso os bons ares do hotel. “Veja você, Waltel. Um lugar onde havia tanto pensamento positivo, de bem, só podia ser mesmo um lugar assim, agradável”, disse o cantor, conforme se lembraria Waltel. O astro também se encantou com a ampla área frontal do hotel que lhe remetia à “hospitalidade brasileira, a coisa das cadeiras na calçada” e passou a eleger o Maksoud como seu hotel em São Paulo.
Enquanto João e equipe se acomodavam, o jornal o Estado de S. Paulo anunciava: “Raridade: João Gilberto no palco.” A matéria assinada por Zuza Homem de Mello abordava a expectativa em torno das apresentações. “É por sentir a preciosidade do evento que artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Pepeu e Baby Consuelo, Elis Regina, Rita Lee e Fagner, bem como público de outros estados, acorrem ao Teatro Municipal de São Paulo para ouvir o som mais importante da música brasileira dos últimos vinte anos.” E prosseguia: “Como verdadeiros acólitos de seu maior guru, todos sabem o que pode significar para cada um a experiência inusitada e rara de assistir a João Gilberto cantar e tocar; sabem que esse som único e admirado representa o mais depurado néctar que seus ouvidos podem almejar com prazer e como lição.” Anunciava, ainda, que o espetáculo teria a participação especial de Bebel Gilberto, que faria dueto com o pai em Joujoux e Balangandãs e que o repertório incluiria Estate, Baía com H (Denis Brean) e Aquarela do Brasil (Ary Barroso), além da regência e dos arranjos de Waltel.
Para as apresentações, Branco adaptou os arranjos para oito violinos, quatro violas, dois violoncelos, duas flautas e contrabaixo. Nos ensaios no portentoso Theatro Municipal, no entanto, o maestro teve que administrar uma crise, que colocou todos os músicos em estado de alerta. Em uma das passagens, o ouvido atento de João Gilberto sentiu um desconforto, como se as notas do baixo de seu violão – as mais graves – estivessem se chocando com as do contrabaixo. João interrompeu o ensaio uma, duas vezes, reclamando. Na terceira vez em que se sentiu atravessado pelas notas mal colocadas do contrabaixo, João recorreu ao maestro. “Eu não me dirijo mais a esse cidadão. Você, por favor, Waltel, vá lá e dê um jeito nisso.” Para tentar pôr panos quentes ao mal-estar, Waltel decretou intervalo, mas percebendo que o clima já azedava, previu o pior. Na volta, logo na primeira música, o contrabaixo novamente irritou João Gilberto, que gritou: “Chega! Não dá! Com você, não dá!” Antes que o amigo subisse nas tamancas, Waltel interveio. Apoiou a mão no ombro do contrabaixista, conduzindo-o para fora do palco, enquanto minimizava o episódio, ao pé do ouvido. “Olha, rapaz. Você não ligue. O João é assim, mesmo. Às vezes, ele implica.” De volta, como quem quisesse içar uma bandeira branca, o maestro achou por bem concordar com João. “Ele estava atravessando mesmo. A gente consegue outro para a apresentação”, disse Branco. O próprio maestro assumiu o contrabaixo para concluir o ensaio.
“O grave do violão do João tinha uma diferença quase imperceptível entre o momento em que ele dá a nota e o momento em que o contrabaixista dá a nota. Essa microdiferença, para o João Gilberto, era pesada. Tanto que o Bebeto Castilho, do Tamba Trio, e que já gravou com o João Gilberto, me contou isso: que não havia um casamento preciso e que o João implicava com isso”, relatou Zuza Homem de Mello, em entrevista para este livro.
No dia da estreia, o Municipal pareceu a Waltel mais imponente do que nunca. Enquanto João estava nos camarins, o maestro saiu e deu uma volta na Praça Ramos de Azevedo. Ficou mirando a arquitetura eclética da edificação, com elementos renascentistas, barrocos e de art-nouveau. Antes de se vestir para a apresentação, recebeu um chamado de João Gilberto. Chegou a pensar que pudesse ser um novo problema, mas encontrou o amigo em estado de graça. Foi uma apresentação de gala. João até implicou com as reverberações do sistema de som, mas nada que tirasse o brilho do espetáculo, que se estendeu por 22 números e 85 minutos. No dia seguinte, o Jornal do Brasil assinalou: “João Gilberto volta ao palco e é aplaudido por 1700 pessoas em São Paulo.” A matéria classificava o público de “fiel e entusiasmado” e destacava a orquestra regida por Waltel – grafado como Waltel Blanco – e as presenças de Rita Lee, o bailarino e coreógrafo Lenny Dale e “praticamente toda a família Buarque de Holanda”. A mesma edição trazia uma crítica assinada pelo jornalista José Nêumanne Pinto, que avaliava: “’Show’ irrepreensível, mesmo com som ruim.”
