Um dos médicos que examinou Jahi concluiu que de fato seu caso justificara o diagnóstico de morte cerebral, mas que com o tempo ela havia recuperado a capacidade de “responder a comandos” ILUSTRAÇÃO: CAIO BORGES_2018
O que significa morrer?
Os esforços de uma mãe para provar que sua filha ainda está viva – e como isso colocou em questão a definição de morte cerebral
Rachel Aviv | Edição 139, Abril 2018
Antes de se submeter a uma cirurgia de amígdalas, Jahi McMath, uma garota negra de 13 anos, moradora de Oakland, na Califórnia, perguntou ao dr. Frederick Rosen quais eram suas qualificações. “Quantas vezes o senhor já fez essa cirurgia?” Centenas de vezes, o médico respondeu. “E dormiu bem essa noite?” Sim, tinha dormido bem. Nailah Winkfield, a mãe de Jahi, deu corda para ela continuar sua pesquisa. “É seu corpo”, disse. “Fique à vontade para perguntar o que quiser.”
Jahi não queria ser operada de jeito nenhum, mas a mãe jurou que a cirurgia melhoraria sua qualidade de vida. A adolescente, que sofria de apneia do sono, ficava cada vez mais exausta e dispersiva na escola. Roncava tão alto que sentia vergonha de dormir na casa de alguma amiga. Nailah havia criado quatro filhos sozinha, e Jahi, a segunda, era a mais atormentada. Quando via alguma notícia na televisão sobre guerras em outros países, perguntava baixinho: “Vai chegar aqui?” As colegas caçoavam por ela ser “troncudinha”. Jahi não protestava. Uma ou outra vez, Nailah foi até a escola pedir aos professores que controlassem os demais alunos.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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