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    7 caixas

questões cinematográficas

7 caixas – utopia realizada

A jornada de Victor termina bem. Adolescente que trabalha no Mercado 4 de Assunção, ele superou inúmeros obstáculos para cumprir sua missão – transportar sete caixas em um carrinho de mão. Com a cabeça enfaixada e usando um colar cervical, sorri, vitorioso. De forma imprevista, sua utopia se realiza diante dos seus olhos.

| 12 maio 2014_11h33
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A jornada de Victor termina bem. Adolescente que trabalha no Mercado 4 de Assunção, ele superou inúmeros obstáculos para cumprir sua missão – transportar sete caixas em um carrinho de mão. Com a cabeça enfaixada e usando um colar cervical, sorri, vitorioso. De forma imprevista, sua utopia se realiza diante dos seus olhos.

Além de Victor, personagem central de 7 caixas, o elenco reúne uma galeria de tipos de origens étnicas variadas – trabalhadores informais e formais, empregados e patrões, espertalhões e desastrados, comerciantes, policiais, médicos etc. –, todos relacionados direta ou indiretamente ao Mercado 4, locação real apresentada, em sites turísticos, como “lugar caótico e animado” onde o visitante sentirá “a atmosfera da América Latina! […] é um dos lugares mais populares de Assunção. Microcosmos onde se encontra de tudo, e não apenas produtos, mas também pessoas de diferentes procedências e culturas. […] Há tanto para ver, sentir, que só caminhando por suas estreitas vielas pode-se viver o ambiente de negócios rápidos, em dinheiro, a barganha prévia sendo, em muitos casos, um protocolo familiar.”

Nesse ambiente, a trama habilidosa de 7 caixas, co-dirigido por Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori [foto acima], a partir do roteiro original de Maneglia, equilibra retrato social e humor negro com destreza. Peripécias se desdobram em cadência progressivamente acelerada sem que o espectador saiba de início, com precisão, nem o que de fato deflagrou a ação nem exatamente o que está por trás do que vai ocorrendo. É só ao se aproximar o desfecho que, em retrospecto, tudo se esclarece e a comédia de erros tempera o realismo trágico.

Os 30 prêmios recebidos mundo afora por 7 caixas e o sucesso comercial no Paraguai fazem justiça a um filme simples, bem narrado e interpretado, sem grandes pretensões formais, nem o menor pudor em investir no exotismo da sua locação e dos seus personagens. A ambição plenamente realizada de Maneglia, ao escrever o roteiro, segundo declarou, era reproduzir um modelo: “fazer um filme com carrinhos de mão, mas ao estilo de Hollywood”. Acima de tudo, ele e a co-diretora queriam que o paraguaio se identificasse, sentindo-se refletido na história. Objetivos não só atingidos, mas ultrapassados. Ao chegar a 350 mil espectadores no Paraguai, 7 caixas bateu o recorde anterior de Titanic, visto por 150 mil no circuito de 22 cinemas existentes no país.

Referências que podem ser atuais no Paraguai, mas que em outros países soam anacrônicas, como a sedução exercida pelo telefone celular e o encantamento pela imagem televisiva, conseguem escapar do clichê, talvez por parecerem autênticas no contexto do filme. Em uma cinematografia como a paraguaia, que até hoje teria produzido apenas 25 filmes de ficção de longa-metragem, ao lado da violência ainda parece haver lugar para certa ingenuidade.

Mesmo com suas numerosas credenciais, 7 caixas só chega ao Brasil com quase dois anos de atraso, tendo sido lançado no Paraguai em agosto de 2012. A distância que separa Assunção do Rio e de São Paulo, em termos de integração cinematográfica, revela-se bem maior do que a que há entre a capital do Paraguai e San Sebastian, Toronto, Havana, Madrid etc.

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