As três apresentações lotaram todos os assentos em veludo vermelho colocados à venda – por preços que variavam entre 500 e 2000 cruzeiros (para efeitos de comparação, um salário mínimo equivalia a 8464 cruzeiros). João cantou como se flanasse pelo teatro. Entre os números de que Waltel mais gostou estavam Wave, Retrato em Branco e Preto (Tom Jobim/Chico Buarque) e Joujoux e Balangandãs – neste último, o cantor se apresentava com Bebel, que também acompanhava o pai em outros quatro números. Da primeira à última exibição, João Gilberto parecia satisfeito com o resultado. Nos dois primeiros dias, chegou a receber cumprimentos nos camarins dos convidados mais ilustres, após o show. No domingo, no entanto, não quis saber se esperar ninguém: “Waltel, podemos sair à francesa?” E lá foram os três – além do cantor e do maestro, Bebel também bateu em retirada – brindar a série de apresentações no restaurante do Maksoud Plaza mesmo. Não pararia por aí. A batuta de Waltel ainda acompanharia João em outras apresentações importantes.
Naquela noite quente de fim do verão de 1988, Waltel escutou uma buzina soar com insistência em frente a sua casa. Pelo avançar do horário, pensou que se tratava de algo grave, uma emergência, talvez. Com cautela, saiu ao portão e, dali, viu João Gilberto, a bordo de seu Monza chumbo, ano 1987 – o xodó do cantor. Contrariando a tradição – em que costumava convencer previamente o maestro a sair em peculiares passeios noturnos –, João apareceu sem avisar: “Vamos, Waltel! Vamos dar uma volta. O violão já está aqui.” De onde estava, o arranjador viu o Di Giorgio do amigo repousando no banco de trás. Sem outro remédio, trocou de roupa e se sentou no banco do passageiro.
Desde que João comprara o Monza no ano anterior, a dinâmica das incursões noturnas dos dois tinha mudado um pouco: agora, cada qual ia ao volante de seu respectivo carro. Por isso Waltel se surpreendeu quando o velho astro pediu para que ele embarcasse, indicando que iriam ambos no mesmo automóvel. O maestro era um exímio motorista. João Gilberto, nem tanto. Mas isso não preocupava Waltel. Enquanto trafegavam em direção à Pedra de Guaratiba – de quem o cantor queria sentir as vibrações –, engataram em uma conversa entre filosófica e esotérica. João Gilberto garantiu que poderia dirigir “guiado pelas estrelas”. Fechou os olhos e, mantendo as mãos presas ao volante, seguiu conduzindo o Monza pela estrada, ora comendo faixa à esquerda, ora metendo as rodas na terra à direita. No princípio, Branco arregalou os olhos, mas não disse nada. Um bom trecho adiante, João abriu os olhos e voltou a dirigir normalmente. “Está vendo, Waltel? É só sentir a energia e ir”, explicou. Conforme soube depois, o cantor viria a exibir sua técnica de se deixar guiar pelas estrelas a outros amigos. Estes, no entanto, não reagiriam tão bem. “Eu falava que não tinha problema. O João dirigia tão mal, que tanto fazia se estava de olhos abertos ou fechados…”, zombou Waltel, na entrevista para mim.
Naquela noite, os dois foram a uma das praias mais isoladas da Pedra de Guaratiba, onde permaneceram até o meio da madrugada. Caminharam descalços, conversaram e tocaram violão. Lá pelas tantas, como de costume, João se afastou para meditar. De calça social e paletó, sentou-se em um ponto afastado, cruzando as pernas em posição de lótus, feito um iogue. Enquanto isso, Waltel ficou contemplando o mar. Quando deu por si, cadê João Gilberto? O maestro andou, andou e nem sinal do amigo. Cerca de meia hora depois, Branco começou a ficar preocupado, perguntando-se como faria para voltar. Um pouco adiante, João Gilberto reapareceu. Quando terminou a meditação, tinha tomado o carro e começado a fazer o caminho de volta. Só quando havia andado uns bons quilômetros é que se deu conta de que tinha esquecido Waltel.
“O João tinha isso. Era esquecido demais. Por isso, a gente costumava ir em dois carros. Mas como [naquele dia] a gente tinha ido só em um, aconteceu isso”, contou Waltel. “Mas quem sou eu pra falar de esquecido, né?”, completou.
Por incrível que pareça, Waltel andava apreensivo em junho de 1988. No mês anterior, havia sido convidado por João Gilberto não só para reger a orquestra, mas também para ser diretor musical de uma série de três apresentações que o astro faria no Theatro Municipal do Rio, entre 1o e 3 de julho, de sexta a domingo. A verba de patrocínio – cerca de 130 mil dólares – já havia sido assegurada pelo Chase Manhattan Bank. O projeto ambicioso ia além: previa, ainda, uma excursão pelas principais capitais do país e que culminaria em um especial da Globo e no lançamento de dois discos. Paralelamente, seria lançada uma biografia do baiano, escrita pelo jornalista Augusto Nunes. As dimensões do trabalho não assombravam o maestro. Não se tratava disso. Waltel não estava nervoso por si, mas em solidariedade ao velho amigo. A última vez que João havia dado o ar da graça em um palco fluminense havia sido doze anos antes, em 1977, em uma pequena apresentação do Teatro Fênix. Antes disso, o Rio só tinha visto João e seu violão em um show em 1962, no auge da Bossa Nova. Ou seja, Waltel sabia o quanto aquele retorno significaria para o cantor. Ao longo do mês que antecedeu os espetáculos, as ligações de João ao maestro se intensificaram, sempre com o astro manifestando preocupação detalhista com pontos de sua volta aos palcos cariocas – fosse em relação à definição do repertório, fosse alguma minúcia sobre os arranjos. Pacientemente, Branco deixava João falar, mas não deixou de notar um estado de apreensão sem precedentes no velho amigo.
Dez dias antes da estreia, começou um impasse que ganharia ares folhetinescos. Em 21 de junho, por meio de notificação judicial, João Gilberto informou os promotores da curta temporada – a Ipanema 2000 Cultural e a Hummingbird – que estava “preso ao leito” por recomendação médica, em decorrência de uma violenta gripe. A doença o impedia de ensaiar e, por conseguinte, o artista alertava para a possibilidade de a série de apresentações vir a ser cancelada, caso ele não tivesse “condição de canto”. A notificação também advertia os produtores para que não colocassem ingressos à venda com antecedência, até que João se sentisse em condições de subir ao palco.
O caso ganhou os jornais na semana em que as apresentações estavam marcadas. O Jornal do Brasil trouxe uma reportagem de capa de caderno, com um título que dava o tom do modo como a imprensa vinha tratando o caso: “O baiano misterioso.” O texto explorava passagens folclóricas de João Gilberto e, é claro, mantinha dúvidas acerca da curta temporada no Municipal. “São dias de inevitável expectativa esses que antecedem a próxima sexta-feira. Tudo pode acontecer até lá, quando o empertigado Teatro Municipal do Rio, segundo seu calendário de reservas, teoricamente deve estar recebendo o baiano João Gilberto.” Adiante, o texto narrou o “bolo” que o pai da Bossa Nova deu na temporada que ocorreria no Canecão e lançou nova dúvida no ar: “Desta vez, só Deus sabe. Ou João Gilberto. Nesses dias que antecedem a estreia, o cantor costuma mergulhar em overdose de tensão. E não há nada que o faça abandonar o exílio a que se confinou no apart-hotel do Leblon, onde mora quando está no Rio.”
O Globo também acompanhou o desenrolar da polêmica dia a dia, com uma cobertura que reforçava o estereótipo de João como um artista excêntrico. No dia 28 de junho, a matéria do jornal começava assim: “O suspense que sempre cerca as apresentações de João Gilberto volta a atacar.” Em seguida, o texto falava sobre a notificação judicial e a possibilidade de cancelamento dos espetáculos. “Um dos telefonemas garantia que o maestro Waltel Blanco [sic] estava com ele, no apart-hotel do Leblon, revendo os arranjos para o espetáculo. Outro que, deprimido com a morte do amigo Mozart Araújo, o cantor não tinha condições emocionais para se apresentar”, descrevia o jornal.
Ao mesmo tempo, Waltel começou a ensaiar a orquestra de dezessete figuras, se focando em trinta músicas das quais João escolheria seu repertório a cada dia de apresentação. Nas entrevistas que concedeu para este livro, o maestro se recordaria que João, de fato, fora acometido de uma gripe, mas que não seria nada grave, que viesse a justificar o cancelamento. O que pesava, na percepção do músico, era o nervosismo do cantor ante a apresentação, que parecia ter potencializado sua fixação com a perfeição. Paralelamente, Waltel considerava sensacionalista a cobertura da imprensa, já que João só havia cancelado uma apresentação uma única vez, por conta das péssimas condições acústicas do Canecão.
Dois dias antes da data marcada para a estreia, o jornal O Globo jogou mais lenha na fogueira. Logo na capa da edição de 29 de junho, pôs a chamada: “João Gilberto canta ou não?” A matéria ocupava a página inteira do Segundo Caderno, ilustrada com uma espécie de cédula, em que havia uma foto do cantor, sorridente, acompanhada das opções: “João Gilberto ( ) Canta/ ( ) Não canta.” Em uma das matérias, o repórter João Carlos Pedroso descrevia o ensaio da orquestra e trazia um relato de Waltel: “Liguei para acertar alguns detalhes, mas o João desconversou, começou a contar velhas histórias, a falar de namoradas, essas coisas. Ele só queria brincar o tempo todo. Resultado: passamos duas horas no telefone falando sobre nada.” Também na entrevista ao jornal, Waltel atribuía o impasse ao nervosismo de João, “afinal, faz muito tempo que ele não se apresenta no Rio”.
Em outra reportagem da página, a repórter Deborah Dumar contava que o caso poderia parar na Justiça se João não comparecesse à estreia. Àquela altura, o cantor já havia recebido um adiantamento – de 855 mil cruzeiros – e o descumprimento de cláusulas do contrato previam multas que poderiam chegar a 10 milhões de cruzeiros. A produtora queria que o astro fosse submetido a uma perícia médica, em que um foniatra constataria se João Gilberto teria condições de se apresentar. Na matéria, outro amigo do cantor, o jornalista Nelson Motta, saiu em defesa do músico. Dizia que mesmo que se recuperasse da gripe, João não teria tempo hábil para ensaiar e se preparar para a série de apresentações.
“Ele sempre se prepara exaustivamente para fazer shows, por isso os que ele faz são poucos e bons. Por isso, ele é o maior de todos os cantores e tão exigente consigo mesmo, o que faz dele um mito, não as histórias que contam dele. Não há artista que tenha mais respeito pelo público que João Gilberto, cuja garganta é um instrumento de altíssima precisão”, disse Nelsinho, ao jornal. “O único show que ele não fez em quinze anos foi o do Canecão, que tinha um som indigente, foi o único. Depois de vinte anos, ele não pode correr o risco de fazer um espetáculo ruim, seria um desrespeito ao público. Ele quer cantar, mas quer adiar, refazer o contrato”, acrescentou.
Na véspera da estreia, em 30 de junho, O Globo publicava mais um capítulo da novela, mas agora botando fim ao suspense: João não se apresentaria. O jornal trazia uma entrevista com o cantor, feita por Nelson Motta. “Quero cantar no Rio. Mas agora não posso. Cantar aqui para mim é o normal, o natural, como eu respiro aqui, eu vivo aqui, é todo um sentimento”, disse João. “No início da semana passada, caí de gripe, forte, com febre. Sem falar, sem cantar, sem praticar, sem poder conversar, discutir o repertório”, explicou, em seguida. O artista ainda narrou que havia explicado aos produtores sobre seu estado de saúde e suplicado para que não vendessem os ingressos e remarcassem as apresentações. “Expliquei a elas tudo com muito cuidado, que ninguém tem hora certa para ficar bom da gripe, que afeta o fôlego, que era melhor transferir, mas elas fizeram ouvidos de mercador. Faço outra data, outro lugar, a Sala Cecília Meirelles, o Teatro do Hotel Nacional, eu quero cantar no Rio. Mas direito. Como se fosse a coisa mais normal do mundo, sem todo esse alarde”, disse.
O “alarde” em torno do vai-não-vai das apresentações atingiram João em cheio. Mais do que magoado, o astro não entendia a espetacularização criada em torno de um simples pedido: para que se adiassem os shows. Ainda na manhã de sexta-feira, 1o de julho – data marcada da estreia –, Waltel foi ao apart-hotel, tentar convencer João a se apresentar. Além de argumentar que a orquestra estava bem ensaiada e que, nesse ponto, não haveria problemas, o maestro tentava blindar o amigo de problemas judiciais futuros, em razão da quebra de contrato. “Estão fazendo um barulhão, João. Você está vendo. Vá e faça [o show]”, insistiu o arranjador. Irritado, no entanto, João Gilberto reagiu mal. Pela primeira e única vez, bateu boca com o maestro. Não se sabe como, mas o episódio vazou e chegou a render uma nota no jornal O Globo: “João Gilberto perdeu a voz e não foi com gripe. Briga feia com o Waltel Blanco [sic]; gritou demais que odiava jornalistas, arranhando as cordas vocais. Esperamos que as do violão estejam afinadas…”
Na hora marcada para a estreia, às 21 horas, o Theatro Municipal estava lotado. Waltel e os músicos da orquestra estavam a postos, para o caso de João aparecer. Cerca de 45 minutos depois do horário previsto, os produtores subiram ao palco e anunciaram o cancelamento da apresentação. O artista, de fato, não comparecera. Por mais estranho que pareça, a plateia aplaudiu efusivamente, como se tivesse acabado de assistir ao espetáculo. No dia seguinte, O Globo dedicaria mais uma página ao caso, abrindo com o título. “João não aparece. Plateia aplaude.” Ainda na noite de sexta-feira, João telefonou a Waltel, como se nada tivesse acontecido. Não mencionaram o show do Theatro Municipal. Não se pediram desculpas. Talvez nem fosse preciso. Tudo continuava bem entre os dois.
O cancelamento dos shows foi, é claro, parar na Justiça. Em uma das audiências, Waltel foi arrolado como uma das testemunhas de João Gilberto. O maestro, no entanto, mais atrapalhou do que ajudou na defesa do amigo. Durante o depoimento, a juíza perguntou se João havia faltado às apresentações no Municipal por causa da gripe. A reação de Waltel foi a mais espontânea possível. “Ah, pelo amor de Deus, doutora! A senhora também vai cair nessa? O João não foi porque não quis mesmo…”, disse. “Era só isso que a senhora queria saber? Eu já posso ir embora?”, completou. É de se espantar como o depoimento desastroso de Waltel não tenha provocado um novo mal-estar entre ele e João.
“Ouça bem, Waltel”, pediu João Gilberto, aproximando o gancho do telefone de um pequeno gravador e acionando a tecla play do aparelho. Ao longo das próximas duas horas e meia, o que o maestro ouviu foram quatro ou cinco versões das principais músicas que entrariam no próximo disco do cantor. As faixas haviam sido gravadas em abril daquele ano – 1990 –, em sessões tranquilas, que começavam às onze da noite e se estendiam madrugada adentro, no estúdio da PolyGram. Assim que ouvia as alternativas para cada música, João queria saber qual era a opinião do amigo sobre a gravação e qual das opções lhe havia caído melhor. Com a sinceridade que só as amizades longevas permitem, Waltel dizia o óbvio: que tinha ficado ótimo. E apontava o que mais lhe tinha apetecido. “Você tem certeza, Waltel? Ouça mais uma vez”, devolvia João. Waltel ouvia.
O maestro perdeu as contas de quantas vezes recebeu ligações de João ao longo de 1990, sempre pedindo para que ele avaliasse as mesmas gravações. De bom grado, ouvia mais uma vez canções como Ave Maria no Morro (Herivelto Martins), Palpite Infeliz (Noel Rosa) e You Do Something To Me (Cole Porter), com arranjos de Clare Fischer. E não deixava de se extasiar: “Está, realmente, muito bom, João!” Mas o astro da Bossa Nova permanecia em dúvida. Aquela dinâmica, no entanto, o maestro já conhecia bem: nada mais era do que a busca incessante de João Gilberto pela perfeição.
Em fevereiro de 1991 – dez meses depois da gravação –, o cantor deu o processo de seleção das músicas por encerrado. Com a masterização concluída, o disco, enfim, foi prensado. Chegou às lojas com o título João. O álbum venderia mais de 100 mil cópias, o que legaria a João Gilberto o primeiro disco de ouro de sua carreira. Pouco depois, Waltel passou a tomar outros rumos. Os longos telefonemas entre os dois se tornariam cada vez mais raros, até que, por fim, permanecesse só o silêncio. Mesmo com os anos se passando a fio sem ouvir a voz de João, sempre que Waltel falava do velho amigo, era como se ambos tivessem se visto no dia anterior. E assim foi. Até o fim.
Os trechos acima estão na biografia de Waltel Branco, Maestro Oculto (editora Banquinho), de Felippe Aníbal, já em pré-venda